quarta-feira, março 12, 2025

Revolução Verde: Biopesticida Inova Combate às Doenças do Arroz na Índia!


Getty Images

A Índia se destaca como o maior exportador mundial de arroz

O Desafio do Arroz: Uma Necessidade Global

O arroz é o alimento que sustenta bilhões de pessoas ao redor do mundo, representando 20% das calorias diárias consumidas globalmente. No entanto, a crescente ameaça de pragas e doenças, em especial a Mancha Bacteriana das Folhas (BLB), coloca em risco sua produção. Essa doença, que se manifesta por manchas amarelas ou escuras nas folhas, é particularmente devastadora e prospera em climas quentes e úmidos.

Infelizmente, os agricultores enfrentam uma escassez de soluções eficazes para controlar a BLB. A Ascribe Bio, uma agtech de Nova York, resolveu o problema com o desenvolvimento de um biopesticida inovador que não apenas combate essa doença, mas também promove um aumento significativo na produtividade do arroz, alcançando até duas toneladas adicionais por hectare, conforme revelado em recentes testes de campo.

Um Novo Amanhã para a Agricultura

“Esse biopesticida pode ser um divisor de águas para produtores de todos os tamanhos”, afirma Jay Farmer, CEO e cofundador da Ascribe Bio. A solução, que é obtida a partir de moléculas naturais presentes no microbioma do solo, representa uma alternativa sustentável para os gigantescos 144 milhões de agricultores que cultivam arroz ao redor do mundo.

Ela atua fortalecendo o sistema imunológico das plantas, o que permite que os cultivos resistam melhor a infecções, garantindo maior rendimento e segurança para todos os envolvidos no processo — desde os agricultores até os consumidores finais.

Estratégias de Manejo Insuficientes

As abordagens convencionais usadas para prevenir a BLB têm se mostrado limitadas. Os pesticidas químicos, como os sais de cobre, oferecem somente proteção reduzida e prejudicam a saúde do solo. Além disso, o uso recorrente de antibióticos como estreptomicina e tetraciclina em lavouras de arroz suscita preocupações sobre resistência a antibióticos, conforme alertado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Embora variações de arroz resistentes a doenças possam parecer uma solução promissora, seu desenvolvimento leva anos. “As atuais soluções químicas simplesmente não atendem às demandas dos produtores”, explica Farmer. “Elas são geralmente prejudiciais ao meio ambiente e estão se tornando ineficazes à medida que os patógenos se adaptam.”

A Urgência da Situação na Índia

Como líder global na exportação de arroz, com 22 milhões de toneladas enviadas anualmente e 27% da produção mundial, a segurança alimentar da Índia é de extrema importância. No entanto, a indústria de arroz do país é extremamente vulnerável à BLB, especialmente sob suas condições climáticas quentes e úmidas. Em áreas severamente afetadas, os rendimentos podem cair até 80%, apresentando riscos tanto para agricultores quanto para os mercados internacionais.

Conforme Ramji Singh, doutor e professor da Universidade de Agricultura e Tecnologia de Meerut, ressalta, “A Índia corre riscos econômicos significativos se não controlar os surtos de BLB. A diminuição da produção pode prejudicar a oferta interna e o mercado de exportação.” Isso, por sua vez, pode levar a aumentos nos preços, afetando consumidores e os programas governamentais de segurança alimentar.

Desafios dos Pequenos Produtores

Erika Balzarelli, fundadora da The Sustainable Smallholder, enfatiza os desafios enfrentados por pequenos agricultores na Índia e no Sudeste Asiático no que diz respeito ao manejo da BLB. De acordo com ela, os tratamentos tradicionais estão se tornando menos eficazes, fazendo com que muitos agricultores dependam de antibióticos em doses excessivas. Isso não apenas prejudica o meio ambiente, mas também acelera a resistência das plantas e onera financeiramente os pequenos produtores.

O Impacto Promissor do Biopesticida

Os testes de campo conduzidos pela AgReveal com o novo biopesticida mostraram resultados impressionantes. Srinivas Veeranki, diretor executivo da AgReveal, descreve essas descobertas como um “avanço significativo” para a segurança alimentar global, além de aprimorar a resiliência da produção de arroz frente aos desafios ambientais e de mercado.

