Monusco: A Nova Estrategia da ONU na República Democrática do Congo

**Por Monica Grayley***

A Missão de Estabilização da ONU na República Democrática do Congo, conhecida como Monusco, tem enfrentado desafios significativos, especialmente em um contexto repleto de desinformação. Recentemente, a missão adotou uma abordagem mais direta e envolvente com a população local, buscando fortalecer laços e confiança.

O Novo Comando e a Importância da Conexão

Em uma entrevista à ONU News, realizada em Nova Iorque, o general brasileiro Ulisses de Mesquita Gomes compartilhou sua visão e experiências desde que assumiu o comando das forças de paz, há quatro meses. Segundo ele, a colaboração entre os boinas-azuis, a população congolêsa e as autoridades locais aumentou significativamente.

“Estamos muito próximos da população, buscando um contato verdadeiro e apoiando as agências da ONU. As pessoas acreditam na importância da nossa presença e estamos ganhando o apoio não só da população, mas também de governos e autoridades locais”, comentou o comandante.

Uma Missão de Grande Escala

Atualmente, a Monusco é a maior missão de paz da ONU, contando com mais de 11 mil militares e policiais em seu efetivo. Ulisses de Mesquita Gomes é o sexto brasileiro a ocupar o posto, sucedendo o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, que deixou a República Democrática do Congo há uma década.

O foco na proteção de civis

A prioridade do comandante é clara: cessar-fogo e proteção dos civis. O leste do Congo, um dos pontos mais afetados pela violência, se tornou cenário de conflitos intensos entre o governo e grupos armados, com destaque para o M23, supostamente apoiado por Ruanda.

Esse região, rica em recursos naturais, atrai a exploração de metais preciosos e minerais raros, gerando uma disputa constante. A situação ressalta a necessidade urgente de uma solução pacífica e diplomática.

Diplomacia e Soluções Pacíficas

Ulisses de Mesquita Gomes enfatizou a importância das negociações diplomáticas e da atuação eficaz do Conselho de Segurança da ONU para encontrar uma solução política que não apenas acabe com a violência, mas também restaure a paz e a estabilidade na região.

Para ele, a combinação de esforços diplomáticos e a presença física da ONU é vital para criar um ambiente seguro para os civis. "Estamos focando em fazer um trabalho que motiva nossas tropas e mostra a importância das nossas operações", ressaltou o general.

Treinamento Militar: Uma Estratégia Fundamental

Uma das iniciativas mais bem-sucedidas da missão é o treinamento de selva oferecido por uma equipe brasileira. Desde 2018, essa equipe tem capacitado soldados congoleses em técnicas de combate em ambientes de selva.

• Impacto do Treinamento:
  • 200 soldados congoleses foram treinados apenas nos últimos quatro meses.
  • Outros 200 receberam treinamento após solicitações da própria Força Armadas do Congo.

"O objetivo é equipar as Forças Armadas congolesas para que possam proteger a população local", disse Gomes, acrescentando que essa troca de conhecimentos fortalece tanto as tropas quanto a confiança da população na segurança.

Reconhecimento do Poder Suave

O general também enfatizou a relevância do “soft power” ou poder suave, conceito muito discutido nas relações internacionais. Para Ulisses, a presença pacífica da ONU na região é uma forma de construir confiança e respeitar os direitos humanos, em vez de recorrer à força. Ele destacou que a missão busca ganhar "corações e mentes" através de ações positivas.

Desafios e Avanços no Terreno

A situação no leste do Congo, no entanto, permanece complexa. Com o controle de áreas por grupos armados, a implementação do mandato da Monusco não é tarefa fácil. Apesar das adversidades, o general acredita que a atuação bem-sucedida nas áreas sob controle é um indicativo das capacidades da missão.

“Estamos lutando contra desinformação e preconceitos. É essencial que a população perceba que estamos aqui para protegê-los e que nossa missão é legítima”, afirmou, ressaltando a importância de desmantelar as fake news que ameaçam a segurança e o trabalho da missão.

O Futuro da Monusco e o Papel do Brasil na Missão

O papel do Brasil na Monusco é significativo, não apenas pela quantidade de tropas envolvidas, mas também pela expertise que esses soldados trazem consigo. O histórico de missões de paz brasileiras e a reputação do Exército no cenário internacional são cruciais para a credibilidade da Monusco.

Conclusão

O cenário de paz na República Democrática do Congo é delicado, mas com esforços contínuos e um foco em diplomacia, proteção e treinamento, há esperança para um futuro mais seguro para todos. A presença da Monusco, com seu comprometimento e estratégias inovadoras, é um passo importante nesse caminho.

Leia mais sobre a atuação da Monusco e a trajetória do general Ulisses de Mesquita Gomes – suas experiências e desafios são um reflexo da resiliência e da esperança que permeiam a luta pela paz na região.