# Marfrig e Minerva: Perspectivas do Setor de Proteína Animal
A Marfrig (MRFG3) e a Minerva (BEEF3), dois dos principais nomes do setor de proteína animal, recentemente receberam uma classificação neutra do JPMorgan, após um período de análise mais aprofundada. Para dezembro de 2025, os analistas estipularam preços-alvo de R$ 19,50 para a Marfrig e R$ 5,50 para a Minerva. Esse cenário ocorre em um momento em que a expectativa de oferta de gado nos principais países produtores, como Estados Unidos, Brasil, Argentina e China, deve se manter estável ou até mesmo sofrer uma leve diminuição.
### O Mercado de Exportação de Carne Bovina
Segundo os especialistas do JPMorgan, o mercado de exportação de carne bovina do Brasil, especialmente para a Minerva, está se beneficiando de uma combinação favorável: preços moderados na Ásia e uma valorização mais significativa na América do Norte. Informações do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) indicam que a demanda global por carne bovina permanecerá estável em 2023, ao passo que a oferta deve registrar uma leve queda de 0,8%.
Conforme os dados mais recentes, os preços de exportação da carne bovina brasileira aumentaram em 8% nos últimos três meses, alcançando a média de US$ 4,9/kg. O volume exportado também cresceu cerca de 37% em comparação ao ano anterior. Essa expansão é impulsionada principalmente pelo aumento das vendas para os Estados Unidos e outros mercados, enquanto os preços na China, um dos destinos mais importantes para a carne bovina brasileira, se mantiveram estáveis nos últimos seis meses.
### Desafios dos Frigoríficos
Nos Estados Unidos, a produção de carne bovina deve encolher 5% até o fim do ano, conforme as projeções do USDA. Essa diminuição na oferta de gado tende a manter os preços elevados, que já estão em US$ 272 por 45,36 kg (100 libras), acima do preço atual, estimado em US$ 252,8.
### Margens em Pressão e Fluxo de Caixa Livre
As margens dos frigoríficos estão sob pressão, em parte devido ao aumento das despesas financeiras. O cenário levanta a possibilidade de que tanto Marfrig quanto Minerva registrem fluxo de caixa livre negativo. No entanto, os analistas do JPMorgan apontam que a desvalorização do real e os preços crescentes da carne bovina podem gerar um efeito positivo em suas previsões.
As relações entre dívida e valor de mercado das empresas permanecem elevadas: cerca de 80% para a Minerva e 70% para a Marfrig. Essa realidade pode resultar em uma volatilidade maior para as ações. Ao mesmo tempo, a depreciação do real e o aumento nos preços da carne bovina apresentam oportunidades que podem beneficiar as projeções de curto prazo.
### A Influência da BRF
Para a Marfrig, a participação de 50% na BRF (BRFS3) é um fator relevante. Essa participação representa aproximadamente 80% do valor patrimonial da empresa e mais de 100% do fluxo de caixa livre estimado para os próximos dois anos. A estratégia da Marfrig inclui um foco nas operações de processamento de carne de maior valor agregado, como cortes especiais e hambúrgueres. Atualmente, as margens nos EUA permanecem positivas, impulsionadas pela valorização da carne bovina e pela rentabilidade nas vendas de espécimes.
### Integração e Crescimento da Minerva
Por outro lado, a Minerva, que recentemente adquiriu ativos da Marfrig, está em um momento de integração e amplia seus volumes em 35%. Apesar disso, o aumento nos preços do gado pode superar o modesto crescimento global nos preços da carne bovina, colocando pressão nas margens de lucro nos próximos anos.
### Múltiplos e Preferência de Investimento
A empresa está sendo negociada a um múltiplo de 5,3 vezes o valor total da empresa em relação ao lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EV/Ebitda) estimado para 2025, ligeiramente acima da média dos setores, que é de 4,9 vezes.
Atualmente, a ordem de preferências do JPMorgan entre as empresas do setor de proteínas é a seguinte: JBS (JBSS3), BRF, Marfrig e Minerva. A JBS é vista como a principal escolha, classificada como “overweight”, enquanto a BRF também possui uma recomendação positiva. As demais empresas estão listadas com recomendações neutras.
