Crise na Fronteira: Como a Criminalidade na América Latina Impactou as Últimas Eleições nos EUA
A eleição presidencial americana de novembro passado foi profundamente influenciada por questões que, à primeira vista, podem parecer distantes dos interesses do eleitorado. Enquanto conflitos como os de Gaza e da Ucrânia ganharam atenção, o que realmente moldou as escolhas dos votantes foi a crise na fronteira sul dos Estados Unidos. A escalada da violência e do crime organizado na América Latina, particularmente a atuação das mafias, jogou um papel central na decisão de muitos eleitores.
O Peso da Imigração nas Eleições
Um fator crucial que ajudou Donald Trump a se sobressair foi seu discurso firme sobre imigração. A preocupação com o aumento da imigração não documentada a partir de 2020 ressoou fortemente entre os eleitores, especialmente em um cenário em que as promessas de Trump giravam em torno do fechamento da fronteira e de um programa de deportação em larga escala. Esse foco não apenas mobilizou sua base, mas também atraiu eleitores indecisos, que se sentiram incentivados a votar nele devido à sua posição sobre o tema.
Os democratas, por outro lado, temiam que o apoio a causas como Gaza pudesse custar-lhes a eleição, especialmente entre comunidade árabe-americana em Michigan e entre estudantes universitários. Contudo, a real preocupação se revelava entre jovens homens, eleitores sem diploma universitário e latinos. Esses grupos apontaram a imigração e a questão da fronteira como uma das principais razões para não apoiarem Kamala Harris.
Em Busca de uma Explicação Mais Profunda
É importante reconhecer que a chamada "crise na fronteira" não é uma entidade isolada. O aumento maciço de migrantes fugindo da América Latina é, em grande parte, uma consequência direta da crescente influência de grupos criminosos na região. A combinação do surgimento das mafias e de estados mafiosos antes até desconhecidos tem forçado milhões a buscar segurança e oportunidades no norte.
Trump conseguiu explorar o medo e a frustração que permeavam o eleitorado, um feito que o levou a vitórias anteriores. Ele se beneficiou da crescente sensação de insegurança, tornando a imigração um tema central de sua agenda política.
O Passado Brilhante da América Latina
É impressionante pensar que há apenas uma década, a América Latina parecia estar em um caminho promissor. Depois de décadas de queda econômica e instabilidade política, muitos países da região estavam experimentando crescimento. O Produto Interno Bruto (PIB) real crescia a taxas superiores a 3% anualmente, a inflação estava sob controle, e a pobreza havia caído significativamente. A região parecia estar consolidando sua democracia, com uma mudança notável na dinâmica política.
Entretanto, sob essa superfície promissora, uma nova realidade se desenhava. A ascensão do crime organizado começou a afetar a estabilidade, à medida que cartéis e mafias se tornaram mais poderosos, alimentados pela demanda global por drogas e produtos ilícitos.
A Explosão do Crime Organizado
A década de 2010 testemunhou um crescimento sem precedentes do crime organizado na América Latina. Com a demanda por drogas e outros produtos ilegais nas alturas, os cartéis e mafias começaram a proliferar. Esse crescimento não foi mera coincidência; ele decorreu de uma combinação de fatores, incluindo a infiltração dos grupos criminosos nas instituições estatais e a corrupção crescente entre os líderes regionais.
- Os Impactos das Mafias:
- Conflitos entre grupos criminosos resultaram em um aumento no nível de violência, especialmente na América Central.
- A corrupção permitiu que esses grupos operassem com pouco medo de repressão.
- A economia informal começou a dominar, resultando em insegurança e instabilidade.
Com governos fracos e ineficazes, muitos cidadãos se viram obrigados a fugir de suas casas, buscando uma vida mais segura e oportunidades melhores.
O Papel da Imigração em Tempos de Crise
A pandemia de COVID-19 acabou por agravar ainda mais a situação já crítica. Escalou a saída de pessoas de países como Venezuela, onde mais de cinco milhões já haviam deixado seus lares até 2020. A combinação da crise econômica, violência e repressão tornou a vida insuportável para muitos, levando a um aumento significativo da migração em busca de refúgio e estabilidade.
Além disso, a migração não se restringe apenas aos países mais afetados como a Venezuela. O aumento dos números de migrantes oriundos de El Salvador, Guatemala e Honduras se tornou evidente, levando a uma realidade em que a diversidade demográfica nos EUA estava mudando radicalmente.
Impacto nos EUA
A chegada de milhões de migrantes da América Latina começou a elevar os números de imigração nos Estados Unidos, com 2,6 milhões de chegadas em 2022 e 3,3 milhões em 2023. Apesar de algumas narrativas atribuírem a alta imigração ao aumento de crimes e pobreza, dados mostraram que esses novos imigrantes tiveram um impacto mínimo nas taxas de inflação ou no aumento do custo de vida.
Entretanto, a percepção da crise na fronteira gerou um clima de descontentamento, levando muitos cidadãos a enxergar a imigração como uma ameaça. Isso se refletiu nas eleições, onde a posição de Trump em relação ao controle da fronteira capturou a atenção do público.
Reflexões sobre o Futuro
A reeleição de Trump promete um alinhamento em sua política externa que dará prioridade ao controle da imigração e ao combate ao crime organizado. Essa abordagem, que pode ser descrita como "primeiro a fronteira", foca em interromper o fluxo de refugiados e migrantes. Se bem-sucedida, essa política poderá ter consequências de longo prazo tanto para a América Latina quanto para os EUA.
Entretanto, muitos se questionam se abordagens severas como tarifas contra o México ou uma militarização ainda maior da fronteira serão eficazes numa região já afetada por instabilidades. O histórico de políticas rígidas não mostra que elas sejam a solução definitiva para a migração impulsionada por crises.
O Caminho para a Estabilidade
A verdadeira solução para os problemas de imigração pode estar em abordar as raízes da questão: lutar contra a corrupção e o fortalecimento dos grupos criminosos que levaram milhões de pessoas a deixar suas terras. Isso exigiria um esforço coletivo e constante, envolvendo a colaboração com outros países para enfrentar a demanda por produtos ilegais e o tráfico de armas.
Por último, torna-se essencial que os líderes dos EUA e da América Latina se unam para desmantelar essas redes criminosas e trabalhar para a construção de uma região mais segura, onde as pessoas não precisem deixar suas casas em busca de uma vida melhor. Sem essas ações, a incerteza e a desordem provavelmente persistirão, desafiando a capacidade americana de liderar o mundo.
Agora, com a nova dinâmica política estabelecida e a realidade das fronteiras e migrações em foco, fica a pergunta: como os Estados Unidos e seus vizinhos decidirão enfrentar essa crise complexa e criar condições que favoreçam a estabilidade para todos?