A Tempestade Política nas Forças Armadas dos EUA: O Que Esperar com a Nova Administração Trump
Durante sua campanha de reeleição em 2024, o agora presidente dos EUA, Donald Trump, fez uma promessa ousada: desvincular as Forças Armadas do que ele chamou de "generais woke". Essa promessa foi só a ponta do iceberg. Logo após sua vitória em novembro, o The Wall Street Journal trouxe à tona planos de Trump de criar uma espécie de conselho militar composto por oficiais de alta patente aposentados, com a missão de identificar e afastar generais e almirantes em atividade que ele considerasse inadequados. Além disso, especulações apontam que sua equipe já estava elaborando uma lista de oficiais para possíveis demissões, ou até mesmo processos de corte marcial.
A Nostalgia do Populismo e a Desconfiança nas Instituições
O movimento de Trump contra o establishment militar não é uma surpresa; por definição, líderes populistas frequentemente buscam estabelecer laços com as Forças Armadas, tentando conquistar a aprovação pública através da veneração a oficiais e soldados, especialmente os que perderam a vida em combate. Contudo, essa relação frequentemente se desfaz rapidamente, pois esses líderes não toleram instituições robustas e independentes que possam representar barreiras ao seu poder. Historicamente, em nações como Hungria, Índia, Israel, Polônia e Turquia, líderes populistas, após um período de alianças, voltaram suas atenções contra os militares.
Alguns dos métodos utilizados por esses líderes incluem:
- Deslegitimação dos Líderes Militares: Caracterizar oficiais como incompetentes ou traidores.
- Purga de Oficiais: Deslocar oficiais considerados desleais e substituí-los por aliados políticos.
- Interferência nas Estruturas de Comando: Redefinir as funções autonomamente militares para aumentar o controle político.
Com isso, os militares acabam fragilizados e menos aptos a lidar com ameaças à segurança nacional.
O Impacto de um Exército Politizado
Reivindicar um enfoque no fortalecimento das Forças Armadas enquanto promove uma purga de seus líderes só pode ser visto como uma hipocrisia. O que está em jogo não é a fortaleza do aparato militar, mas sim a construção de uma força armada politizada, obediente a diretrizes ideológicas e leais a Trump, e não à Constituição ou à integridade da instituição. Essa tática pode resultar em sérias consequências, tanto para a democracia quanto para a capacidade de combate das Forças Armadas dos EUA.
A retórica populista frequentemente separa o "povo puro" dos "elites corruptas", e essa visão distorcida reflete-se no tratamento de instituições tradicionais, como o exército. Nos primeiros momentos de ascensão ao poder, esses líderes frequentemente buscam apoio militar, mas, uma vez consolidados, tendem a deslegitimar suas lideranças.
A Glorificação do Militar e o Uso da Propaganda
O culto à figura do soldado é uma estratégia comum entre populistas. Eles aproveitam-se da imagem dos que morreram em combate, criando narrativas que exaltam seu sacrifício, o que torna esses indivíduos ideais para o discurso propagandista. Essa valorização inicial da figura militar, porém, acaba por se desfazer com o tempo.
Exemplos históricos incluem:
- Narendra Modi na Índia: Seu governo priorizou a construção de memoriais de guerra, como o National War Memorial, destacando a importância dos soldados.
- Recep Tayyip Erdogan na Turquia: Lançou celebrações anuais que festejam vitórias militares históricas, criando um ambiente propício para a reverência aos militares, antes de eventualmente impor uma série de purgas aos oficiais considerados não confiáveis.
Em países como Polônia e Rússia, as narrativas construídas em torno de suas histórias militares servem também para legitimar ações governamentais opressivas e para cooptar a imagem das Forças Armadas em favor do populismo.
O Perigo da Demonização Militar
Os oficiais profissionais, que deveriam ser a espinha dorsal de um exército eficaz, muitas vezes se tornam alvos das críticas populistas, refletindo em fenômenos preocupantes. Ao disputarem sua legitimidade, líderes populistas demitem ou rebaixam oficiais considerados desleais, e, assim, apagam as linhas que sustentam a competência militar.
Inúmeros casos, como o do governo polonês, que enfraqueceu o judiciário para facilitar demissões de militares, demonstram esse fenômeno. Outro exemplo é a prisão de centenas de oficiais na Turquia após uma tentativa de golpe em 2016, o que serviu como pretexto para uma maior dominação sobre a hierarquia militar.
A Dinâmica Contemporânea e o Papel de Trump
Quando Trump assumiu o cargo pela primeira vez em 2017, sua nomeação de generais aposentados em seu gabinete parecia promissora. No entanto, com o tempo, esse relacionamento azedou. Ao invés de manter a diversidade de opiniões, Trump buscou absoluta lealdade, levando à resignação ou à demissão de todos os generais inicialmente nomeados.
Problemas ainda mais graves emergiram durante sua presidência, como a polêmica em torno dos protestos após a morte de George Floyd, quando a desconfiança nas Forças Armadas se exacerbou. Trump acusou generais de serem "suckers" e "losers", distorcendo a noção de lealdade em relação ao exército. Seus ataques à liderança militar associaram questões políticas, como a "wokeness" do exército, às falhas nas operações militares dos últimos anos, resultando em um notável declínio na confiança do público.
O Futuro das Forças Armadas: Desafios e Reflexões
Os Estados Unidos se encontram em um momento crítico, onde o futuro das Forças Armadas pode ser profundamente impactado por uma administração que não hesita em colocar a lealdade ideológica em primeiro lugar. Os riscos de transformar um exército profissional em uma força subordinada a interesses políticos são vastos e podem comprometer a segurança nacional.
O que está em jogo é a capacidade de um exército de operar de maneira eficaz, baseado em princípios democráticos e em sua própria autonomia. Para fortalecer não só o exército, mas também a democracia, é fundamental que líderes respeitem a instituição militar e as regras que a regem, evitando que se converta em uma ferramenta de coação política.
Nesse cenário, a exortação para a reflexão é clara. O que você, leitor, acha que pode ser feito para proteger a integridade das Forças Armadas e garantir que permaneçam uma instituição confiável e democrática? A conversa está apenas começando, e sua voz é essencial para moldar o futuro que desejamos. Compartilhe suas opiniões e reflexões!