Vivemos em uma era em que entender as lições do passado se torna crucial. Um famoso ditado nos lembra: “Aqueles que não aprendem com a história estão condenados a repeti-la.” Será que estamos repetindo os erros do passado com o vírus H5N1 da gripe aviária, que já causou surtos significativos entre aves e, mais recentemente, foi identificado em bovinos e suínos nos EUA? Ou será que a situação atual é distinta o suficiente para que não precisemos nos preocupar com uma nova pandemia?
A Situação Atual do H5N1
Até outubro de 2023, 19 países nas Américas relataram surtos da gripe aviária, afetando tanto aves domésticas quanto silvestres. Os números são alarmantes: mais de 2.980 surtos, sendo 2.238 em aves domésticas e 749 em aves silvestres. Embora no Brasil não tenham sido registrados casos em granjas comerciais, diversas aves migratórias apresentaram infecções.
Atualmente, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) classificam o risco à saúde pública associado ao H5N1 como baixo. Porém, isso pode mudar a qualquer momento. Vamos explorar mais sobre esse vírus e suas implicações para a saúde pública.
Um Velho Conhecido: H5N1 entre Aves
O H5N1 é conhecido por sua capacidade de se espalhar entre aves e, ao longo dos anos, tem mostrado sua periculosidade. Um dos primeiros surtos que chamou a atenção aconteceu em Hong Kong, em 1997, provocando 18 infecções e seis mortes. Desde então, o vírus evoluiu e se diversificou, com surtos nos últimos anos afetando gravemente a indústria avícola dos Estados Unidos. Desde abril de 2024, mais de 22 milhões de aves foram infectadas, levando ao abate de rebanhos e à consequente elevação dos preços de aves e ovos.
A Invasão dos Bovinos
Uma reviravolta inesperada ocorreu no início deste ano ao detectar a infecção por H5N1 em bovinos leiteiros nos EUA. Esse surgimento não apenas ampliou a gama de hospedeiros do vírus, mas também acendeu um alerta sobre mutações virais. Desde março de 2024, o vírus já atingiu ao menos 440 rebanhos em 15 estados. Embora a pasteurização do leite e o preparo adequado da carne bovina reduzam os riscos, isso não minimiza a seriedade da propagação entre os bovinos.
Uma Nova Ameaça: O H5N1 em Suínos
Mais recentemente, em 30 de outubro de 2024, o USDA (Departamento de Agricultura dos EUA) detectou o primeiro caso de H5N1 em suínos, na Oregon. Esse desenvolvimento é preocupante, uma vez que os suínos são conhecidos por sua capacidade de trocar material genético rapidamente, um fenômeno chamado de ressortimento genético. Essa troca pode gerar novas combinações virais que podem ser mais perigosas, inclusive para os humanos.
Ressortimento Genético e Pandemias: Um Alerta para 2009
Lembrando a pandemia de H1N1 de 2009, um exemplo perfeito da ameaça que os vírus representam quando ocorre o ressortimento. Naquela ocasião, o vírus H1N1 causou milhões de infecções e um número significativo de mortes. Embora menos letal que a Covid-19, a pandemia de H1N1 é um lembrete claro dos riscos associados à mutação viral. A preocupação com o H5N1 é que ele também poderia desencadear uma resposta imunológica imprevisível em humanos.
Abaixe a Guarda? O H5N1 ainda é uma Ameaça
Até agora, 55 casos de H5N1 em humanos foram confirmados nos EUA, principalmente entre aqueles que tiveram contato direto com animais infectados. Não há evidências sólidas de transmissão entre humanos, mas a mutação do vírus pode alterar essa situação. A questão permanece: estamos prontos para prevenir outra pandemia?
A Necessidade de Preparação e Vigilância
Neste momento, a falta de um sistema robusto de vigilância para vírus respiratórios e as falhas no sistema de saúde pública se destacam como pontos críticos. Embora o H5N1 ainda não tenha apresentado um risco elevado para a população geral, a ausência de um investimento sólido em pesquisa e em estratégias de saúde pode levar a consequências desastrosas no futuro.
Políticos e líderes de saúde precisam se conscientizar de que discutir preparação não é criar pânico, mas sim promover a implementação de medidas preventivas antes que uma crise se instale. É vital não apenas monitorar o H5N1, mas também aumentar a conscientização e facilitar o acesso à informação para a população em geral.
Portanto, enquanto a história se desenrola e o futuro do H5N1 permanece incerto, a urgência em tomar medidas proativas é inegável. É nossa responsabilidade coletiva garantir que não só aprendamos com os erros do passado, mas também que nos preparemos para os desafios do futuro.
*Bruce Y. Lee é colaborador da Forbes EUA. Escreve sobre saúde, medicina, bem-estar e ciência.