A Nova Caminhada da Política Comercial dos EUA e a Rivalidade com a China
Recentemente, o encontro emblemático entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o líder chinês, Xi Jinping, sinalizou uma pausa nas tensões da guerra comercial, resultando em alguns acordos recíprocos. Contudo, esse encontro não trouxe soluções concretas para as questões que têm alimentado a rivalidade entre os dois países nos últimos anos. Ao contrário, ele evidenciou uma mudança intrigante na política americana em relação à China durante o segundo mandato de Trump, que não apenas se distancia das diretrizes da administração Biden, mas também abandona estratégias importantes de seu próprio primeiro mandato.
A Evolução da Política Americana em Relação à China
Desde o início deste século, a política dos EUA em relação à China baseou-se na expectativa de que a integração da China ao sistema comercial global levaria a uma liberalização política e econômica que alinharia o país aos interesses americanos. Essa expectativa, no entanto, não se concretizou. Com o tempo, a China se transformou em um competidor disruptivo, disposto a moldar a ordem global para beneficiar seus próprios interesses.
Ao longo do governo Trump e sob a administração Biden, os EUA finalmente elaboraram uma estratégia coesa para enfrentar o crescente poder econômico da China, fundamentada em lições dolorosas do passado. Porém, a nova administração Trump parece estar revertendo esse progresso, adotando uma abordagem transacional e contraditória que compromete a segurança nacional e a inovação americana.
O Despertar das Realidades Econômicas
Em 1995, a China representava menos de 5% da produção manufatureira global. Esse número saltou para cerca de 25% em 2010 e agora ultrapassa quase 33%. Essa ascensão veio acompanhada de um grave impacto no emprego em países ocidentais, especialmente nos EUA, onde a parte da China nas importações subiu de 8% em 2000 para 22% em 2018, desestabilizando cidades industriais americanas.
O que muitos na Ocidente consideravam como inevitáveis reformas liberais na China se transformou em um fortalecimento do capitalismo estatal pela liderança do Partido Comunista, que impôs controles rígidos sobre investimentos externos, comércio e a circulação de informações. Essas políticas, apoiadas por subsídios industriais e práticas de mercado distorcidas, geraram desequilíbrios comerciais graves e impuseram custos imensos a trabalhadores e empresas americanas.
Diversas administrações americanas hesitaram em reagir de forma contundente. A administração Bush poderia ter acionado a Seção 421 do Ato de Comércio de 1974 para proteger indústrias americanas, mas nada foi feito. A administração Obama utilizou essa medida em uma ocasião, mas falhou em aplicá-la em setores críticos, permitindo que os fabricantes chineses, apoiados pelo estado, desestabilizassem os inovadores ocidentais.
Mudanças na Abordagem Atual de Trump
Com a volta de Trump à presidência em 2025, o cenário mudou radicalmente. As tarifas implementadas agora visam a arrecadação e não a estratégia. Isso resulta em taxas pesadas para todos os parceiros comerciais, não apenas para a China, o que acaba penalizando indústrias americanas. Além disso, essas tarifas alienam aliados históricos, complicando ainda mais a situação.
A imposição de tarifas não é apenas um desafio econômico, mas também um tiro no pé da diplomacia. Muitas nações aliadas, como Austrália e Reino Unido, enfrentam elevado custo de importações, enquanto a dependência da China em relação a suas práticas de produção continua a crescer. Surpreendentemente, produtos de países que antes eram vistos como aliados agora têm tarifas mais altas que as da própria China.
O Impacto Sobre a Inovação e a Tecnologia
Outra consequência adversa da política atual é a erosão do ecossistema de inovação americano. A redução de financiamento para pesquisa e o levantamento de restrições para a entrada de talentos estrangeiros prejudicam a capacidade dos EUA de competir em setores cruciais, como energia limpa e tecnologia avançada. O cancelamento de incentivos para inovação só agrava essa situação, colocando os EUA em desvantagem frente à crescente liderança chinesa em veículos elétricos e tecnologias de ponta.
A administração Biden havia dado passos significativos na promoção da produção de semicondutores e na renovação das indústrias de alta tecnologia. Infelizmente, com ações regulamentares que favorecem a manutenção de práticas similares às da China, essa trajetória está ameaçada. O desafio será recuperar espaço nessa corrida, uma vez que as nações aliadas também buscam se alinhar em torno da tecnologia emergente.
Um Chamado à Ação
A solução para esta nova configuração da economia global não reside apenas em tarifas altas e penalizações. Um novo enfoque deve priorizar a construção de parcerias reais, que não só fomentem a inovação, mas também incluam acesso preferencial a recursos críticos. A manutenção da liderança tecnológica dos EUA requer um esforço conjunto para atrair investimentos, desenvolver talentos e implementar mecanismos de controle de exportação de modo inteligente.
As tarifas devem ser direcionadas, a fim de evitar que a China mantenha controle excessivo sobre áreas essenciais dos cadeias produtivas. Além disso, a sustentação do dólar como moeda dominante deve estar atrelada a uma maior responsabilidade fiscal e independência institucional do Federal Reserve, reforçando a credibilidade do país no mercado global.
Considerações Finais
A política econômica de Trump em relação à China está, de fato, desmantelando os avanços conquistados. As medidas vigentes estão exacerbando a fragilidade da indústria americana, alienando aliados e retórica envolvente dos líderes locais. O futuro bem-sucedido da relação dos EUA com a China dependerá não de um retorno a táticas do passado, mas de uma construção cuidadosa de estratégias que enfatizem a cooperação e a inovação em um mundo cada vez mais competitivo.
Reavaliar a abordagem em relação à China não é apenas uma questão de política externa, mas uma necessidade para garantir a sustentabilidade da liderança americana. Um esforço consciente para criar um ambiente que favoreça a inovação, a colaboração internacional e o fortalecimento da posição econômica dos EUA é primordial para enfrentar este desafio do século XXI com eficácia e resiliência.
Que esse período de reavaliação nos leve a um novo entendimento, promovendo o diálogo e a colaboração, ao invés da hostilidade, permitindo que os EUA não apenas mantenham sua posição, mas também se reinventem para prosperar em um cenário global em constante evolução.




