Nos últimos meses, a política monetária nos Estados Unidos tem sido um tema central no mercado financeiro global. Apesar do Federal Reserve (Fed) ainda estar finalizando seu ciclo de alta de juros, o mercado já precifica cortes nas taxas a partir de agosto. Essa projeção, no entanto, pode estar antecipada, principalmente quando analisamos os dados econômicos recentes, como o aperto no mercado de trabalho e a resiliência da inflação nos EUA.
Cenário Atual da Política Monetária nos EUA
Na última reunião, o Fed aumentou a taxa de juros em 25 pontos base, elevando a Fed Funds para a faixa de 5,00-5,25%. Embora o aperto monetário ainda esteja em andamento, as projeções indicam cortes de 25 pontos base a partir de agosto. Caso se confirmem, os juros poderiam fechar o ano entre 4,25-4,50%.
O sentimento de mercado encontra respaldo na desaceleração da economia americana. O setor bancário enfrenta um período de estresse, com a falência de três bancos regionais relevantes. Além disso, as chances de recessão nos próximos 12 meses permanecem elevadas, com projeções em torno de 60%.
Mercado de Trabalho: O Calcanhar de Aquiles do Fed
Apesar da expectativa de desaceleração, os indicadores do mercado de trabalho mostram uma realidade diferente. A taxa de desemprego nos Estados Unidos caiu para 3,4%, o menor patamar desde a década de 1960. Isso significa que há mais de um posto de trabalho para cada trabalhador disponível, evidenciando um mercado ainda bastante aquecido.
Outro ponto preocupante é o crescimento dos salários nominais, que avançam cerca de 4,5% ao ano, bem acima da média pré-pandemia de 3,0%. Esse movimento pressiona os custos e mantém a inflação persistente.
Inflação Resiliente: O Papel dos Núcleos de Serviços
Além do mercado de trabalho, o Fed acompanha de perto o comportamento da inflação de serviços, especialmente o chamado “supercore” (núcleo de serviços excluindo habitação). Em 12 meses, o supercore apresenta alta de 5,1%, enquanto o núcleo de serviços mais amplo está em 6,8%.
Embora os números indiquem um arrefecimento gradual, a resistência à queda é clara. Um ajuste prematuro nas taxas de juros poderia reacender as pressões inflacionárias, comprometendo o objetivo do Fed de trazer a inflação para a meta de 2%.
Mercado Pode Estar Antecipando Demais os Cortes
Apesar das projeções de recessão e das dificuldades enfrentadas pelo setor bancário, antecipar cortes de juros pode ser precipitado. Uma economia com uma taxa de desemprego historicamente baixa, aliada a uma inflação persistente nos serviços, ainda exige cautela.
O comportamento atual do mercado pode se revelar otimista demais. Se o Fed mantiver sua postura de combate firme à inflação, os cortes antecipados poderão frustrar as expectativas e impactar negativamente os ativos financeiros.
Conclusão
O cenário monetário nos Estados Unidos ainda está longe de ser óbvio. O Federal Reserve enfrenta uma combinação desafiadora de mercado de trabalho aquecido, inflação resiliente e desaceleração econômica. Subestimar esses fatores pode resultar em uma reprecificação abrupta no mercado, especialmente se os cortes de juros forem adiados.