A Nova Agenda de Trump para a América Latina: O Que Esperar?
Nos últimos anos, um consenso crescente tem sido ouvido nas discussões em toda a América Latina: a percepção de que Washington está desviando seu olhar da região. Líderes empresariais, acadêmicos e políticos, independentemente de sua orientação ideológica, têm reclamado da ausência de uma estratégia clara dos Estados Unidos em relação à América Latina, resultando em uma erosão de influência e oportunidades econômicas, particularmente em favor da China. Essas preocupações não são novidades; já em 1973, a revista Foreign Affairs alertava que “os Estados Unidos não têm uma política para a América Latina, exceto uma de negligência benigna”. No entanto, durante a administração Biden, esses lamentos ganharam ainda mais força, uma vez que o governo foi criticado por concentrar-se demais nas rivalidades com a China e nos conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio.
Um Novo Capítulo nas Relações EUA-América Latina
Com a perspectiva de um segundo mandato de Donald Trump, a atenção direcionada à América Latina pode ser maior do que nos últimos 30 anos. A razão é simples: três das prioridades domésticas mais relevantes de Trump — combater a imigração ilegal, restringir o tráfico de fentanil e reduzir a dependência de produtos chineses — estão profundamente entrelaçadas com as políticas em relação aos países latino-americanos. O respaldo eleitoral que Trump conseguiu, ao conquistar a votação popular e controlar ambas as câmaras do Congresso, juntamente com um aumento significativo nos fluxos de migrantes e narcóticos desde sua primeira presidência, provavelmente o encorajará a pressionar os governos da região. Para isso, ele pode até considerar medidas punitivas, como tarifas e sanções, além de ações militares limitadas contra cartéis no México.
O Impacto nas Relações Regionais
Essa atenção renovada de Trump pela América Latina poderá ser bem recebida por líderes conservadores, como o presidente argentino Javier Milei e o salvadorenho Nayib Bukele. Eles estão em um contexto onde a direita parece ganhar espaço em toda a região. A possível nomeação do senador americano Marco Rubio como secretário de Estado também representa um marco. Rubio, que é filho de imigrantes cubanos e fluente em espanhol, traria uma experiência e uma rede de contatos sem par em questões latino-americanas para a posição, possivelmente criando novas oportunidades de integração econômica com países que a administração considerar cooperativos.
Entretanto, a curto prazo, as políticas de Trump podem ser disruptivas e, em vez de reverter a atual tendência de distanciamento, podem afastar ainda mais países-chave da influência americana. Por exemplo, o México, que depende fortemente do comércio com os EUA para mais de 80% de suas exportações, pode enfrentar grandes desafios se não atender às exigências de Trump para ajudar a proteger a extensa fronteira comum de 3.200 quilômetros. As recentes ameaças do ex-presidente de impor tarifas de 25% sobre produtos mexicanos ao assumir o cargo são apenas o início de uma negociação que pode se tornar tensa.
Consequências para Outros Países da Região
Outros países, incluindo Guatemala e Colômbia, também podem se ver sob fiscalização rígida, enfrentando tarifas ou sanções se não conseguirem conter o fluxo de migrantes para o norte e cooperar com as promessas de deportação em massa de Trump. Em um segundo mandato, os EUA tentarão persuadir governos latino-americanos, como os do Brasil e do Peru, a rejeitar investimentos chineses em projetos sensíveis. Para muitos republicanos, a crescente presença da China na América Latina é vista como uma violação da Doutrina Monroe, que defende a proteção da região contra interferências externas.
O Futuro das Relações EUA-América Latina
O futuro das relações entre os EUA e os países da América Latina sob Trump dependerá de uma série de fatores, incluindo crises que causam migrações recordes em várias nações da região. A maior dúvida, segundo alguns políticos republicanos, é se Trump conseguirá enxergar a América Latina não apenas como uma fonte de problemas, mas também como uma possível solução para eles.
Ao olharmos para as previsões do primeiro mandato de Trump na América Latina, muitos que temiam uma abordagem hostil acabaram surpreendidos por resultados mais equilibrados. Apesar das diferenças ideológicas com o ex-presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador, Trump e o líder mexicano conseguiram estabelecer uma relação que, embora transacional, foi respeitosa, permitindo que o México seguisse sua agenda interna, desde que estivesse colaborando nas questões migratórias.
A Questão do Combate ao Crime e à Imigração
Os desafios de tráfico de drogas e a migração na fronteira EUA-México tornaram-se mais urgentes. Apesar de uma leve queda nas mortes por overdose nos Estados Unidos, os números ainda são alarmantes. As fatalidades, em sua maioria decorrentes do uso de fentanil, que segundo autoridades vem principalmente do México, continuam a preocupar. A pressão para controlar a imigração também deve aumentar, especialmente agora que novos grupos migratórios estão surgindo em países como Cuba, Haiti e Venezuela.
Com a crescente violência e complexidade do crime organizado, muitos líderes latino-americanos temem que a abordagem de Trump em relação à segurança possa seguir um caminho mais militarizado. A retórica em torno do combate aos cartéis mexicanos, acompanhada por propostas para o uso de drones e ataques cibernéticos, promete temperar ainda mais as relações entre os Estados Unidos e seus vizinhos do sul.
A Desafiante Relação com a China
Outro fator que deve ganhar destaque nas relações entre os EUA e a América Latina é a crescente influência da China na região. Desde 2002, o comércio entre a América Latina e a China saltou de 18 bilhões de dólares para 480 bilhões de dólares em 2023, tornando a China um investidor essencial em projetos de infraestrutura. Embora o novo governo não espere que os países latino-americanos abandonem completamente a China, haverá uma pressão significativa para impedir que a China assuma controle de ativos civis e militares sensíveis.
As consequências disso podem ser imprevisíveis. A tentativa de reter a influência da China pode, paradoxalmente, resultar em um estreitamento das relações de alguns países latino-americanos com Pequim, especialmente se forem vistos como pressões imperiais por parte dos EUA.
Reflexões sobre o Futuro das Relações
Em suma, a abordagem de Trump em relação à América Latina estará repleta de desafios e oportunidades. Como um potencial promotor de crescimento econômico, Trump pode ver na região uma chance de fortalecer as cadeias de suprimento dos EUA e assim ter uma relação mais construtiva. Ideias que buscam a consideração de governos semelhantes em toda a região poderão ser bem-vindas em um cenário de busca por estabilidade e crescimento.
Por outro lado, as pressões por políticas mais assertivas em relação a imigração e segurança podem criar barreiras e tensões que dificultarão a aproximação entre os países. A forma como Trump e sua equipe lidarem com os líderes da América Latina nos próximos anos poderá determinar o futuro das relações da região com os Estados Unidos.
E você, como vê essa nova configuração nas relações entre os EUA e a América Latina? Qual será o papel da região frente aos desafios do século XXI? Compartilhe suas ideias e vamos continuar essa conversa!