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Nos últimos anos, o cenário global tem sido marcado por intensos conflitos, levando a um aumento sem precedentes no número de guerras desde a Segunda Guerra Mundial. Essa realidade, combinada a desafios climáticos e bloqueios econômicos, resultou em um colapso nos principais portos do mundo e em uma grave escassez de contêineres. Com os custos de seguro e transporte marítimo disparando, muitos setores industriais estão enfrentando sérias dificuldades em suas operações.
Crises que Abalam o Comércio Internacional
A crise do transporte marítimo se intensificou com eventos significativos, como o encalhe do navio Ever Given no Canal de Suez, a seca no istmo do Panamá, o bloqueio dos portos ucranianos no Mar Negro, sanções econômicas à Rússia e ataques a navios no Mar Vermelho, todos impactando diretamente o comércio internacional.
De acordo com Alejandro Arroyo Welbers, diretor da especialização em Comércio Internacional da Universidade Austral (UA), a tensão ge política na região diminuiu drasticamente o volume de operações do Canal de Suez, que agora atende apenas 20% de sua capacidade habitual. “Consequentemente, o transporte marítimo entre Ásia-Pacífico e Europa passou a incluir 3.500 milhas adicionais, estendendo o tempo de viagem em 10 a 15 dias”, explica Welbers. A nova rota, que inclui o Golfo da Guiné, também traz o risco da pirataria.
Com a Organização Marítima Internacional relatando que 90% das mercadorias são transportadas por via marítima, qualquer interrupção nas rotas marítimas impacta a economia global. Silvia Notte, diretora do SN Estúdio Aduaneiro, destaca que a situação é complexa, pois portos como São Petersburgo estão isolados, encarecendo o frete para locais como Dinamarca e Estônia. O comércio exterior na região já não é vantajoso, elevando os custos operacionais.
A Situação nos Portos
Atualmente, os canais de Suez e do Panamá, considerados os corredores mais importantes do comércio marítimo, enfrentam sérias limitações. O primeiro opera com restrições de segurança, enquanto o segundo sofre com a baixa de suas águas. “Cerca de 80% do tráfego marítimo mundial ocorre no eixo leste-oeste entre Ásia-Pacífico e Europa, enquanto apenas 20% seguem o eixo norte-sul, que inclui países como Austrália e América do Sul,” afirma Welbers.
Essa situação tem gerado congestionamentos críticos em portos do Mediterrâneo, como Valência e Barcelona, e no próprio Singapura, um dos maiores portos do mundo. Desde novembro, a situação em Singapura se agravou, impactando o abastecimento de todo o Sudeste Asiático e sua função como central de distribuição global.
O Impacto Climático
Desastres naturais, como furacões, obrigam navios a desviarem de suas rotas, prolongando as viagens e afetando a entrega de mercadorias. Javier Sagardoy, sócio-gerente da Oceanic International Trade, explica que outras catástrofes, como erupções vulcânicas, também podem interromper o transporte aéreo, essencial para produtos sensíveis e entregas urgentes.
Com tudo isso, a crise não se limita à falta de contêineres nos portos; também gera um desequilíbrio global. Em alguns locais, há excesso de contêineres, enquanto em outros a escassez é crítica. O estreito de Ormuz, por exemplo, que já vivenciou tensões geopolíticas nos anos 90, transporta anualmente cerca de um quinto do petróleo consumido no planeta, e a situação continua a gerar receios sobre a segurança das rotas marítimas.
Estratégias de Planejamento
Para o sucesso de quaisquer transações internacionais, um planejamento minucioso da rota é essencial. Isso implica não apenas em decidir o meio de transporte, seja por mar, terra ou ar, mas também em considerar:
- Economia de Combustível: Planejamento eficiente ajuda a reduzir os gastos.
- Condições Climáticas: É preciso avaliar fatores como correntes, ventos e a presença de gelo.
- Proximidade de Portos: Uma escolha estratégica que pode servir de emergência.
O Canal de Suez, em operação desde 1867, tem um papel vital tanto comercial quanto geopolítico, agilizando o comércio entre Europa e Ásia. No entanto, o bloqueio do navio Ever Given em março de 2021, que impediu a passagem de outros barcos por seis dias, não prejudicou tanto as exportações do Cone Sul, que dependem principalmente das rotas pelo Mediterrâneo, mas expôs fragilidades desse sistema. Em certas ocasiões, situações adversas podem até gerar oportunidades.
Entretanto, a insegurança tem levado a um aumento considerável nos custos de transporte. As rotas marítimas mais longas, devido a desvio ou bloqueio, não só aumentam despesas, como também têm impactos ambientais negativos, ampliando a emissão de gases de efeito estufa. A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento indicou que o percurso entre Cingapura e Roterdã agora gera 70% a mais de emissão de poluentes.
A Relevância dos Agentes de Carga
Nesse cenário complexo, o papel de agentes de carga se torna ainda mais indispensável. Eles são responsáveis por identificar rotas alternativas e garantir que as mercadorias cheguem ao seu destino, minimizando assim os impactos econômicos que poderiam prejudicar o comércio. A busca por eficiência logística e diversificação de rotas é vital para enfrentar os desafios atuais.
Por exemplo, nas últimas semanas, a alta no custo dos contêineres entre Xangai e a Europa chegou a 256%, demonstrando a gravidade da situação. No entanto, as crises também podem ser vistas como oportunidades para repensar a logística global, transformar cadeias de suprimento e explorar inovações que possam mitigar riscos, mesmo que isso signifique adotar soluções de curto prazo com custos elevados.
Um Olhar para o Futuro
A intersecção entre conflitos, mudanças climáticas, congestionamentos e escassez de contêineres está moldando uma das mais desafiadoras crises logísticas das últimas décadas. Esta realidade não só higieniza as fragilidades das cadeias de suprimento, como também enfatiza a necessidade de resiliência diante dos desafios futuros.
É vital reconhecermos que, além dos efeitos econômicos, essa crise também carrega uma mensagem ambiental. O aumento das rotas marítimas e do consumo de combustíveis não apenas encarece processos, como também intensifica a poluição. A situação exige uma abordagem inovadora e sustentável no comércio internacional, com políticas coordenadas e investimentos em infraestrutura. Ao passo que soluções de emergência são implementadas, existe uma urgência iminente de repensar como as operações são conduzidas para garantir viabilidade a longo prazo, tanto econômica quanto ambiental.
O futuro do comércio marítimo depende de nossa capacidade de adaptação e inovação. À medida que navegamos por essas águas turbulentas, é essencial que cada ator no mercado se mantenha alerta e proativo, preparado para mudanças constantes que definirão o comércio global nas próximas décadas.