quarta-feira, janeiro 15, 2025

O Que a Ásia Pode Ensinar ao Mundo Sobre o Impacto do America First de Trump?


O Efeito da Volta de Donald Trump na Geopolítica Asiática

A possibilidade de Donald Trump retornar à presidência dos Estados Unidos é encarada de forma dramática na Europa, com temores sobre a quebra de alianças e as mudanças econômicas. Por outro lado, países que estão frequentemente em desacordo com os EUA, como China, Irã, Coréia do Norte e Rússia, veem essa transição como uma chance para fortalecer suas agendas antiocidentais. Contudo, há uma parte do mundo, principalmente na Ásia, que observa esse retorno de maneira mais serena.

Em diversas nações asiáticas, desde o Japão e Coréia do Sul até o Sudeste Asiático e a Índia, a ascensão de uma segunda administração Trump não provoca as mesmas reações intensas que se observam no Ocidente. As preocupações sobre tendências autocráticas e desprezo por ideais liberalistas são muito menos evidentes por lá. Isso se deve ao fato de que as relações entre esses países e Washington são fundamentadas em interesses mútuos, e não em valores comuns. Essa abordagem harmoniza-se com a política exterior transacional de Trump, priorizando benefícios recíprocos em vez da manutenção de uma ordem internacional liberal. Na verdade, muitos países asiáticos manifestam uma visão ambivalente sobre essa ordem, e quando falam em uma “ordem baseada em regras”, o significado é significativamente diferente do que se entende no Ocidente.

UM HEGEMÔNIO HESITANTE

Para muitos países asiáticos, a estratégia “América em primeiro lugar” de Trump ressoa com a política dos EUA nas últimas cinco décadas. Em 1969, o presidente Richard Nixon apresentou uma nova tática para lidar com aliados na região, especialmente à luz da guerra do Vietnã, onde ele afirmou que a responsabilidade pela defesa militar deveria recair sobre as próprias nações asiáticas, exceto em casos de ameaças nucleares por potências maiores.

  • Nixon enfatizou que os Estados Unidos manteriam uma presença militar na região, mas os países asiáticos deveriam assumir maior responsabilidade por sua própria segurança.
  • Esse conceito de ser um “balanceador de forças offshore” caracterizou, em grande parte, a política dos EUA na Ásia desde então.

Com o tempo, essa abordagem influenciou o modo como os países da região enxergam o papel dos EUA. Muitos veem Washington não como um hegemon intervencionista, mas como uma potência relutante em usar a força militar e que age de acordo com seus próprios interesses. Apesar de sua essencialidade para a manutenção da estabilidade, os líderes asiáticos muitas vezes questionam a confiabilidade dos EUA, especialmente em momentos de incerteza geopolítica.

Desde o início do século XXI, essa filosofia foi aplicada em outras regiões também. Embora os presidentes Obama e Trump não tenham conseguido se desvincular das aventuras de construção de nações a que George W. Bush se dedicou, a administração Biden conseguiu uma mudança significativa ao ordenar a retirada dos EUA do Afeganistão em 2021. Recentemente, na Ucrânia e no Oriente Médio, os EUA proporcionaram apoio militar e dissuasão a seus aliados, mas sem compromisso com a presença de tropas em solo.

O QUE ESPERAR DE TRUMP 2.0

Com a nova administração Trump, as nações asiáticas não têm motivos fortes para temer mudanças drásticas. As bases da política dos EUA em relação ao continente já estão consolidadas e, em muitos casos, têm apoio bipartidário. Assim, qualquer nova política será provavelmente uma continuação das iniciativas anteriores. Entretanto, há três áreas que merecem especial atenção: Taiwan, tarifas e liderança regional.

A Questão de Taiwan

Um ponto crítico pode ser a política em relação a Taiwan. Enquanto Biden rompeu com a histórica “ambiguidade estratégica”, indicando que defenderia Taiwan de uma possível agressão chinesa, Trump pode adotar uma postura mais pragmática. Ele já manifestou que Taiwan, por estar distante, deve arcar mais com os custos de sua proteção e que pode usá-la como moeda de troca em negociações comerciais com a China. Isso levanta preocupações acerca de sua visão de Taiwan como um mero peão em um tabuleiro geopolítico.

Tarifas e Implicações Econômicas

Os países asiáticos estão particularmente atentos às políticas tarifárias, pois Trump tem um histórico de utilizar tarifas como ferramenta de negociação, especialmente com a China. Novas tarifas poderiam facilmente serem impostas a países que apresentam superávits comerciais com os EUA, aumentando as tensões entre potências.

  • Caso a China reaja, isso pode criar um ciclo econômico difícil, especialmente com a atual fragilidade da economia chinesa.
  • A introdução de tarifas adicionais pode acirrar a competição e trazer consequências para a estabilidade econômica da região.

Quem Liderará na Região?

Atualmente, a necessidade de liderança é uma questão premente. Os principais aliados dos EUA na Ásia, como Austrália, Japão e Coréia do Sul, enfrentam lideranças politicamente fracas, o que levanta dúvidas sobre quem poderá guiar a região em tempos de incerteza crescente.

O impacto do retorno de Trump é um fenômeno que transcende a política de segurança; ele afetará a forma como os países asiáticos se relacionam com os EUA e entre si. Apesar dos desafios, as nações da região têm mostrado resiliência, adaptando-se a novas realidades geopolíticas.

A experiência histórica de muitos países asiáticos com os EUA os leva a crer que, independentemente de quem ocupe a Casa Branca, o papel dos EUA será fundamental na manutenção da estabilidade regional. Além disso, a dinâmica entre Washington e Pequim continuará a ser um fator determinante. Com isso, os países no continente devem se preparar para uma nova era de competição e colaboração, sempre vigilantes quanto às suas próprias prioridades e necessidades.

Agora, mais do que nunca, o que se espera é um diálogo aberto e produtivo entre os países, onde todos possam encontrar seu espaço e contribuir para uma convivência harmoniosa. O futuro da Ásia e sua relação com os EUA dependerão da habilidade de seus líderes em navegar esses tempos desafiadores e incertos. Qual será o papel de cada um nesse novo cenário? O tempo dirá.

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