As Complexidades do Conflito em Gaza: Uma Oportunidade de Mudança?
A frágil trégua entre Israel e Hamas abriu uma janela significativa para a possibilidade de pôr fim ao conflito de dois anos em Gaza. Embora um plano proposto pelo presidente dos EUA, Donald Trump, tenha recebido apoio do Conselho de Segurança da ONU no dia 17 de novembro, muitas questões políticas permanecem sem respostas. O desafio mais crítico envolve quem governará Gaza, se e como o Hamas será desarmado e integrará a política, além do que fazer sobre a ocupação contínua de Israel. O que os palestinos pensam será determinante para o resultado desse processo de paz.
O Impacto da Violência na Opinião Pública
Após os ataques de 7 de outubro de 2023, houve uma onda de apoio entre os palestinos ao Hamas e sua resistência armada, visto como uma forma legítima de combater a ocupação israelense. Todavia, a brutalidade da invasão israelense resultou na morte de dezenas de milhares de palestinos e na destruição de mais de 90% das habitações em Gaza.
Com o passar do tempo e os altos custos do conflito, as opiniões dos palestinos começaram a mudar. Inicialmente, havia um forte apoio ao Hamas, mas conforme os efeitos devastadores da guerra se tornaram evidentes, muitos palestinos começaram a questionar essa lealdade. A disposição por um acordo negociado com Israel cresceu, e cada vez mais palestinos parecem abertos a uma liderança que não envolva o Hamas para governar Gaza futuramente.
O Que Pode Mudar?
Se essa tendência continuar, a população palestina pode apoiar a formação de um novo comitê de especialistas, independente do Hamas e da Autoridade Palestina, e respaldado por parceiros internacionais. No entanto, essa aceitação não é garantida. É crucial que Israel, os Estados Unidos e o Hamas implementem a trégua de forma a fomentar um diálogo positivo e uma liderança política palestina eficaz.
Diante de uma entrega irregular de ajuda e um aumento nas hostilidades, como os ataques israelo-palestinos que resultaram em mortes, é fundamental que a situação mude. Muitos palestinos se afastaram do Hamas em busca de uma administração que garanta segurança e recursos adequados. Para isso, é importante mostrar que uma autoridade civil credível, composta e respaldada pelo povo palestino e por meios internacionais, é uma alternativa viável.
A Evolução da Opinião Pública Palestina
A melhor maneira de entender o estado da opinião pública palestina é por meio de pesquisas realizadas pelo Centro Palestino de Pesquisa de Política e Pesquisa. O centro conduziu diversas ondas de entrevistas em Gaza e na Cisjordânia, revelando as mudanças nas opiniões dos palestinos antes, durante e após a guerra.
- Comparação de Grupos: Em uma pesquisa, perguntava-se qual grupo deveria liderar os palestinos: Hamas, Fatah ou nenhum. Antes dos ataques de 7 de outubro, Hamas tinha o apoio de 27% dos entrevistados, enquanto Fatah contava com 24%. A maioria (49%) acreditava que nenhum deles deveria governar.
Após o início da guerra, essa situação mudou drasticamente. Em dezembro de 2023, mais da metade dos palestinos passou a considerar o Hamas como a liderança mais indicada. Isso se deve em parte à percepção de que os ataques foram uma resposta válida à ocupação.
Mudanças na Percepção do Hamas
Durante a guerra, a maioria dos palestinos continuou apoiando o Hamas. Entretanto, com o incremento das baixas e destruições, essa aprovação começou a declinar. De acordo com as pesquisas, o apoio à liderança do Hamas caiu para 41% no outono de 2025, embora ainda fosse maior do que antes da guerra. Isso sugere que, enquanto muitos palestinos ainda veem o Hamas como uma força relevante, a necessidade de uma governança mais eficaz tornou-se uma prioridade.
Preferências em Relação ao Futuro Político
Quando questionados sobre preferências políticas em um cenário pós-guerra, os palestinos demonstraram uma flexibilidade crescente. Em setembro de 2024, 27% estavam a favor do retorno de um governo liderado por Abbas (Fatah), mas essa taxa aumentou para 40% até maio de 2025.
uma amostra clara do desejo por uma nova abordagem. A aceitação de uma autoridade palestina não alinhada com o Hamas cresceu, com 51% em Gaza e 41% na Cisjordânia apoiando essa ideia.
Além disso, há uma tendência crescente para a aceitação de negociação com Israel. Embora muitos palestinos ainda vejam a luta armada como o principal meio de resistência, essa proporção caiu de 63% após os ataques de outubro de 2023 para 40% em outubro de 2025. Isso mostra um movimento em direção a soluções não violentas.
A Necessidade de uma Governança Eficaz
Um aspecto crucial que surgiu das pesquisas é que, quando a guerra se alongou, o apelo pela resistência simbólica foi eclipsado pelas exigências pragmáticas de administração e segurança. Os palestinos desejam uma autoridade que seja capaz de garantir segurança, serviços e um futuro fora da situação de emergência atual.
- Sugestões para um futuro melhor:
- Assegurar o fluxo regular de ajuda humanitária.
- Iniciar um plano robusto de reconstrução.
- Promover uma troca de prisioneiros eficaz.
Esses passos são vitais para cultivar um clima propício ao diálogo e à abertura de novas possibilidades políticas.
O Que Vem a Seguir?
À medida que a trégua continua, o modo como os ouvidos palestinos respondem ao novo governo será decisivo. Um cenário ideal inclui a permanência da trégua, a entrega eficaz de ajuda e uma transição política que envolva um governo tecnocrático com mandatos claros e fiscalização internacional.
Contudo, a falta de progresso pode levar ao retorno de uma preferência por soluções mais radicais. O aumento da violência e a lentidão nas ajudas podem prejudicar a confiança no governo e aumentar o apoio ao Hamas.
A Importância de Alternativas Credíveis
A possibilidade de um novo candidato, como Marwan Barghouti para a liderança do Fatah, poderia mudar o jogo e oferecer uma rivalidade real ao Hamas. Tal cenário poderia não apenas aumentar a participação política, mas também redirecionar a opinião pública em prol de negociações pacíficas.
Um Caminho para a Esperança
O caminho a seguir é claro, baseado em um entendimento moderno das dinâmicas sociais e políticas dos palestinos. Com as condições certas, uma autoridade palestina pode ser formada, que não apenas represente o povo, mas também seja capaz de oferecer soluções viáveis para o futuro.
É crucial que tanto líderes palestinos quanto internacionais mantenham o foco nas necessidades reais do povo, reforçando a segurança, a entrega de ajuda e os planos de reconstrução. A disposição para um diálogo mais forte e fundamentado pode, de maneira substancial, abrir um caminho para a paz e o entendimento.
A pergunta que permanece é: os líderes estão prontos para fazer as mudanças necessárias e ouvir as vozes de seu povo? O futuro da Palestina depende disso, assim como a esperança por uma coexistência pacífica.




