O Despertar da Diplomacia: o Desafio da Coreia do Norte no Horizonte de Trump
A volta de Donald Trump à Casa Branca está reconfigurando a abordagem dos EUA em diversas questões globais, incluindo comércio, o conflito na Ucrânia e os desafios no Oriente Médio. No entanto, o que fica em evidência é a relativa falta de atenção dada à Coreia do Norte, mesmo com o regime de Kim Jong Un se fortalecendo e adotando posturas cada vez mais provocativas. Neste contexto, a Coreia do Norte realizou, apenas neste ano, cinco testes de mísseis, desviou cerca de 1,5 bilhão de dólares em criptomoedas, enviou tropas para apoiar a Rússia na guerra contra a Ucrânia, e apresentou seu maior destróier, um navio de guerra de 5.000 toneladas, equipado com tecnologia avançada.
A Nova Realidade Nord-Coreana
Ignorar a Coreia do Norte não é uma opção viável. Se deixada sem supervisão, o regime poderia intensificar seus testes nucleares, aprofundar suas alianças com nações como China, Irã e Rússia, e desenvolver armamentos que representem uma ameaça real ao território dos EUA. Nos primeiros cem dias das presidências de Trump, Pyongyang já havia realizado mais ações hostis em relação aos Estados Unidos e à Coreia do Sul do que em qualquer outro período desde a administração Nixon. Portanto, manter-se inerte diante de tais sinais é um erro de segurança nacional.
Retomando o Diálogo
Para frear esses desdobramentos indesejados, uma conversa com a Coreia do Norte se faz urgente. Contudo, como isso pode acontecer? Historicamente, qualquer revisão de políticas internas dos EUA tende a criticar as falhas de administrações passadas. O governo Biden, por exemplo, viu a Coreia do Norte realizar um recorde de 162 provocações, superando a soma de ações durante as três administrações anteriores. Por outro lado, Trump construíra uma "grande relação" com Kim Jong Un, estabelecida em três cúpulas durante seu primeiro mandato. No entanto, desde então, não houve engajamento significativo entre os líderes, permitindo que a Coreia do Norte atuasse sem restrições, prejudicando a segurança dos EUA e de seus aliados.
Trump, sempre buscando resultados tangíveis, pode agora considerar concessões significativas para firmar um acordo com Kim, mesmo que isso signifique correr riscos à segurança nacional e desagradar aliados. O cenário atual oferece à Coreia do Norte uma vantagem inegável em termos de poder de barganha.
A Situação Atual da Coreia do Norte
Desde as reuniões de 2018 e 2019, a posição de Pyongyang se tornou ainda mais robusta. O apoio militar e econômico da Rússia é significativo, disponibilizando a Kim o que ele precisa: alimentos, combustível, moeda forte e tecnologia militar. Isso é crucial, especialmente após os efeitos devastadores da pandemia de COVID-19 na economia norte-coreana. Além disso, a aproximação entre China, Irã e Rússia fortalece a posição de Kim, impulsionando ações que desafiam a ordem global.
Os embargos da ONU contra a Coreia do Norte, uma tentativa de controlar suas atividades militares, foram diariamente desafiados, especialmente com o veto da Rússia à renovação de sanções. Hoje, o comércio entre a Coreia do Norte, a China e a Rússia flui livremente, solidificando a estatura militar de Kim, que hoje possui uma artilharia impressionante, com cerca de 50 armas nucleares e capacidade para desenvolver ainda mais.
Armamentos Genocidas e Concessões Inquestionáveis
Um ponto crucial a se considerar é que Kim Jong Un não vai abrir mão de suas armas nucleares apenas em troca de benefícios. Ouro e cimento podem ser atraentes, mas para ele, a segurança do seu regime é primordial – uma lição extraída da história da Ucrânia. Além disso, a estratégia de "máxima pressão" utilizada anteriormente se tornou inviável devido ao suporte econômico que a Coreia do Norte recebe da China e da Rússia. Impondo sanções severas, os EUA não conseguirão um resultado positivo, dado o apoio que Pyongyang agora possui.
Aprendendo com os Erros do Passado
Trump foi o primeiro presidente dos EUA a buscar uma diplomacia de cúpula com a Coreia do Norte, mas suas tentativas anteriores não surtiram efeito. Ele parecia mais interessado em construir um relacionamento pessoal com Kim do que em abordar diretamente questões de desnuclearização. As decisões de Kim, porém, baseiam-se em cálculos de interesse próprio, não em promessas de amizade.
O Potencial de um Quarto Encontro
O glamour e a pompa de um quarto encontro entre Trump e Kim podem seduzir o ex-presidente, e ele já deixou claro sua disposição de participar de negociações. No entanto, como garantir que Kim concorde em dialogar? As sanções perderam seu apelo, e a persuasão familiar de Trump pode não ser suficiente. Portanto, ele precisaria ampliar o escopo de incentivos para tornar um acordo viável e realista.
Um acordo futuro pode não se concentrar tanto na desnuclearização total, mas sim na limitação de ameaças imediatas aos EUA. Isso poderia incluir um acordo sobre a proibição de testes nucleares e desenvolvimento de mísseis intercontinentais, além do compromisso de não fornecer tecnologia bélica a estados ou grupos no Oriente Médio.
O Que Está em Jogo?
Para qualquer uma das partes, ceder a objetivos consolidar os laços regionais e ressignificar a posição da Coreia do Norte é necessário. Para isso, um possível acordo que permita a retirada das tropas norte-americanas da península poderia ser aprofundado. Tal decisão, no entanto, colocaria em risco as alianças consolidadas com a Coreia do Sul e despertaria o desejo de Seul por armas nucleares próprias, uma consequência indesejada na dinâmica de segurança regional.
Exemplos de como isso poderia se desenrolar no futuro incluem um novo arranjo de segurança, onde aliados como a Coreia do Sul poderiam começar a fornecer armas aos Estados Unidos. Isso poderia, por sua vez, servir para aumentar a capacidade militar dos EUA, ajustando a colaboração para enfrentar novos desafios emergentes.
A Visão de Longo Prazo
Transformar a Coreia do Norte em um parceiro não é algo simples, mas verdadeiramente necessário. Uma estratégia que permita estabelecer um compromisso real com Kim, oferecendo não só segurança, mas também oportunidades comerciais, pode ser a chave.
A proposta de estabelecer um corredor ferroviário que conecte a Coreia do Norte a economias como a russa e a sul-coreana poderia não apenas facilitar o transporte de bens, mas também inserir a Coreia do Norte em um papel que desafiasse seu status de pária internacional.
Reflexões Finais
A relação entre os EUA e a Coreia do Norte está em uma encruzilhada. As táticas tradicionais de diplomacia não surtiram efeito e uma abordagem nova e ousada é necessária. Enfrentar Kim Jong Un em um novo cenário requer risco, mas pode também abrir uma janela para um futuro mais estável na região.
A busca de Trump por um prêmio Nobel da paz, além do desejo de encerrar os conflitos em áreas como a Ucrânia, faz dele um ator único neste cenário. O caminho adiante não é claro, mas manter-se inerte diante das ações da Coreia do Norte será um erro fatal. A hora de agir é agora. Que tipo de acordo a Coreia do Norte e os EUA podem realmente alcançar? O futuro se desenha como uma nuvem de possibilidades, e apenas o tempo dirá quais caminhos serão trilhados.