Exploração dos Efeitos da COVID-19 na Nova Zelândia: O Relatório da Comissão Real e suas Implicações
A gestão da pandemia de COVID-19 na Nova Zelândia gerou um amplo debate e análise. Recentemente, a Comissão Real de Inquérito sobre a resposta da Nova Zelândia à COVID-19 completou sua primeira fase, mas o conteúdo das descobertas ainda está guardado em segredo. O relatório final deverá ser entregue ao governo no dia 28 de novembro, despertando a curiosidade e a expectativa da população sobre o que realmente aconteceu durante este período crítico.
Aguardando as Revelações
Brooke van Velden, ministro de Assuntos Internos e vice-líder do partido ACT, tomou uma decisão que intrigou muitos: ele anunciou que não irá divulgar os detalhes até que a segunda fase do inquérito esteja finalizada, o que pode levar até 2026. Essa programação gera inquietude, pois as expectativas em torno do relatório são altas.
O epidemiologista Tony Blakely, que preside a Comissão, já trouxe à tona uma informação importante: os mandatos de vacinação que foram implementados causaram “desvantagem e angústia significativas” para um número considerável de pessoas, e é necessário realizar uma avaliação detalhada sobre os danos potenciais em futuras pandemias.
Mandatos de Vacinação e Seus Efeitos
Introduzidos em outubro de 2021 pelo governo trabalhista de Jacinda Ardern, os mandatos de vacinação exigiam que os trabalhadores da saúde e da educação estivessem completamente vacinados, que na época se referia a três doses. Policiais e membros da Força de Defesa também estavam sob essa exigência, embora esses mandatos tenham sido posteriormente revogados após uma decisão judicial.
Um aspecto crucial levantado pelo juiz Cooke foi que não havia evidências claras de que a vacinação reduzisse significativamente o risco de transmissão da variante Omicron. O juiz afirmou que a presença de indivíduos não vacinados na população não alteraria substancialmente o risco de disseminação em órgãos públicos. Além disso, o governo não considerou alternativas práticas, como a redistribuição de funcionários que optassem por não se vacinar. Em vez disso, a rescisão de contrato era a única opção oferecida, uma tática que Cooke rotulou como desproporcional.
Impactos Econômicos e Sociais
A análise dos efeitos dos mandatos de vacinação não se limita ao âmbito da saúde, mas também se estende às consequências econômicas e sociais. Um estudo realizado pela Universidade de Tecnologia de Auckland evidenciou que a taxa de emprego entre profissionais de saúde não vacinados caiu 15% e seus salários diminuíram em 19% em comparação aos colegas vacinados. Os pesquisadores apontaram que, embora os mandatos tenham inicialmente sido implementados para aumentar a adesão vacinal, o impacto foi negativo sobre a empregabilidade e o bem-estar dos que não se vacinaram.
- Impacto no Emprego: A taxa de emprego dos não vacinados caiu significativamente.
- Queda nos Salários: Os ganhos desses profissionais também foram impactados negativamente.
Mesmo após a suspensão dos mandatos para profissionais de saúde em setembro de 2022, os efeitos sobre o emprego e os salários não foram totalmente revertidos. O estudo também indicou que esses mandatos contribuíram para aumentar a escassez de profissionais na saúde, além de gerar um descontentamento que poderia potencialmente alimentar sentimentos antivacinação.
Em um contexto mais amplo, isso é preocupante, especialmente considerando que as taxas de imunização infantil de rotina na Nova Zelândia mostraram uma queda desde o início da pandemia, o que pode levar a novas crises de saúde pública no futuro.
O Apoio Público e o Debate Social
Enquanto muitos neozelandeses apoiavam os mandatos, com uma pesquisa de 2021 revelando que 74% da população aprovação, as vozes contrárias também foram ouvidas. Em meio ao apoio popular, Blakely observa que, apesar da justificativa social para os mandatos, eles impactaram negativamente a coesão social. Ele enfatiza que ações obrigatórias, especialmente aquelas relacionadas à saúde, devem ser implementadas apenas quando os benefícios superam os danos.
O equilíbrio entre saúde pública e direitos individuais é delicado e ainda mais acentuado em tempos de crise. Blakely destaca que, embora os mandatos fossem justificados para alguns grupos, como profissionais de saúde na linha de frente e trabalhadores em locais de risco, a aplicação mais ampla desses mandatos deve ser feita com cautela.
Demandas pela Transparência
Blakely também se posicionou a favor da divulgação imediata do relatório, alegando que não há razões para mantê-lo em sigilo por mais tempo. Ele expressou otimismo, afirmando que "é perfeitamente possível que o ministro possa liberá-lo".
A primeira fase do inquérito, que durou dois anos, coletou vasto material: 13.000 envios, 1.600 testemunhos e 133.000 páginas de evidências. Agora, a segunda fase começará, abordando questões controversas, incluindo os mandatos de vacinas, processos de aprovação, segurança das vacinas, lockdowns e aquisições.
O novo líder da segunda fase será Grant Illingworth, um especialista em litígios. Ele será acompanhado por um time de peso, incluindo a economista e especialista em políticas públicas Judy Kavanagh e Anthony Hill, ex-Comissário de Saúde e Deficiência.
Reflexões Finais
Os eventos recentes na Nova Zelândia em relação à COVID-19 nos fazem refletir sobre a importância da transparência, do equilíbrio entre saúde pública e direitos individuais, e dos impactos sociais e econômicos de decisões tomadas em tempos de crise. Ao aguardarmos as revelações da Comissão e a continuidade das investigações, surgem perguntas cruciais sobre a forma como as políticas de saúde são implementadas e os efeitos que essas decisões podem ter em uma sociedade cada vez mais polarizada.
Sugerimos que os leitores discutam o tema, compartilhem suas opiniões e considerem como as lições aprendidas na Nova Zelândia podem informar futuras respostas às crises de saúde. Afinal, o diálogo aberto e construtivo é essencial para construirmos sociedades mais resilientes e coesas.