A Necessidade de Realismo na Transição Energética Global

Nos últimos anos, a transição energética tem sido um tema recorrente nas pautas políticas e econômicas globais. No entanto, há um crescente entendimento, mesmo entre especialistas céticos, de que essa jornada precisa de uma boa dose de realismo. Com um cenário macroeconômico incerto e reações cada vez mais visíveis contra políticas verdes em diversas nações, a trajetória rumo à sustentabilidade energética enfrenta desafios significativos.
Investimentos Insuficientes e Retorno ao Tradicional
O que os dados revelam?
Segundo a BloombergNEF, a transição energética exigirá investimentos de aproximadamente US$ 5,6 trilhões (o equivalente a cerca de R$ 30 trilhões) anualmente entre 2025 e 2030. Apesar dessas necessidades vultuosas, o capital tem retornado maciçamente ao setor de energia tradicional, com muitos investidores hesitando em continuar apostando no verde.
Um acontecimento marcante foi o colapso da Net Zero Banking Alliance (NZBA), que, logo após sua criação em 2021, uniu quase 150 instituições bancárias. Saídas significativas ao longo deste ano diminuíram sua influência e culminaram em seu desmantelamento. Esse episódio é um claro sinal das dificuldades em financiar a transição dos combustíveis fósseis para alternativas mais sustentáveis.
Empresas de Energia e o Enfoque em Hidrocarbonetos
Grandes corporações do setor energético não têm se mostrado diferentes nesse aspecto. Muitas delas têm reduzido investimentos em soluções verdes e voltado seu olhar para um aumento na exploração de hidrocarbonetos, destacando a busca por receitas imediatas em um cenário volátil.
Eventos Recentes e Reflexões
As discussões sobre como conduzir essa transição foram recentemente abordadas na Duke of Edinburgh Future Energy Conference, realizada em Londres. Organizada pela The Worshipful Company of Fuellers, uma das tradicionais livery companies da cidade, a conferência trouxe à tona preocupações sobre a velocidade, custo e eficácia das soluções energéticas propostas.
Lucian “Lou” Pugliaresi, presidente da Energy Policy Research Foundation, fez declarações impactantes durante o evento. Ele destacou que, embora vivamos uma era marcada pela eletrificação, as fontes renováveis ainda apresentam intermitências, levando à dependência contínua de hidrocarbonetos. Pugliaresi também observa que a transição do carvão para o gás natural é um exemplo prático e eficaz de descarbonização que já produziu resultados significativos.
O Papel da Demanda Tecnológica na Energia
Um outro aspecto importante a ser considerado é o impacto da crescente demanda do setor tecnológico por eletricidade. Esse aumento, segundo Pugliaresi, está impulsionando o uso de todos os tipos de combustíveis, e não apenas os renováveis. “Os ‘tech bros’ necessitam de energia, independentemente da origem,” diz ele.
O Que Esperar do Futuro?
Pugliaresi sugere que, se a trajetória atual continuar, é provável que vejamos um aumento no consumo de gás natural no médio prazo e um papel mais relevante da energia nuclear no longo prazo. Ele enfatiza a importância de realizar decisões informadas, com diálogo e colaboração entre todos os setores da cadeia energética.
Christof Rühl, economista internacional do Center on Global Energy Policy da Universidade Columbia, também compartilhou insights valiosos no evento. Rühl argumenta que, nos últimos 35 anos, o progresso na transição energética não é necessariamente para ser celebrado, considerando que a demanda global continua a depender fortemente de petróleo e gás.
Reflexões sobre Crises e Hidrocarbonetos
Durante a crise de preços de energia desencadeada pela guerra entre Rússia e Ucrânia em 2022, Rühl observou que os combustíveis fósseis “salvaram o dia”. Essa observação destaca como, mesmo em um mundo que busca alternativas mais limpas, a dependência de hidrocarbonetos ainda é palpável e relevante para a estabilidade econômica global.
Ele também comentou sobre como os Estados Unidos se tornaram exportadores líquidos de energia, uma mudança que alterou a dinâmica dos mercados e ajudou a estabilizar os preços do petróleo, situações críticas para muitas economias ao redor do mundo.
O Futuro dos Hidrocarbonetos na Matriz Energética
Rühl acredita que o uso do petróleo continuará a ser relevante no cenário energético mundial. “A extração de hidrocarbonetos fará parte do menuzinho de recursos energéticos nas próximas décadas,” afirma ele. Embora paralelamente haja um impulso para investimentos na transição energética, também haverá uma corrida para minimizar custos na extração de hidrocarbonetos.
É inevitável que, enquanto buscamos soluções sustentáveis, a indústria energética também continue a evoluir e a utilizar os recursos disponíveis da forma mais eficiente possível.
Considerações Finais
A transição energética, embora necessária, não pode ser abordada de maneira simplista. A realidade exige que consideremos a complexidade envolvida e que reconheçamos as limitações do presente. A busca por um futuro sustentável deve ser balanceada com a compreensão das necessidades energéticas atuais e das dinâmicas econômicas globais.
À medida que navegamos por esse caminho desafiador, é fundamental promover um diálogo aberto, focado em dados e experiências realistas. O futuro da energia não se definirá apenas por inovações tecnológicas, mas também pela capacidade de adaptação e colaboração entre todos os setores envolvidos. Portanto, se você tem uma opinião sobre esse assunto ou deseja compartilhar suas experiências, sinta-se à vontade para comentar e discutir. Afinal, todos nós somos parte dessa transição que pode moldar o nosso planeta para as próximas gerações.




