A Influência da Guerra na Ucrânia nas Relações da China
A guerra na Ucrânia continua a impactar profundamente as relações internacionais, especialmente no que diz respeito à China. A visita de líderes europeus a Pequim recentemente destacou um momento crucial nas relações entre China e Europa, conforme mencionado por Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia. Para a Europa, a proximidade da China com a Rússia e seu apoio percebido ao esforço de guerra russo têm criado barreiras significativas. António Costa, presidente do Conselho Europeu, enfatizou a necessidade de que a China “use sua influência sobre a Rússia para respeitar a Carta das Nações Unidas e acabar com a guerra de agressão contra a Ucrânia.”
Tentativas de Mediação e Desafios
Apesar de algumas iniciativas dos líderes chineses para mediar um acordo de paz, a verdade é que têm encontrado dificuldade em trazer um desfecho para o conflito. Embora haja um desejo significativo de que a guerra termine entre os funcionários chineses, a probabilidade de um papel proativo da China na resolução da crise é baixa. A falta de consenso sobre a guerra entre acadêmicos e o público chinês torna a situação ainda mais complicada. As relações estreitas da China com a Rússia e sua cultura estratégica dificultam pressionar Moscou por concessões que possam favorecer a Ucrânia. Com o passar do tempo, a crescente tensão entre China e Europa se torna cada vez mais difícil de resolver.
Divisões Internas na China: Diferentes Perspectivas sobre o Conflito
Avançando para recentemente, após quarenta meses de guerra, as visões na comunidade estratégica da China, incluindo políticos, acadêmicos e especialistas, variam bastante. As plataformas de mídia social chinesas estão repletas de debates acalorados entre simpatizantes da Rússia e da Ucrânia.
Visão a favor da Ucrânia: Para alguns, a guerra representa uma violação da integridade territorial da Ucrânia pela Rússia. Muitos na China, devido à história de invasões que marcaram seu passado, têm empatia com a Ucrânia. O discurso diplomático chinês enfatiza o compromisso com a soberania nacional e a oposição ao uso da força, alinhando-se à posição ucraniana e desafiando a ação da Rússia, que transgride as leis internacionais.
Perspectiva histórica: Outros veem o conflito como parte de uma reestruturação contínua da região desde o fim da Guerra Fria. As antigas repúblicas soviéticas, agora independentes, ainda compartilham laços profundos. Para aqueles que veem a guerra dessa maneira, é um reflexo das preocupações históricas da Rússia que foram ignoradas pelo Ocidente. O avanço ocidental sobre o espaço geopolítico tradicional da Rússia após a Guerra Fria, junto com a forma como a segunda guerra do Kosovo foi gerida, é considerado um grito de agravo que influenciou a atual situação.
Para muitos cidadãos chineses, a perspectiva de que a Rússia enfrenta uma “cercadura” por parte do Ocidente é familiar, pois muitos sentem que a China está passando por um processo de contenção similar. Ao longo dos últimos anos, a pressão dos Estados Unidos e da Europa sobre a China se intensificou, levando a um sentimento de que os EUA não desejam o surgimento de uma China forte. Isso cria uma conexão emocional com as ações da Rússia, que muitos veem como uma resistência ousada.
A Parceria Complexa com a Rússia
É importante ressaltar que a China não desejou esta guerra. Antes do conflito, mantinha relações amistosas tanto com a Rússia quanto com a Ucrânia. Durante a guerra, a China continuou a comércio com ambos os países. Apesar de muitos observadores ocidentais focarem nas relações da China com a Rússia, a China ainda é o maior parceiro comercial da Ucrânia, com um comércio bilateral que alcançou quase 8 bilhões de dólares em 2024.
No entanto, a Rússia continua a desempenhar um papel mais crucial na estratégia de política externa da China. Como uma potência nuclear e com uma extensa fronteira terrestre compartilhada, a relação entre os dois países é vital. O comércio anual entre China e Rússia gera cerca de 250 bilhões de dólares. As ações dos EUA e da Europa em relação à guerra têm, paradoxalmente, aproximado os dois países ainda mais, levando a uma percepção negativa da China sobre as nações ocidentais.
Vale a pena destacar que essa parceria não é simples. Embora os líderes chineses frequentemente se refiram a uma “parceria sem limites”, esse termo tende a ser mais uma expressão retórica do que um reflexo da realidade das relações. Disputas e divergências são comuns em qualquer aliança, e os desafios dentro da relação sino-russa são evidentes. O crescimento do comércio bilateral, por exemplo, começou a estagnar e até mesmo a cair na primeira metade de 2025.
Potencial para a Paz: O Papel da China
A teoria sugere que a China possui um papel único e potencialmente significativo como mediadora. Historicamente, o país tem tomado um papel mais ativo na mediação de conflitos internacionais, como a restauração das relações entre Irã e Arábia Saudita. Se Beijing conseguisse mediar um acordo entre Rússia e Ucrânia, isso poderia representar um grande passo em direção a uma melhora nas relações da China com a Europa, além de proporcionar uma imagem positiva no cenário internacional.
Entretanto, na prática, essa hipótese se depara com limitações. A posição da China é mais secundária, com a possibilidade de participar de um processo de paz em um nível menor, caso convidada. As verdadeiras partes envolvidas, Rússia e Ucrânia, precisam estar dispostas a negociar, e os desafios em garantir a segurança no pós-conflito são complexos.
Desafios das Relações Sino-Ocidentais
A relação da China com a Rússia limita sua capacidade de agir com eficácia como mediadora. A retórica diplomática chinesa geralmente evita criticar aliados. Além disso, suas relações tensas com os EUA e a Europa podem dificultar ainda mais qualquer tentativa de mediar a situação. Por medo da influência chinesa, é possível que a Ucrânia e os países ocidentais resistam a permitir que a China assuma uma posição de liderança nas negociações de paz.
O Futuro das Relações com a Europa
A guerra na Ucrânia permanece como um dos principais obstáculos nas relações entre China e Europa. Com o surgimento da estratégia da União Europeia de ver a China como rival e parceira, a parceria se mostrou mais desafiadora de se desenvolver. O ambiente cultural negativo que surgiu com a guerra tornou a tarefa de melhorar essas relações ainda mais difícil. A China está relutante em mudar sua postura em relação à Russia, mesmo que isso signifique um custo nas relações com a Europa.
Assim, o desenlace da guerra moldará a dinâmica entre as ex-repúblicas soviéticas, impactando a arquitetura de segurança da Europa. Se a Rússia sair enfraquecida, isso poderá favorecer um alinhamento maior de alguns países com a União Europeia, enquanto uma vitória favorável a Moscou pode consolidar seu controle sobre a região.
Conforme a China busca um ambiente regional estável que promova seus interesses comerciais, a incerteza pós-guerra coloca em xeque essa estabilidade. A análise estratégica em Pequim continua a debater como se preparar para realinhamentos futuros.
A abordagem da China, que se mostra neutra e até passiva em um conflito não desejado, não aliviou tensões. Ao contrário, o conflito exacerbou antagonismos entre as grandes potências: China, Rússia, Estados Unidos e Europa. Enquanto a guerra continuar, reverter esse cenário continua sendo um desafio. A situação exige uma reflexão profunda para que possamos ponderar sobre suas implicações e como podemos avançar para um futuro mais pacífico.