sexta-feira, junho 20, 2025

Os Riscos Ocultos das Redes Sociais: Como Elas Afetam a Juventude Hoje


Capa da série Adolescência, da Netflix

Divulgação

A Influência das Redes Sociais na Juventude: Reflexões a Partir da Série “Adolescência”

Nos últimos tempos, as redes sociais deixaram de ser apenas um espaço de diversão para se tornarem verdadeiros agentes transformadores na vida dos jovens. Com isso, surge a série “Adolescência”, da Netflix, que traz à tona uma discussão essencial: a cultura digital está moldando de maneira profunda e muitas vezes prejudicial a vida emocional e psicológica de uma geração.

Ao assistir à série como mãe de dois adolescentes, senti a angustiante realidade refletida nas telas. A narrativa gira em torno de um garoto de 13 anos, acusado de um assassinato brutal, que pode ter sido influenciado por ideologias misóginas que circulam na internet. Essa história é um verdadeiro pesadelo contemporâneo, que roteiros de ficção não poderiam ter imaginado, mas que muitas famílias enfrentam em sua rotina diária. O acesso ilimitado a conteúdos tóxicos, a normalização da violência, e a formação de comunidades extremistas nos cantos obscuros da web são realidades às quais os jovens estão expostos constantemente.

A Adolescência em Tempos de Redes Sociais

O período da adolescência é, por si só, uma fase repleta de mudanças intensas: o corpo se transforma, as emoções são à flor da pele, e a busca por identidade e pertencimento a grupos se intensifica. Infelizmente, é exatamente nesse momento crítico que algoritmos poderosos, projetados para capturar a atenção de forma incessante, entram em cena. E muitas vezes, sem qualquer critério de segurança.

Essas plataformas conhecem o caminho que leva um adolescente a rolar a tela sem parar: elas oferecem conteúdos cada vez mais extremos, perpetuando ideais inalcançáveis de sucesso, beleza e performance, ao mesmo tempo que favorecem uma comparação constante entre indivíduos. Qual é a consequência disso? Um aumento alarmante nas crises de identidade, ansiedade, raiva e solidão.

A Responsabilidade das Big Techs e o Silêncio Inquietante

Então, quem está de fato assumindo a responsabilidade por tudo isso? Ninguém, ao que parece. As grandes empresas de tecnologia, conhecidas como Big Five—Apple, Google, Meta, X e Microsoft—continuam operando sem prestar contas aos impactos que causam. Apesar das incontáveis pesquisas que evidenciam os danos à saúde mental dos jovens, elas parecem priorizar apenas métricas de engajamento.

Um estudo da Universidade de Oxford realizado em 2024 mostrou que adolescentes que passam mais de três horas diárias nas redes sociais têm 60% mais chances de desenvolver depressão. A Associação Psicológica Americana corroborou: a exposição contínua a conteúdos prejudiciais intensifica a ansiedade e reduz a autoestima. E mesmo diante de dados tão alarmantes, o que se observa são comunicados vazios e uma resistência contínua à regulação do ambiente online.

Avanços Distantes e a Necessidade de Mudanças Reais

É verdade que alguns países, como França, Austrália e Brasil, já começaram a implementar restrições ao uso de celulares em escolas. O Reino Unido também está discutindo maneiras de limitar o acesso de jovens às redes sociais. Igualmente, a União Europeia está avançando com a Lei de Serviços Digitais, que busca promover maior transparência em práticas algorítmicas e assegurar a proteção de menores. Contudo, nos EUA, onde as principais plataformas estão localizadas, qualquer movimentação neste sentido esbarra em lobbies muito influentes.

Quem, então, irá proteger nossos jovens?

O Papel Fundamental das Famílias e da Sociedade

Não podemos esperar que essas grandes empresas mudem suas práticas por vontade própria. Como mãe, a pergunta que ecoa na minha mente é: como posso resguardar meus filhos em um ambiente que parece ter sido feito para seduzi-los?

A resposta reside em três frentes fundamentais: supervisão ativa, diálogo aberto e principalmente uma pressão coletiva por uma regulação responsável. Os celulares não são apenas instrumentos de socialização, mas também portas de entrada para narrativas, valores e estímulos que impactam diretamente a formação das identidades dos jovens. A mediação da família, pautada pela empatia e pela consciência, é mais crucial do que nunca.

Porém, não podemos transferir toda a responsabilidade para as famílias. É urgente que líderes públicos, educadores e empresários se unam para criar um ecossistema tecnológico mais seguro e saudável. Medidas como a regulamentação dos algoritmos, a criação de plataformas educacionais seguras e o incentivo a tecnologias que respeitem princípios éticos não são utopias, mas sim caminhos possíveis e vitais.

Um Chamado à Ação Urgente

Uma frase impactante da série ressoa fortemente: “Leva uma vila para criar uma criança, mas também leva uma vila para destruí-la.” Neste momento, essa vila está sendo invadida por sistemas opacos que exploram as vulnerabilidades humanas, especialmente as dos jovens.

Está na hora de revertermos esse quadro. Para preservar a saúde mental da próxima geração, precisamos encarar as redes sociais como o que realmente são: ferramentas poderosas que demandam responsabilidade, limites e transparência. Essa obrigação deve começar no topo, com as empresas que manipulam a atenção e a inocência das nossas crianças, e se estender a cada um de nós. A cultura da negligência precisa dar espaço a uma nova cultura: a do cuidado.

Iona Skurnik é fundadora e CEO da Education Journey, uma plataforma que utiliza Inteligência Artificial em prol de uma educação mais personalizada. Com um mestrado em Educação e Tecnologia pela Universidade de Stanford, Iona fez parte do time que desenvolveu a primeira plataforma de educação online da universidade. Sua trajetória inclui oito anos de experiência na área de edtechs no Vale do Silício, além de ser cofundadora da Brazil at Silicon Valley e mentora de mulheres no ambiente empreendedor.

Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não necessariamente refletem a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.

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