quinta-feira, março 13, 2025

Ucrânia em Chamas: 3 Anos de Conflito, Resiliência e a Luz da Esperança


A Guerra na Ucrânia: Três Anos de Desafios e Esperança

No dia 24 de fevereiro de 2022, milhões de ucranianos acordaram ao som de explosões ensurdecedoras. Para muitos, as detonações pareciam ocorrer bem ao lado de suas janelas, transformando suas vidas em um pesadelo. Três anos depois, o país ainda enfrenta ataques constantes, e o trabalho de assistência humanitária se tornou mais do que uma missão; é uma batalha diária pela sobrevivência.

Memórias do Dia Fatídico

“Reviver o dia 24 de fevereiro não é fácil”, confessa Natalia Datchenko, funcionária do Unicef. Em uma conversa com a ONU News, Natalia tenta conter as lágrimas enquanto compartilha as experiências dolorosas e as lições aprendidas ao longo dos últimos anos. “Eu tento não chorar, mas é difícil. Felizmente, tenho alguns lenços à mão”, diz em meio à emoção.

Mesclando o choque da situação à determinação, Natalia revela como sentiu uma energia renovada naquela manhã fatídica. “Eu sabia que precisava ajudar e proteger as pessoas. Era minha obrigação fazer algo”, declara.

Com a escalada do conflito, orientações foram dadas aos funcionários do Unicef para priorizar a segurança pessoal e de suas famílias. Natalia foi forçada a evacuar para Lviv com seus entes queridos, um deslocamento que a expôs a cenas de desespero, como famílias se aglomerando no frio brutal da estação de trem.

Outro relato vem de Lyudmyla Kovalchuk, funcionária da ONU Mulheres, que estava morando perto do aeroporto de Kyiv. Ela recorda como seu bairro foi atacado logo no início da guerra, uma experiência surreal que abalou sua percepção de segurança.

A Vida Continua em Meio à Adversidade

Três anos passaram-se e, apesar da exaustão, a vida em Ucrânia segue. Lyudmyla destaca a importância do suporte da ONU em diversas áreas: psicológica, jurídica, logística e financeira. Muitas mulheres, que estão criando seus filhos sozinhas, estão em busca constante de trabalho para sustentar suas famílias, muitas vezes mudando-se para locais mais seguros.

  • Atualmente, cerca de 70 mil mulheres ucranianas estão servindo ou trabalhando para as Forças Armadas.
  • A demanda por apoio especializado é urgente e crescente.

A ONU Mulheres adaptou sua abordagem, sempre verificando se há abrigo nas proximidades antes de organizar reuniões, além de evitar eventos prolongados. Para Anastasia Kalashnyk, que se mudou de Zaporizhzhia para a capital, a vida mudou drasticamente desde a invasão russa. “Após o dia 24 de fevereiro, meus filhos pararam de ir à escola, e meu marido ficou desempregado. A empresa em que ele trabalhava fechou as portas e deixou o país em questão de dias”, relembra.

Além do estresse familiar, o aumento da carga de trabalho é evidente. Desde 2017, Anastasia se dedicava ao apoio de emergência, sempre focando nas mulheres das regiões afetadas. O surgimento da guerra trouxe um novo desafio: ouvir os relatos de mulheres que fugiram da violência nos territórios ocupados e o destino dos maridos que partiram para a guerra.

Para ajudar essas mulheres traumatizadas, a ONU Mulheres estabeleceu centros de acolhimento, onde elas podem encontrar apoio mútuo e partilhar suas experiências. Um exemplo emocionante é o da ucraniana Elena, que, após chegar ao centro em estado de trauma, encontrou forças para se reerguer e agora se dedica a ajudar os outros.

Os Impactos Humanitários do Conflito

O impacto da guerra é alarmante. De acordo com o Escritório de Coordenação das Nações Unidas para Assuntos Humanitários (OCHA), até fevereiro de 2025, calcula-se que mais de 12,6 mil civis haviam perdido a vida e 29 mil ficaram feridos. Entre os afetados, mais de 2,4 mil são crianças.

