No dia 3 de outubro de 2023, o líder supremo do Irã, Ali Khamenei, fez um discurso impactante para uma plateia repleta de autoridades governamentais e visitantes internacionais em Teerã. Ao finalizar suas declarações, Khamenei direcionou seu foco para Israel, a imagem do inimigo declarado pela República Islâmica. Citando um versículo do Alcorão, ele afirmou que o estado judaico “morreria de [sua] raiva”, e lembrou ao público a descrição feita pelo fundador da teocracia iraniana, Ruhollah Khomeini, que chamou Israel de um “câncer”. Para encerrar, Khamenei fez uma previsão ousada: “Esse câncer será definitivamente erradicado, se Deus quiser, pelas mãos do povo palestino e das forças de resistência em toda a região.”
Quatro dias depois, sirenes ecoaram enquanto foguetes eram disparados de Gaza em direção ao sul de Israel. Mais de 1.000 militantes palestinos cruzaram a fronteira, utilizando motocicletas, jipes, lanchas e até mesmo paraquedas. Em menos de 24 horas, os ataques resultaram na morte de 1.180 israelenses e na captura de 251 outros. O massacre, realizado pelo Hamas e por outros lutadores palestinos, foi o ato de violência anti-judaica mais letal desde o Holocausto. Essa onda de brutalidade provocou uma resposta militar feroz de Israel, que eliminou a liderança do Hamas e causou a morte de dezenas de milhares de civis palestinos, devastando a infraestrutura de Gaza.
O Papel do Irã no Novo Cenário de Conflito
Embora Teerã não tenha participado diretamente do ataque de 7 de outubro, os líderes iranianos estavam ansiosos para explorar as consequências desse evento, na tentativa de tornar a profecia de Khamenei em realidade. Inicialmente, o Irã seguiu seu plano habitual: manter uma postura diplomática de aparente contenção, enquanto incentivava suas milícias por meio de ações contra Israel. Contudo, em 13 de abril, os líderes iranianos mudaram de estratégia, realizando um intenso bombardeio de mísseis e drones contra Israel – sendo esta a primeira vez que o Irã atacou diretamente o território israelense de sua própria base.
Israel, contando com a colaboração dos Estados Unidos e países árabes, conseguiu conter esses ataques de forma eficaz. Em resposta, lançou represálias contra o Irã e suas milícias, sem provocar mais ataques, gerenciando a escalada de forma hábil. A queda do regime do presidente sírio Bashar al-Assad fortaleceu ainda mais a posição superior de Israel sobre o Irã. No entanto, a história indica que a República Islâmica não se deixará intimidar facilmente. Em vez disso, a normalização dos conflitos militares diretos entre Irã e Israel representa uma mudança sísmica, criando um equilíbrio profundamente instável. Um cenário onde os ataques diretos se tornem mais frequentes aumenta as chances de um conflito em larga escala entre os dois países, o que poderia atrair os Estados Unidos e causar danos devastadores à região e à economia global.
Uma Relação que Mudou
Historicamente, Irã e Israel não foram sempre inimigos mortais. Durante o reinado de Mohammad Reza Shah Pahlavi, que governou o Irã até a revolução de 1979, Teerã desenvolveu um relacionamento de segurança e cooperação econômica com o estado israelense. Em contrapartida, líderes israelenses buscavam o Irã para mitigar seu isolamento internacional e contrabalançar a hostilidade dos vizinhos árabes.
A revolução iraniana inverteu essa dinâmica. Os novos governantes do Irã, oriundos do clero xiita, passaram a desprezar Israel, alguns inclusive viam o país como um infrator infiel, sustentando teorias da conspiração anti-semita. Khomeini, ao pregar contra Israel como um inimigo do Islã, solidificou essa nova ideologia que se tornaria central na política iraniana.
O Papel do Hezbollah e a Resistência Palestina
Sob a liderança de Khomeini, a República Islâmica não apenas alimentou esse ódio ideológico, como também se empenhou em desestabilizar a ordem regional e apoiar povos oprimidos, em particular os palestinos. A primeira grande ação foi a intervenção no Líbano durante a Guerra Civil, seguindo a invasão israelense em 1982. O Irã começou a fornecer ajuda militar ao Hezbollah, criando um modelo de atuação que envolvia bombardeios suicidas, assassinatos e sequestros.
A relação tensa entre os dois países se intensificou ao longo dos anos, especialmente em resposta a ações da administração dos EUA que buscavam conter o Irã. O acordo nuclear de 2015, que tinha o propósito de limitar o programa nuclear iraniano, foi um marco, mas não impediu que os conflitos continuassem a evoluir. As intervenções militares americanas na região em países como Afeganistão e Iraque facilitaram um espaço maior para o Irã e suas manobras.
Um Cenário de Conflito em Alta
Nos últimos anos, Israel aumentou suas operações em resposta ao fortalecimento das capacidades iranianas. Israel, por muito tempo, evitou confrontos diretos, mas a escalada de tensões levou a ataques cirúrgicos e operações clandestinas. O assassinato do líder da Força Quds, Qasem Soleimani, em 2020, parecia um golpe devastador, mas não estancou o ímpeto do Irã nem sua rede de aliados.
A atuação do Irã e a resposta de Israel nos últimos tempos indicam que ambos os países se encontram em um ciclo vicioso de retaliações. Recentemente, após um bombardeio israelense a um consulado iraniano, Teerã reagiu com um ataque direto a Israel, disparando uma quantidade sem precedentes de mísseis. Mesmo com toda a capacidade de retaliação, Israel conseguiu neutralizar essa ameaça, mostrando o poder de sua aliança com os países árabes vizinhos.
Desafios Futuramente Improváveis
Embora Israel tenha obtido vitórias notáveis, a retórica de ambos os lados reflete uma determinação de garantir a sobrevivência do seu estado diante do outro. Khamenei e Netanyahu projetam força ao falarem sobre a situação, mas a realidade é que ambos os lados enfrentam dificuldades imensas. Enquanto Israel se fortalece, o Irã procura maneiras de se reerguer após as recentes perdas, inclusive considerando a possibilidade de desenvolver armas nucleares.
A administração de Donald Trump, que assumirá em breve, tem a intenção de adotar uma postura mais agressiva em relação ao Irã, prometendo uma nova onda de sanções e uma abordagem militar mais direta. O cenário pode ressoar no mundo, mas a instabilidade criada por uma nova administração pode ser arriscada, especialmente em uma região repleta de interesses conflitantes.
Um Olhar para o Futuro
Portanto, a relação entre Irã e Israel está em um ponto crítico. A dinâmica atual permite que ambos os lados se envolvam em um conflito que pode inflar ainda mais e ter consequências catastróficas. A contínua rivalidade entre esses dois países, unida às complexidades da política internacional, exige atenção internacional urgente. Enquanto isso, cabe a nós, espectadores do mundo, ficarmos vigilantes e questionarmos o que pode vir a seguir. O futuro se mostra incerto e intrigante, e a possibilidade de acordos ou de uma escalada no conflito permanece no horizonte.