A Nova Era Nuclear: Desafios e Oportunidades na Governança Global
À medida que Donald Trump se prepara para iniciar seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, o mundo se vê à beira de uma crescente anarquia nuclear. A competição entre potências nucleares, como China, Rússia e Coreia do Norte, está se intensificando, gerando preocupações sobre o futuro da ordem nuclear global. A expansão incessante das capacidades nucleares da China e as constantes ameaças nucleares da Rússia, especialmente no contexto da guerra na Ucrânia, têm deteriorado a já fragile cooperação entre potências nucleares.
Recentes relatos sugerem que os Estados Unidos também estão considerando expandir seu arsenal nuclear para proteger-se de possíveis agressões coordenadas. Esta série de eventos não apenas fragiliza os fundamentos do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), assinado em 1968, mas também ameaça a segurança global, levando à desilusão de países não nucleares e à possibilidade de novos programas nucleares por nações que até então se absteram de tal ambição.
A Crise do TNP: Riscos e Repercussões
O TNP é o último grande mecanismo legal destinado a preservar a paz nuclear, mas a inação dos estados nuclearizados e a frustração dos estados não nuclearizados em relação aos compromissos de desarmamento geram dúvidas sobre sua eficácia futura. Especialistas como Doreen Horschig e Heather Williams chamam a atenção para a necessidade de um fortalecimento das normas nucleares existentes. Eles sugerem que os EUA busquem parcerias mais robustas com países do Sul Global e criem um diálogo regional entre nações nucleares e não nucleares. Contudo, essas ações podem não ser suficientes.
Em vez de adotar uma postura puramente defensiva, Trump deve considerar uma abordagem mais ousada ao se reunir com líderes nucleares globais para abordar a questão da segurança nuclear. Criar um espaço de diálogo e uma avaliação colaborativa das ameaças nucleares atuais poderia resultar em um entendimento compartilhado sobre a necessidade de um resfriamento das tensões nucleares.
Um Chamado à Ação: Oportunidade para Liderança Global
Trump, que se considera um líder audacioso, deve aproveitar seu primeiro discurso para convocar uma coalizão de líderes das cinco potências nucleares — Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido — para evitar o colapso da ordem nuclear. Um período de avaliação honesta das ameaças atuais, seguido de um "período de resfriamento" de seis meses em atividades nucleares, pode ser a chave para restaurar a confiança entre essas nações.
Com um aumento significativo nas corridas armamentistas, o mundo nunca esteve tão próximo de um possível uso de armas nucleares em quase oitenta anos. A janela para a ação coletiva está se fechando rapidamente, e a segurança dos EUA e de seus aliados está em jogo. Para Trump, iniciar um diálogo construtivo com Putin e Xi Jinping representa uma oportunidade singular de demonstrar liderança global.
Desafios na Governança Nuclear
À medida que as restrições sobre o acúmulo de armas nucleares desaparecem, o futuro do tratado New START, que limita as forças nucleares estratégicas da Rússia e dos EUA, é incerto. Sem sua substituição em 2026, não haverá regulamentação das armas nucleares entre as duas superpotências pela primeira vez desde o Tratado de Limitação de Armas Estratégicas, assinado em 1972. A corrida armamentista nuclear entre os EUA e a China também deve intensificar-se. A China pode aumentar seu arsenal para mais de mil armas nucleares até 2030, levando os EUA a atualizar sua doutrina nuclear.
Esses riscos são prementes, já que tanto especialistas quanto funcionários governamentais estão começando a considerar a possibilidade do uso de armas nucleares em conflitos. O impacto imediato da guerra na Ucrânia e a reação à possibilidade de um ataque nuclear foram tema de intensos debates. Qualquer resposta a esse cenário deve equilibrar a dissuasão de ataques nucleares subsequentes e preservar a norma do "tabu nuclear".
A Necessidade de um Novo Diálogo
Essa insegurança crescente faz com que o TNP perca sua credibilidade como um mecanismo eficaz para combater a corrida armamentista e promover o desarmamento. Países como o Irã estão avançando em suas capacidades nucleares, enquanto outros, como Japão e Coreia do Sul, ponderam a adoção de armas nucleares em resposta a tensões regionais. Essa nova dinâmica pode resultar em uma série de saídas do TNP, colocando em risco a segurança global.
Um diálogo global reimaginado deve incluir um pequeno grupo de ex-oficiais de alto escalão, representando as potências nucleares, para compartilhar preocupações e desenvolver um entendimento sobre as ameaças compartilhadas. Essa abordagem poderia permitir a cada governo permanecer em sua posição oficial enquanto busca um consenso sobre a necessidade de um resfriamento.
Estruturas de Restrições e Avanços
Durante o período de resfriamento, ações específicas podem ser definidas para cada país, evitando comportamentos que possam ser percebidos como ameaçadores. Exemplos disso incluem:
- Estados Unidos: Continuar atividades de modernização sem aumentar o número de ogivas nucleares.
- China: Expandir silos de mísseis, mas não preenchê-los durante esse período.
- Rússia: Evitar exercícios nucleares públicos e limitar retórica belicosa.
Um compromisso explícito de não retomar testes de armas nucleares também deve ser uma prioridade, pois isso restauraria a confiança no TNP e em suas diretrizes.
Um Futuro Possível: Construindo Pontes
Se a avaliação inicial mostrar um reconhecimento suficiente das ameaças mútuas, o período de resfriamento deveria ser estendido, permitindo que duas frentes de diálogo se estabeleçam. A primeira frente poderia tratar da cooperação nuclear entre os EUA, seus aliados da OTAN e a Rússia. A segunda poderia incluir o diálogo entre os EUA, aliados na região da Ásia-Pacífico e a China. O objetivo deve ser desenvolver ações coordenadas que reduzam os riscos bilaterais e fortaleçam o regime do TNP.
Essas discussões podem abrir caminho para acordos mais difíceis no futuro, como a contenção de programas nucleares no Oriente Médio, envolvendo Israel, Irã e Arábia Saudita. Um renascimento da cooperação nuclear pode contribuir para a gestão mais eficaz das relações entre essas potências.
Reflexões Finais: O Caminho a Ser Trilhado
Existem desafios significativos. Durante o seu primeiro mandato, Trump hesitou em renovar o New START e pode enfrentar pressão interna para demonstrar uma postura robusta de dissuasão nuclear. No entanto, sua disposição para aceitar um diálogo pode gerar apoio, mesmo em meio a um cenário internacional desafiador. Caso a abordagem cooperativa não tenha adesão, Trump pode usar isso como um argumento para intensificar ações unilaterais.
A escolha de Trump em seu segundo mandato é clara: buscar uma cooperação que vise evitar a anarquia nuclear ou ser o presidente que testemunha a desintegração da ordem nuclear, dependendo de medidas de dissuasão caras e controversas. À medida que os pilares da ordem nuclear se desmoronam, a ação é urgente. Este é o momento para Trump honrar suas promessas de liderança ousada e propor um novo caminho para a segurança global. Que haja esperança de diálogo e uma nova era de cooperação para um mundo mais seguro.