Além das perdas humanas, milhões vivem sob o constante medo. Aqueles em áreas ocupadas enfrentam ainda mais dificuldades, com acesso limitado à ajuda humanitária. A OCHA destaca que uma geração inteira de ucranianos está crescendo em meio à guerra. As frequentes agressões à infraestrutura estão exacerbando essa crise.

  • Mais de 10% do parque habitacional na Ucrânia foi destruído ou danificado, deixando cerca de 2 milhões de famílias sem abrigo adequado.
  • Mais de 3,6 mil instituições de ensino foram atacadas, forçando crianças ao aprendizado remoto.

A continuidade dos ataques ao sistema elétrico, por três invernos consecutivos, resultou em cidades sem eletricidade, aquecimento e serviços básicos em temperaturas extremas. No total, 12,7 milhões de pessoas precisam urgente de assistência humanitária.

Raízes de Esperança em Meio ao Caos

Apesar do horror atual, as vozes das mulheres que compartilharam seus testemunhos com a ONU News trazem um sopro de esperança. Anastasia reflete que, apesar do desgaste emocional, seus filhos representam a razão para acreditar em um futuro melhor. “O que as crianças estão passando é uma injustiça não apenas para minha família, mas para todas as famílias na Ucrânia”, compartilha.

A solidariedade demonstrada por organizações como a ONU também é uma fonte de esperança. Anastasia valoriza o fato de que as agências humanitárias não abandonaram o país, mas permaneceram para ajudar. Agora, a união de esforços para a reconstrução é um tema relevante que se discute amplamente, criando um panorama otimista.

Natalia Datchenko, do Unicef, fala sobre a força da união e da solidariedade. “Nos primeiros dias da guerra, havia uma raiva coletiva. Hoje, essa raiva se transformou na vontade de reconstruir nosso país. Queremos não apenas restaurar nossas comunidades, mas fazer ainda melhor, deixando o legado soviético para trás e construindo uma nação nova, fundamentada nos direitos humanos”, enfatiza.

O trabalho de Natalia no Unicef é, para ela, uma fonte de esperança. “Tive a chance de reavaliar nossos programas, desenvolver novos e ouvir as vozes dos mais vulneráveis”, explica. Ela acredita que essa união de esforços é crucial para levar ajuda a quem realmente precisa e é grata aos colegas que permanecem na Ucrânia, em apoio ao país. “Trabalhar para o Unicef me fortaleceu em meio a tudo isso. É uma estratégia que me ajuda a sobreviver”, finaliza.

A Cultura como Fonte de Força

Natalia encontra inspiração na cultura. “Busco motivação na beleza que ainda existe na Ucrânia. Nossos museus estão abertos, concertos continuam ocorrendo e a música reverbera pela nossa terra. Para muitos, a cultura se tornou uma estratégia de sobrevivência”, disse.

Enquanto isso, muitos ucranianos exploram maneiras de continuar suas vidas. “Um dos maiores desafios é o nosso trabalho e o fardo psicológico que carregamos, não apenas para nos apoiarmos, mas também para nutrir aqueles que nos rodeiam”, observa Lyudmyla. “Recentemente, um irmão de um colega desapareceu. Às vezes, é desafiador encontrar as palavras adequadas para confortar alguém, mas, ao mesmo tempo, lidamos com mulheres e meninas que precisam de nosso apoio”, acrescenta.

Resiliência em Tempos Difíceis

Enquanto enfrentam tragédias e crises constantemente, essas mulheres encontram força. “Com cada desafio enfrentado, me sinto mais forte e mais experiente. Existe um ditado que diz: ‘O que não nos mata nos fortalece’. Embora essa frase seja verdadeira, confesso que não gostaria de ter passado pela experiência que a guerra me trouxe”, reflete Lyudmyla.

A resiliência é uma característica vital na jornada da Ucrânia. O processo de cura, a busca por um futuro melhor e o desejo de reconstruir se tornaram o combustível que move este povo. A união, a cultura e a solidariedade estão reescrevendo a história na Ucrânia, mostrando que, apesar do sofrimento, nunca é tarde para se erguer e lutar.

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