### Novos Mercados em Vista
Na China, o mercado de carne bovina continua enfrentando um excesso de estoques, atingindo níveis recordes, mesmo após mudanças no ciclo do gado. A recuperação nos preços é sazonal e não deve ultrapassar a marca de US$ 5/kg. O governo chinês considera a possibilidade de impor novos impostos sobre a carne bovina importada, o que poderá impactar ainda mais o setor.
O objetivo é proteger o mercado interno, que enfrenta um rebanho em declínio. Enquanto isso, o Brasil planeja expandir suas exportações para novos mercados, como Japão, Vietnã, Turquia e Coreia do Sul, que juntos representam 30% das importações globais de carne bovina, com o Japão já em fase avançada de negociações.
### Cenário de Curto Prazo
O cenário atual mostra uma estabilidade surpreendente na quantidade de gado confinado, que se mantém em níveis semelhantes aos do ano anterior. Os pecuaristas estão se beneficiando de lucros saudáveis, assegurados por custos de ração controlados e pela valorização dos animais. Isso se reflete na média recorde do peso do gado, criando um ambiente positivo para os criadores.
Os preços de cortes de carne ainda estão elevados, com valores em torno de US$ 315 por 45,36 kg. O consumo de carne moída e cortes de frente lidera o crescimento, e os consumidores têm aceitado a alta dos preços. Entretanto, segundo o JPMorgan, essa dinâmica pode resultar em uma compressão ainda maior nas margens das empresas, especialmente em 2025.
### Desafios e Iniciativas da Marfrig
Visando enfrentar os desafios do ciclo de baixa da carne bovina, a Marfrig está investindo na modernização de suas operações e na ampliação do mercado para produtos premium. Isso inclui a mecanização das operações e o incremento das exportações direcionadas à Ásia, buscando manter as margens em níveis sustentáveis mesmo em momentos de pressão.
A margem Ebitda da National Beef, subsidiária da Marfrig nos Estados Unidos, deve registrar 2% em 2025, uma leve redução de 0,3 pontos percentuais em relação ao ano anterior. Na América do Sul, o crescimento da receita pode vir acompanhado de um aumento nos custos com o gado, o que pode pressionar as margens operacionais.
### O Futuro da Marfrig
Com uma reestruturação dos ativos em curso, a Marfrig estima que metade de sua receita em 2025 virá de produtos com maior valor agregado, como cortes premium e hambúrgueres. A capacidade de abate deve aumentar de 5,1 mil para 8,4 mil cabeças por dia, além de a desossa dobrar para 11,9 mil cabeças diárias. A expectativa é que a produção de produtos industrializados cresça 20%, alcançando 22,3 mil toneladas mensais.
Este crescimento projetado deve levar a produção de carne bovina na América do Sul a atingir 900 mil toneladas este ano, gerando uma receita estimada em R$ 19,2 bilhões, com um crescimento de 20% em comparação ao ano anterior. No entanto, mesmo com esse aumento, as margens operacionais podem cair para 10,1%, resultando em um Ebitda de R$ 1,937 bilhão.
A Marfrig projeta um consumo de R$ 593 milhões em caixa até dezembro do ano passado, sem incluir as contribuições da BRF, com a expectativa de retorno ao fluxo de caixa positivo apenas em 2027.
À medida que o cenário do setor evolui, tanto a Marfrig quanto a Minerva se deparam com desafios e oportunidades que requerem uma análise cuidadosa e estratégias adaptativas. O comprometimento em inovar, aumentar a eficiência e explorar novos mercados será fundamental para assegurar um futuro próspero para as duas gigantes da proteína animal.
Em um mercado competitivo e dinâmico, é crucial que as empresas do setor continuem a se reinventar e a se adaptar às necessidades de um consumidor em constante mudança. Como você vê o futuro do setor de proteína animal no Brasil? Compartilhe sua opinião conosco!