O Novo Cenário Sírio: Desafios e Oportunidades para Israel e Turquia
No final de 2022, uma mudança significativa ocorreu na Síria: um consórcio de facções rebeldes, liderado por Hayat Tahrir al-Sham (HTS), conseguiu derrubar o ditador Bashar al-Assad, que havia governado por mais de 50 anos. Essa transição apresentou um novo contexto político e social em Damasco, que herda as consequências de uma guerra civil devastadora que durou 13 anos. Com o líder da HTS, Ahmed Al-Shara, no controle, potenciais intervenções estrangeiras se tornaram um foco de atenção, especialmente entre os vizinhos Israel e Turquia.
A Ascensão da Turquia na Síria
A Turquia se posicionou como a principal potência militar na Síria. Desde 2019, com o HTS mantido em Idlib, Ancara teve um papel crucial na criação de uma zona de segurança no norte da Síria. Essa estratégia foi fundamental para proteger o HTS das forças de Assad e, ao mesmo tempo, para impedir a ascensão da autonomia curda, que ganhou força no caos bélico.
Além disso, a Turquia visa repatriar os aproximadamente três milhões de refugiados sírios que atualmente residem em seu território. É uma estratégia que busca não apenas segurança, mas também estabilidade política e social.
As Ambições de Israel
Israel, por sua vez, está atenta a este novo cenário. Historicamente, Assad era aliado do Irã, principal adversário de Israel, e sua queda representa uma oportunidade estratégica. A reconfiguração da influência no sul da Síria é uma das prioridades israelenses, principalmente em relação ao estabelecimento de zonas de amortecimento que poderiam prevenir o avanço do extremismo.
A preocupação de Israel se intensifica, principalmente em relação à presença turca, que poderia facilitar a atuação de grupos anti-israelenses. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, com frequência expressa retórica hostil, o que agrava as tensões.
A Luta por Influência
Os líderes israelenses sentem um sentido de urgência. Desde a queda de Assad, Israel tem se esforçado para consolidar sua influência, bombardando alvos militares relacionados ao novo regime sírio e estabelecendo uma zona de controle no sudoeste, próxima às Colinas de Golan. A segurança da comunidade israelense é uma prioridade e o governo adotou uma postura proativa na defesa de sua fronteira.
Israel enfrenta agora o desafio duplo de lidar com as ambições turcas e construir um novo relacionamento com a Síria. Diferentes correntes dentro do governo israelense divergem sobre como abordar essas questões, com alguns defendendo a colaboração com Al-Shara, enquanto outros, liderados pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, ardendo com desconfiança em relação a qualquer governo sob influência islâmica.
A Necessidade de Zonas de Amortecimento
A implementação de zonas de amortecimento se tornou uma estratégia indispensável para Israel. Os líderes israelenses buscam aprender com os erros passados, especialmente ao considerar os ataques de 7 de outubro de 2023, que devastaram a segurança interna. O conceito de zonas de amortecimento busca moldar proativamente o ambiente de segurança ao invés de apenas reagir às ameaças.
Os recentes conflitos entre grupos sunitas e a minoria druida no sul da Síria também alarmam Israel. Em resposta, bombardeios em Damasco acontecem regularmente para evitar qualquer ameaça que possa surgir na região.
O Papel dos EUA e as Implicações Regionais
A presença militar dos EUA na região está sob constante avaliação. Com o rebaixamento do número de tropas americanas na Síria, cresce a preocupação de que a Turquia se torne a força dominante, impactando ainda mais o equilíbrio regional. Isso suscita questões sobre a autonomia síria e sobre o potencial retorno da influência iraniana na área.
Oportunidades para o Diálogo
Israel e Turquia compartilham de um histórico de relações diplomáticas, embora tensões recentes tenham desgastado essa conexão. Contudo, ambos países têm um interesse comum em impedir o ressurgimento da influência iraniana. A busca por uma nova ordem regional que beneficie ambos os lados é uma possibilidade que não pode ser ignorada.
Para isso, é essencial que Israel mantenha um canal de diálogo aberto, evitando antagonismos. Investir em comunicação, seja através de canais oficiais ou de backchannels, pode facilitar a resolução de conflitos e a construção de uma compreensão mútua.
Perspectivas para o Futuro
À medida que a situação na Síria evolui, Israel deve ser estratégico e cauteloso. Um equilíbrio entre segurança nacional e relações diplomáticas será crucial. A elaboração de critérios claros para um relacionamento com o novo regime poderá abrir caminhos para o alívio das sanções e estimular investimentos da comunidade internacional na reconstrução da Síria.
Além disso, Israel pode se beneficiar ao declarar que não possui reivindicações territoriais sobre a Síria, enfatizando que suas zonas de segurança são temporárias enquanto o regime atende a padrões internacionais. Essa abordagem ajuda a suavizar a imagem de Israel na região e pode contribuir para uma presença pacífica e respeitosa.
Um Chamado à Ação
O novo regime na Síria traz desafios, mas também oportunidades. O momento é propício para que Israel e Turquia reavaliefem suas estratégias e reflitam sobre o futuro da região. Com um cenário geopolítico em transformação, é vital que líderes de ambos os países busquem uma nova ordem que não apenas impeça a escalada de hostilidades, mas também promova ecoações positivas e um futuro próspero para todos os envolvidos.
A era das incertezas exige abertura ao diálogo e a busca por soluções colaborativas. Como você vê o futuro dessas relações no contexto sírio? Compartilhe suas opiniões e contribuições.