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O Poder do Agronegócio em Mato Grosso
Mato Grosso se destaca como uma verdadeira potência no agronegócio brasileiro. Se considerássemos o estado como um país, ele ocuparia a quarta posição no ranking global de produção de soja. Com uma colheita de 42 milhões de toneladas na última safra e uma previsão otimista de 47 milhões para o ciclo atual, Mato Grosso está prestes a ultrapassar a Argentina, que atualmente colhe cerca de 50 milhões de toneladas.
Nos últimos 60 anos, o estado evoluiu de uma mera fronteira agrícola a um verdadeiro gigante no cenário global. Hoje, é líder na produção de grãos, fibras, carnes e etanol derivado do milho. Surpreendentemente, mesmo com esse crescimento acelerado, 62% da vegetação nativa continua preservada, resultado de práticas sustentáveis que incluem plantio direto, rotação de culturas, o uso de ciência e insumos biológicos, além de tecnologias como drones, inteligência artificial e big data na administração das lavouras.
Potencial Hídrico e Desafios Logísticos
Além de sua robustez agrícola, Mato Grosso possui um considerável potencial hídrico que pode ser explorado tanto para usinas hidrelétricas quanto para projetos de irrigação. Essa capacidade poderia facilitar até uma terceira safra, proporcionando o fortalecimento de culturas como o feijão e solidificando a posição de Mato Grosso no agronegócio mundial.
A história do estado é marcada por uma trajetória de pioneirismo e superação. Desde as décadas de 60, 70 e 80, brasileiros determinados avistaram no Centro-Oeste uma nova oportunidade. Com incentivos do governo, produtores de vários estados, como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais, São Paulo e Goiás, tornaram terras outrora inexploradas em um dos principais polos agropecuários do mundo.
Desbravadores da Terra
No início, o estado era um verdadeiro deserto de possibilidades. Famílias corajosas enfrentaram doenças, isolamento e infraestrutura precária, vivendo muitas vezes sob barracas. Movidas pela determinação e pelo desejo de prosperar, essas famílias fizeram história.
Entre os notáveis desbravadores estava Ariosto da Riva, responsável pela fundação de Alta Floresta, um marco na ocupação do norte do estado. Meu pai, Getúlio Vilela, também se juntou a essa onda de pioneiros em 1969, quando a cidade de Juara nem existia.
Entre outros nomes que contribuíram para o desenvolvimento do estado, Énio Pepino foi fundamental para a fundação de Sinop, enquanto José Aparecido Ribeiro estabeleceu Nova Mutum, duas das cidades que despontaram no crescimento regional. Porto dos Gaúchos, uma vez considerado um refúgio para judeus fugitivos, foi por muito tempo a única cidade no norte mato-grossense.
Alysson Paolinelli, figura essencial na criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), também teve um papel preponderante na elaboração do Plano de Desenvolvimento dos Cerrados. Em 1977, a região foi dividida, surgindo os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, com Cuiabá permanecendo como a capital. Desde então, o estado não parou de crescer, embora o desenvolvimento da infraestrutura tenha enfrentado desafios.
Logística: Um Desafio Crítico
Atualmente, um dos maiores obstáculos enfrentados por Mato Grosso é a logística. O projeto da Ferrogrão, criado em 2012, visa conectar o norte do estado aos portos do Arco Norte, em Miritituba (Pará), revolucionando a forma como a produção é escoada.
Anualmente, mais de 30 milhões de toneladas de grãos são transportadas por rodovias que estão longe de serem ideais, o que eleva os custos logísticos e contribui para as emissões de gases do efeito estufa. Com a implementação da Ferrogrão, estima-se que a emissão de carbono no transporte de grãos possa ser reduzida em até 77%, tornando o sistema mais eficiente e ambientalmente sustentável.
Uma Citação Inspiradora
O ex-presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt, que visitou o Brasil em 1913, profetizou: “O dia em que Mato Grosso tiver ferrovias, ele se tornará um gigante”. Comprovadamente, o estado já se consolidou como uma potência agropecuária, mas para liberar todo seu potencial econômico, uma malha ferroviária robusta é essencial.
A prosperidade do agronegócio tem um impacto direto nas cidades, elevando o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e criando novas oportunidades em diversos setores. O futuro é promissor, e Mato Grosso está no caminho certo para se destacar ainda mais no cenário global.
*Maressa Vilela é produtora rural, conselheira no Conselho Superior do Agronegócio (COSAG) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e co-coordenadora do Comitê de Sustentabilidade da Sociedade Rural Brasileira (SRB).
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