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Impactos Climáticos na Indústria do Vinho
Enquanto o mundo se concentra nas discussões da COP29 em Baku e nas reuniões do G20 no Brasil, o clima também é tema principal entre os produtores de vinho em Mendoza, Argentina. Para eles, a ausência de políticas climáticas eficazes pode ter consequências graves para a produção de vinho, um aspecto vital da cultura e economia locais.
Laura Catena, diretora da Catena Zapata Wines e fundadora da Luca Wines, expressa sua preocupação com o impacto das mudanças climáticas na viticultura. Para ela, “na Argentina, o vinho é mais do que uma bebida; é parte de nossa identidade nacional”. Mendoza, reconhecida como a capital do Malbec, contém uma comunidade tão interconectada que muitos trabalhadores nas vinícolas possuem seus próprios vinhedos, contribuindo para uma rede rica de tradições vinícolas.
Graças a uma colaboração entre o setor privado e a Universidade Nacional de Cuyo, o Instituto Catena do Vinho, fundado por Laura, promove um evento significativo: o Congresso Internacional de Terroir, que trouxe pela primeira vez essa importante reunião acadêmica para a América do Sul. Esse congresso é uma oportunidade ímpar para combinar conhecimento e experiência na vitivinicultura.
O Papel de Mendoza na Produção de Vinho
Apesar de a Argentina ocupar uma posição relativamente inferior em comparação com gigantes da indústria vinícola como França, Itália e Espanha, a região de Mendoza tem se destacado. Em 2023, as exportações de vinho argentino totalizaram cerca de US$ 400 milhões, com impressionantes 93% desses vinhos originando-se em Mendoza, famosa pelas suas altas altitudes e vinhedos de Malbec.
Clima e Terroir: Uma Relação Complexa
O que realmente compõe o ‘terroir’? Kees Van Leeuwen, viticultor de Bordeaux, ressalta que o solo é apenas uma parte desse conceito. A verdadeira mágica reside na interseção entre a qualidade do vinho e o ambiente onde as uvas são cultivadas, sendo o clima um dos fatores mais influentes. As alterações climáticas não se limitam a eventos extremos; as mudanças graduais nas temperaturas, secas e padrões de clima erráticos podem comprometer a essência do terroir.
A Adaptação das Videiras: Mudanças no Oregon
Greg Jones, um climatologista e produtor de Malbec em Abacela, no sul do Oregon, também está focado nas mudanças climáticas. Ele observa como a variabilidade do clima impacta o cultivo de uvas e a qualidade do vinho. Manter-se atento às condições climáticas é essencial; adaptação é a palavra de ordem para garantir que as uvas escolhidas sejam adequadas às novas realidades climáticas.
“Há um número limitado de variedades de uvas vitis vinifera que atendem aos padrões de qualidade em climas específicos”, explica Jones. Com o aquecimento global em curso, as regiões com condições climáticas ideais para certas uvas, como o Pinot Noir, podem se tornar menos favoráveis, forçando os produtores a considerar opções alternativas.
Desafios da Escassez Hídrica
Fernando Buscema, pesquisador e diretor-executivo do Instituto Catena do Vinho, enfatiza a crescente escassez de água como um dos maiores desafios da viticultura na Argentina. A utilização eficiente desse recurso torna-se crucial, e parcerias com instituições de outros países, como Chile e Israel, têm sido fundamentais na troca de conhecimento sobre cultivo de vinhedos e conservação hídrica.
Buscema observa que, embora o cenário seja desafiador, a colaboração entre o setor público e privado é fundamental. “Nossas expectativas e incentivos podem variar, mas precisamos unir forças para encontrar soluções viáveis”, conclui.
Louise Schiavone é jornalista colaboradora da Forbes EUA e professora na Johns Hopkins University Carey Business School, com experiência em diversas grandes instituições de comunicação.