Nos dias 21 e 22 de março, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil realizará sua 253ª reunião, uma das mais esperadas e complexas de sua história. Além dos desafios econômicos no Brasil e no cenário global, o encontro ocorre em um momento político delicado, com grande expectativa quanto à relação entre o Banco Central (BC) e o Poder Executivo.
Criado em 1996, o Copom é responsável por definir as diretrizes da política monetária e estabelecer a taxa Selic, o principal instrumento de controle da inflação no país. Com reuniões pré-agendadas e ata detalhada divulgada após cada encontro, o comitê promove transparência e previsibilidade à política monetária, diferentemente da maioria das políticas públicas.
O cenário atual traz desafios em várias frentes. Nos Estados Unidos, os dados recentes apontam uma inflação ainda elevada, sugerindo que os juros se manterão altos por mais tempo. Além disso, a recente crise bancária iniciada com o colapso do Silicon Valley Bank levanta dúvidas sobre uma possível mudança de curso da política monetária americana, embora seja cedo para conclusões definitivas.
No Brasil, a inflação está próxima de 6%, longe da meta de 3,25% para 2023, e as contas públicas indicam uma postura fiscal expansionista, especialmente após a PEC da Transição e o recente anúncio de um pacote fiscal pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A proposta de Haddad, embora prometa controlar parte do déficit público, encontra obstáculos como a pressão sobre o programa Bolsa Família, além da postura ativa do BNDES, que projeta novas emissões para aumentar a oferta de crédito.
Esses fatores sugerem que o Copom deve manter uma postura conservadora e não sinalizar cortes de juros no curto prazo. No entanto, a incerteza no mercado de crédito brasileiro também exerce pressão. Empresas enfrentam dificuldades com os juros elevados e o endividamento das famílias atinge picos históricos. Uma desaceleração súbita no mercado de crédito poderia justificar uma comunicação mais flexível sobre uma futura redução da Selic, embora o Banco Central ainda não tenha visto sinais de preocupação.
Outro fator de peso é a pressão política. Desde a posse, o presidente Lula e membros de seu governo manifestaram críticas ao nível atual de juros, e há expectativa por uma sinalização favorável do Copom. Contudo, considerando a situação econômica, um anúncio de corte imediato poderia comprometer a credibilidade do comitê.
Por fim, o anúncio de um novo arcabouço fiscal também pode influenciar a decisão. Mesmo com uma proposta crível, ainda restarão etapas burocráticas e políticas, o que faz com que uma decisão precipitada do Copom seja arriscada.
Diante desse cenário, o comitê deve adotar uma postura técnica e neutra, mantendo a Selic em 13,75% enquanto monitora o desenrolar dos fatos. Qualquer que seja a decisão, é certo que o Copom enfrentará grandes expectativas e um intenso debate.