O Retorno de Donald Trump: Impactos no Oriente Médio e o Desafio para a Jordânia
A volta de Donald Trump à Casa Branca trouxe uma nova onda de incertezas ao Oriente Médio, especialmente em um cenário já delicado desde o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023. As tensões aumentaram ainda mais quando Trump anunciou planos controversos para lidar com o conflito em Gaza, envolvendo a realocação da população palestina. Esse desenvolvimento não só desafiou a estabilidade da região, mas também colocou a Jordânia em uma posição delicada entre os interesses norte-americanos e as demandas de seu próprio povo.
A Proposta Controversa de Trump
Após assumir o cargo, Trump buscou extinguir a USAID e congelar a ajuda estrangeira, exceto para Israel e Egito. Em uma reunião com o rei Abdullah II da Jordânia, propôs uma solução radical para Gaza: "limpar" a área, assumir a posse dos Estados Unidos e remanejar toda a população gazana para países árabes vizinhos. Essa sugestão foi prontamente rejeitada por Abdullah, que teve o apoio de outras potências árabes, como Egito, Catar, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. O rei desafiou a afirmação de Trump de que a Jordânia estava disposta a colaborar.
O Ponto de Vista Jordaniano
Historicamente, a Jordânia tem sido um aliado próximo dos Estados Unidos, desfrutando de um tratamento preferencial em termos de ajuda financeira e cooperação militar. No entanto, a proposta de Trump desencadeou uma onda de descontentamento tanto dentro do governo quanto entre a população. O governo da Jordânia se viu forçado a navegar entre os apelos da sua população e a manutenção das relações com um aliado poderoso. A rejeição à ideia de um "reassentamento forçado" de palestinos para a Jordânia é, na verdade, uma questão de soberania e identidade nacional, algo que ressoa profundamente entre os jordanianos.
Relações Históricas: Uma Aliança Fragilizada
Por quase 70 anos, os presidentes dos EUA e os reis da Jordânia cultivaram uma relação de amizade. Desde a primeira reunião de King Hussein com Dwight Eisenhower, até a cooperação militar e econômica contínua entre Washington e Amã, essa aliança é pautada pela busca de segurança em uma região marcada pela instabilidade.
Contudo, a primeira presidência de Trump já havia tensionado essa relação, especialmente com cortes na ajuda a agências como a UNRWA, que fornece assistência a refugiados palestinos e operava em Gaza, na Cisjordânia e na Jordânia. A expectativa de que a eleição de Joe Biden restauraria a posição da Jordânia como um aliado valioso se dissipou rapidamente, à medida que as tensões no Oriente Médio se intensificaram novamente, com a interrupção do financiamento à UNRWA logo após os eventos de outubro.
Pressões Internas e Críticas Externas
O governo da Jordânia, tradicionalmente criticado por ceder às exigências dos EUA, enfrenta uma onda crescente de descontentamento popular. Organizações de oposição exigem mudanças drásticas nas políticas do governo, pedindo o fim da paz com Israel e a expulsão de tropas estrangeiras. As críticas se intensificaram quando ações do governo, como a interceptação de mísseis iranianos, foram vistas como reafirmações de uma aliança que muitos consideram prejudicial para a soberania jordana.
Um Chamado à Unidade
A repulsa geral à proposta de Trump reuniu diversas facções políticas, gerando um raro consenso em torno da recusa à transferência forçada de palestinos. Para muitos jordanianos, essa perspectiva é um eco inquietante do que se conhece como a "opção Jordânia", um plano de deslocamento do problema palestino às custas do reino. O povo jordaniano, independentemente de sua orientação política, vê essa possibilidade como uma traição à sua identidade nacional e um questionamento da sua própria segurança.
Os Riscos Econômicos e Sociais
A proposta de Trump de movimento de massas de refugiados não só criaria um desafio humanitário impossível de ser gerido, mas também teria repercussões diretas na economia da Jordânia. O congelamento da ajuda dos EUA acentuará as dificuldades econômicas existentes e poderá desestabilizar ainda mais o país, que recebe auxílio internacional para serviços essenciais e para a manutenção de projetos de desenvolvimento.
Diante disso, é improvável que qualquer incentivo que os EUA possam oferecer torne a aceitação de refugiados uma opção viável. A combinação de uma economia já frágil e o temor de uma mudança demográfica significativa coloca a Jordânia em uma situação insustentável.
A Necessidade de Uma Nova Abordagem
O apelo à unidade do povo jordaniano deve servir como um sinal de alerta para os Estados Unidos. Ignorar os sentimentos e as posições da Jordânia em meio à proposta de Trump pode intensificar a crise e, em última instância, prejudicar a posição dos EUA na região.
Há uma necessidade urgente de restaurar os compromissos de ajuda anteriores e de adotar uma abordagem que leve em consideração as preocupações legítimas da Jordânia. Ouvir as vozes de Amã não é apenas uma questão de diplomacia; é um passo fundamental para a estabilidade do Oriente Médio.
Conclusão: Um Futuro Incerto
Portanto, à medida que a Jordânia se vê no centro de uma tempestade política, tanto interna quanto externa, fica claro que as consequências da proposta de Trump vão além de meras discussões diplomáticas. A capacidade da Jordânia de resistir a pressões externas e de manter sua soberania dependerá de um diálogo equilibrado e sensível com seus aliados. A América, como parceira histórica de longa data, deve reconsiderar suas políticas e, ao fazê-lo, não apenas preservar a estabilidade da Jordânia, mas também contribuir para a paz duradoura na região. O futuro do Oriente Médio está em jogo, e a Jordânia deve ser uma parte fundamental dessa discussão.