Os estudos realizados em 17 locais indicaram uma redução de 83% na severidade da BLB em lavouras tratadas com o biofungicida, superando os tratamentos convencionais em mais de 20% e gerando um aumento de até 30% nos rendimentos onde a pressão da BLB era elevada. Na média, o biopesticida elevou os rendimentos em 13% nas diversas localidades testadas, mostrando-se eficaz também contra outras doenças do arroz.

Além disso, o produto é totalmente compatível com as práticas agrícolas convencionais, mostrando-se viável e promissor tanto para pequenos quanto para grandes produtores de arroz.

A Relevância do Biopesticida no Cenário Atual

Os resultados positivos obtidos estão alinhados com as diretrizes das Conferências do Clima e da Biodiversidade (COPs) de 2024, que enfatizam a combinação de conhecimentos tradicionais com soluções inovadoras e modernas. Este alinhamento destaca a importância de incorporar a sustentabilidade na agricultura para enfrentar os desafios crescentes impostos pelas mudanças climáticas.

Perspectivas de Crescimento para a Produção de Arroz

Com a demanda por arroz projetada para aumentar em 11,12% até 2030, o desafio será expandir a produção de maneira sustentável, dado que o cultivo de arroz tem uma pegada ambiental significativa. A necessidade de práticas agrícolas mais sustentáveis se torna ainda mais evidente quando consideramos que os campos alagados de arroz são responsáveis por cerca de 8% das emissões de gases de efeito estufa da agricultura.

O crescimento das práticas de agricultura orgânica e a crescente conscientização do consumidor sobre insumos sustentáveis são sinais de uma mudança positiva no setor. Estima-se que a indústria de agricultura orgânica, que vale US$ 170,8 bilhões em 2022, deverá alcançar impressionantes US$ 375,8 bilhões por volta de 2030.

Superando Barreiras para a Adoção de Biopesticidas

O mercado de produtos agrícolas biológicos, que incluem biopesticidas, biofertilizantes e biostimulantes, deve crescer de US$ 16,67 bilhões em 2024 para US$ 31,84 bilhões até 2029. Esse crescimento é impulsionado não apenas pela crescente preocupação com o meio ambiente, mas também pelas mudanças nas regulamentações globalmente, especialmente nas regiões da América do Norte, Europa e Ásia-Pacífico.

Com o avanço na regulação do Brasil e dos EUA, e planos para aprovação em países asiáticos-chave, o futuro do Phytalix parece promissor. Superar desafios de adoção, como custo e eficácia, é fundamental para impulsionar a utilização desse biopesticida em larga escala na produção de arroz em todo o mundo.

Um Olhar para o Futuro da Agricultura

Imagine uma agricultora, sob o sol escaldante, caminhando por suas plantações de arroz afetadas pela BLB. As folhas vibrantes, agora manchadas, revelam a gravidade da situação. Sem um tratamento eficaz, sua colheita pode ser comprometida, afetando sua capacidade de sustentar sua família e pagar dívidas. Essa é a realidade que muitos agricultores estão enfrentando hoje.

Num mundo onde mais da metade da população depende do arroz para sua alimentação, e onde 90% da produção está concentrada na Ásia, a necessidade de soluções eficazes e sustentáveis é urgente. O arroz não apenas representa uma fonte crucial de nutrição, mas é também a base do sustento de milhões de pequenos cultivadores.

Diante de mudanças climáticas que exacerbam a disseminação da BLB, a adoção de biopesticidas como o desenvolvido pela Ascribe Bio pode oferecer uma nova esperança. Ao tratar a BLB de forma natural e eficaz, os agricultores podem melhorar sua produtividade e sustentabilidade. “Estamos equipando produtores ao redor do mundo com opções biologicamente válidas que favorecem tanto a produtividade quanto a saúde do meio ambiente”, afirma Farmer.

O que está em jogo é muito mais do que apenas uma colheita; trata-se da segurança alimentar, da estabilidade econômica e da possibilidade de um futuro melhor para os pequenos agricultores e suas famílias. Ao implementarmos inovações que respeitam a natureza, podemos pavimentar o caminho para uma agricultura mais resiliente e sustentável.

*DAPHNE EWING-CHOW é colaboradora da Forbes EUA. Com experiência em sistemas alimentares e meio ambiente, já atuou em renomados veículos de comunicação como The New York Times e The Sunday Times.

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