A recente vitória de Donald Trump na corrida presidencial americana gera um clima de expectativa no setor de tecnologia, com uma combinação de esperanças por uma redução na pressão regulatória e incertezas sobre o futuro da inteligência artificial (IA). Em um cenário onde a IA, as big techs, a cibersegurança, a sustentabilidade e a eficiência governamental estão no centro das atenções, o governo Trump promete uma abordagem pragmática e direta. Prevê-se um foco na autonomia nacional e uma diminuição da interferência regulatória. Entretanto, ao mesmo tempo em que surgem promessas de inovação sob uma política “America First”, as repercussões para o ecossistema tecnológico são multifacetadas e potencialmente transformadoras.
Liberdade na Inteligência Artificial: Um Novo Horizonte Inovador?
Trump enxerga a inteligência artificial como um componente crucial para manter a liderança dos Estados Unidos no cenário global, porém com o desejo de eliminar as amarras regulatórias. Ele planeja reverter a Ordem Executiva de Biden que introduziu diretrizes de segurança e privacidade no setor da tecnologia, alegando que essas normas estariam sufocando o crescimento. Para as empresas que atuam na esfera da tecnologia e inovação, isso pode abrir um campo fértil para a exploração da IA, permitindo um espaço maior para testar e implementar novas soluções.
No entanto, essa ausência de regulamentação não é isenta de riscos. Enquanto facilita a agilidade no desenvolvimento, também pode criar um hiato entre as práticas dos EUA e as normas globais de segurança e ética em IA. Um exemplo recente é o progresso europeu em estabelecer um marco regulatório para 2023. A liberdade irrestrita pode, de fato, fomentar a inovação, mas também pode resultar em um mercado americano que se torne uma “zona cinzenta”, dificultando a integração em um cenário global cada vez mais regulamentado.
Big Techs: Um Cenário de Liberdade ou Controle?
As relações entre Trump e as grandes empresas de tecnologia, como Meta e Google, têm sido marcadas por tensão. Ele critica o que vê como monopólios que impactam o discurso público, principalmente em relação a discursos conservadores. A Seção 230, que isenta essas plataformas de responsabilidade pelo conteúdo gerado por usuários, é um alvo claro para reformas — possivelmente até sua revogação. A promessa de Trump de exercer um controle mais robusto sobre as big techs sinaliza que as ações antitruste deverão se intensificar.
Esse contexto pode favorecer o surgimento de novas empresas e startups num mercado menos dominado pelos gigantes da tecnologia, oxigenando o setor. No entanto, essa promessa de uma competição mais “livre” vem acompanhada de um ambiente repleto de incertezas para as empresas já consolidadas. Uma dúvida que paira é como será essa nova configuração no Vale do Silício, e as respostas podem ter um grande impacto sobre o futuro da inovação em larga escala.
Parcerias Transformadoras: O Papel de Elon Musk
Um dos anúncios mais comentados da campanha de Trump é a proposta de criar uma “comissão de eficiência” liderada por Elon Musk. Ao conceder a Musk a liberdade de auditar e reformar o governo federal, Trump busca introduzir no setor público a agilidade típica do ambiente privado. Para o ecossistema tecnológico, essa movimentação sugere a possibilidade de novas parcerias entre o setor público e privado, onde tecnologias de IA, automação e Big Data encontram novas aplicações para a otimização governamental.
Contudo, a realidade de um governo, onde transformações exigem tempo, recursos e uma visão de longo prazo, pode dificultar a concretização desse potencial. Musk, conhecido por sua aversão à burocracia e sua capacidade de inovação, pode catalisar a utilização de tecnologia no governo. Mas, como qualquer grande promessa de eficiência, os riscos de uma mudança tão substancial não podem ser desconsiderados.
Tecnologia e Sustentabilidade: Um Caminho Conturbado
No que tange ao meio ambiente, o cenário pode sofrer uma reviravolta significativa. Trump já manifestou abertamente sua preferência por combustíveis fósseis, prometendo reduzir os incentivos a fontes de energia renovável, como a eólica e a solar. Embora a Lei de Redução da Inflação, implementada por Biden, tenha dado suporte à indústria de energia limpa com incentivos fiscais a longo prazo, Trump promete desacelerar essa transição sempre que possível, priorizando a segurança energética dos EUA sobre compromissos climáticos globais.
Para o setor tecnológico, isso indica um ambiente menos favorável à inovação sustentável, uma área de investimento em ascensão, particularmente em projetos de grande escala. Empresas em busca de soluções de energia limpa podem enfrentar limitações em áreas públicas, em leilões de terras federais e até mesmo com a possível redução de incentivos fiscais. No entanto, a força da economia renovável, sustentada por estados e investidores, é potente o suficiente para garantir seu avanço. Assim, a questão climática já reconhecida como central poderá gerar um descompasso entre o novo governo e o futuro das indústrias tecnológicas.
America First: O Futuro Internacional dos EUA
Finalmente, a política “America First” de Trump vai além de um simples slogan; trata-se de uma postura que pode afetar substancialmente o posicionamento dos EUA nas arenas internacionais. É provável que o país diminua sua participação em iniciativas multilaterais, como o G20 e a COP30, que têm a regulamentação da IA e questões climáticas como foco. Para as empresas americanas, essa retirada pode resultar em um abismo entre as normas locais e os requisitos globais, complicando a expansão em mercados internacionais cada vez mais regulados.
Complexidade e Autonomia: O Futuro do Setor Tecnológico
Em um mundo que valoriza sustentabilidade, transparência e colaboração, o retorno de Trump promete um caminho peculiar para o ecossistema tecnológico. De um lado, a desregulamentação e busca por eficiência podem impulsionar a inovação e fortalecer empresas locais. De outro, essa postura também pode limitar a competitividade global dos EUA, resultando em um isolamento regulatório. O equilíbrio (ou a falta dele) entre inovação e sustentabilidade poderá definir os próximos passos da tecnologia americana.
Para o setor, o recado é claro: o futuro será repleto de oportunidades para aqueles que souberem navegar pelas complexidades e dinâmicas de um governo sob a liderança de Trump. A tecnologia americana, mais do que nunca, precisa se adaptar e encontrar maneiras de prosperar em um entorno que prioriza a autonomia, mas também exige resiliência e visão estratégica.
Reflexões Finais
O mercado tecnológico está passando por um momento crucial e dinâmico. As decisões que serão tomadas nas próximas etapas moldarão não apenas o presente, mas o futuro das empresas e da inovação. É um convite para que todos reflitam sobre como se posicionar nesse novo cenário — o que você acha que será o impacto dessa nova era? Deixe seus comentários e compartilhe suas opiniões.
Sobre o Autor
Iona Szkurnik é fundadora e CEO da Education Journey, uma plataforma de educação corporativa que utiliza Inteligência Artificial para oferecer experiências de aprendizado personalizadas. Com mestrado em Educação e Tecnologia pela Universidade de Stanford, Iona foi parte da equipe que desenvolveu a primeira plataforma de ensino online da instituição. Ela tem vasta experiência no setor de SaaS de edtechs e é cofundadora da Brazil at Silicon Valley, além de mentora e investidora-anjo.
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