Impactos da Guerra Comercial nos Mercados Financeiros: O Foco no Dólar e as Reações Globais
(Bloomberg) — Após semanas de tensão provocadas pela possibilidade de uma guerra comercial impulsionada pelos Estados Unidos, os mercados financeiros estão de volta à ativa nesta segunda-feira (3), enfrentando a nova realidade imposta por tarifas substanciais. Com a ameaça de impostos gerais sendo executada pelo presidente Donald Trump, que inclui uma taxa de 25% sobre o Canadá e o México e 10% sobre produtos chineses a partir de terça-feira, os investidores já se posicionam nas primeiras negociações na Ásia.
O Dólar em Alta: Reflexo da Incerteza
Nos primeiros momentos do pregão, o dólar americano viu uma valorização em relação à maioria das suas principais moedas. Por outro lado, o dólar canadense caiu para seu nível mais baixo desde 2003, enquanto o peso mexicano sofreu uma desvalorização de mais de 2%. O dólar australiano, também sensível a riscos e diretamente afetado pelas tarifas propostas, recuou cerca de 1%, e o yuan chinês teve uma desvalorização de aproximadamente 0,5%.
Desde a eleição de Trump, as discussões sobre tarifas têm fortalecido o dólar. Na semana passada, o índice Bloomberg Dollar Spot Index atingiu a maior alta desde novembro, refletindo uma valorização quase de 1%. Em contraste, as ações nas bolsas americanas caíram, com setores como montadoras e empresas com forte exposição ao mercado chinês liderando as perdas. A pressão nos mercados de títulos também aumentará, já que os investidores hesitam entre se concentrar no risco elevado ou nas preocupações inflacionárias.
Stephen Jen, CEO da Eurizon SLJ Capital, expressou preocupação sobre as tensões comerciais, afirmando que outros países são politicamente obrigados a retaliar ou adotar medidas semelhantes às dos Estados Unidos. Esta dinâmica tende a fortalecer ainda mais o dólar e a elevar os rendimentos das obrigações americanas no curto prazo.
O Efeito das Tarifas no Cenário Global
As tarifas promovidas por Trump são vistas como um combustível para a pressão inflacionária nos EUA e, conforme alguns especialistas preveem, terão um impacto econômico mais severo em países estrangeiros do que nos Estados Unidos. A demanda por importações americanas pode diminuir à medida que os produtos se tornem mais caros, prejudicando as moedas de países que dependem das exportações para os EUA.
Shoki Omori, estrategista-chefe global da Mizuho Securities, afirmou que, apesar de Trump ter mencionado que o dólar está muito forte, a tendência fundamental de valorização provavelmente será sustentada por tarifas e pressões inflacionárias domesticas.
Karl Schamotta, da Corpay, também alertou que a pressão sobre o peso mexicano e o dólar canadense seria intensa assim que os mercados abrissem na Ásia, sinalizando um período de ajustes potencialmente dolorosos nas próximas semanas.
Tarifas e os Desafios da Economia Mexicana
No contexto mexicano, as tarifas são acusadas de conter um impacto contracionista claro. Olga Yangol, chefe de pesquisa e estratégia de mercados emergentes do Credit Agricole, previu uma variação no peso para cerca de 23 por dólar, evidenciando a forte deterioração em relação aos 20,67 por dólares que traçavam a última negociação antes do anúncio.
Enquanto isso, as posições vendidas líquidas no dólar australiano alcançaram seu patamar mais alto em quase uma década, totalizando US$ 4,5 bilhões. A União Europeia também enfrenta ameaças de tarifas, deixando o euro vulnerável, possivelmente em direção à paridade com o dólar em março, segundo análises da Mizuho EMEA.
A Nova Realidade nas Bolsas de Valores
Com o cenário relacionado às tarifas sendo agora uma realidade, os traders monitoram as flutuações nos mercados acionários, especialmente em setores que estão na linha de frente de qualquer conflito comercial. Um índice de ações do UBS Group AG, suscetível a tarifas, teve uma queda de quase 4% na última sexta-feira, resultado de preocupações de que essas taxas poderiam aumentar ainda mais a inflação e comprometer os resultados financeiros.
Empresas do setor automotivo, como General Motors e Stellantis, que têm cadeias de suprimentos interligadas globalmente e grande exposição ao mercado mexicano e canadense, devem enfrentar movimentos significativos. Até mesmo fabricantes de veículos elétricos, como Tesla e Rivian, podem ser impactados.
O índice Nasdaq Golden Dragon, que contempla empresas com operações na China e listadas nos EUA, também sofreu, caindo 3,5% na sexta-feira. Prashant Newnaha, da TD Securities, alertou que tarifas e retaliações são inevitáveis, prenunciando um cenário complicado nas cadeias de suprimentos.
A Dinâmica do Mercado de Títulos
Enquanto os títulos do Tesouro dos EUA conseguiram registrar ganhos no início do ano, com dados de inflação abaixo do esperado, os investidores no mercado de renda fixa agora enfrentam o desafio de equilibrar o aumento do risco com as possíveis consequências inflacionárias das tarifas. O índice Bloomberg US Treasury subiu em torno de 0,5% até aqui.
Insights de analistas, como Gregory Faranello, da AmeriVet Securities, apontam que o cenário financeiro pode passar por uma transformação com a volatilidade nas taxas. “O momento é tumultuado e será um erro se prendermos a uma visão estática agora”, disse Faranello, enfatizando a necessidade de previsão de mudanças rápidas.
Conclusões e Reflexões Finais
À medida que o cenário da guerra comercial se desenrola, a incerteza permeia todos os segmentos do mercado financeiro, levando investidores a adotar posturas mais defensivas e acompanhar as movimentações com cautela. Enquanto muitos se questionam sobre a verdadeira extensão das retaliações que podem advir das políticas comerciais de Trump, é claro que as águas turvas da economia global demandam uma vigilância contínua e uma análise atenta das tendências emergentes.
O que devemos contemplar é como a história se desenrolará a partir desse ponto, e até onde esses novos conflitos comerciais podem nos levar. Você é um investidor? Como você está se preparando para navegar por este mar de incertezas? Compartilhe suas opiniões e experiências!