segunda-feira, junho 9, 2025

Um Novo Caminho para a Paz: A Necessidade de uma Iniciativa Árabe Transformadora


A Necessidade de uma Nova Abordagem para o Conflito Israel-Palestina

Desde o início do conflito em Gaza, líderes americanos têm insistido que a única solução para a crise no Oriente Médio é a criação de um Estado palestino ao lado de Israel. O presidente Joe Biden, em seu discurso sobre o Estado da União de março de 2024, enfatizou: “A única solução real para a situação é a solução de dois estados.” Em declarações posteriores, tanto o Conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, quanto a vice-presidente Kamala Harris reiteraram essa ideia, vendo-a como a única maneira de garantir um futuro digno para os palestinos e segurança para os israelenses.

Mas essa abordagem parece distante e desconectada da realidade para muitos, especialmente para os palestinos. Após anos de sofrimento, destruição e repressão, a maioria dos palestinos não acredita mais que a solução de dois estados seja viável. Pesquisas recentes indicam que muitos agora apoiam a resistência armada, vendo-a como a única forma de luta contra a opressão. Isso se deve não apenas à falta de progresso, mas também à profunda frustração com o que muitos consideram um apoio inabalável dos Estados Unidos a Israel, mesmo ante violações dos direitos humanos e a expansão de assentamentos.

Um Novo Olhar para o Conflito

É hora de uma mudança radical na abordagem global em relação ao conflito israelense-palestino. Em vez de se concentrar apenas na solução de dois estados, é fundamental que os líderes internacionais promovam a igualdade de direitos entre israelenses e palestinos. As nações envolvidas devem pressionar ambos os lados a concordar com regras comuns, deixando a definição final da solução para um momento posterior. É essencial que os países árabes liderem esse movimento, buscando uma resolução fundamentada nos direitos humanos. Caso contrário, iniciativas futuras para a paz têm grandes chances de falhar, como todas as negociações nos últimos 30 anos.

Um Passado Complicado

Durante um breve período nos anos 90 e início dos anos 2000, houve uma oportunidade real para que israelenses e palestinos chegassem a um acordo sobre a solução de dois estados. Mediados pelos Estados Unidos, líderes de Israel e da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) se reuniram em diversos locais, como Camp David e Oslo, para debater a divisão de suas terras. Contudo, essas negociações não lograram êxito por uma série de razões, sendo que as lideranças americanas não deixaram claro que o objetivo final era a conclusão da ocupação israelense.

Além disso, os Estados árabes tentaram compensar as falhas dos EUA propondo um acordo que concedia a Israel garantias de paz em troca do reconhecimento de um estado palestino. Todavia, essa proposta não foi suficiente para estabelecer um acordo duradouro.

O Caminho da Desilusão

Nas últimas duas décadas, a solução de dois estados tornou-se cada vez mais improvável. O governo israelense permitiu que centenas de milhares de cidadãos se estabelecessem em territórios ocupados, como a Cisjordânia e Jerusalém Oriental. Hoje, cerca de 750 mil colonos vivem nessas áreas, numa proporção que constitui 25% da população conjunta. A postura de líderes israelenses se tornou mais defensiva, com muitos alegando que Gaza e a Cisjordânia são "territórios disputados", e não ocupados ilegalmente.

Embora o Ocidente, sob forte influência dos EUA, pudesse ter agido contra esses avanços, as críticas foram ocasionalmente fracas, sem medidas efetivas para interromper a ocupação e a expansão dos assentamentos. O apoio árabe a uma solução para o conflito também esfriou, especialmente quando vários estados começaram a normalizar suas relações com Israel mesmo sem que este tivesse feito concessões significativas aos palestinos.

A Alternativa do Um Estado

Com a solução de dois estados em xeque, alternativas começaram a surgir, como a proposta de um estado único, onde israelenses e palestinos teriam cidadania igual em um país democrático. No entanto, tanto palestinos quanto israelenses expressam receio de que isso possa ameaçar suas identidades nacionais. Um estado unificado pode ser visto como a anulação de sonhos e aspirações.

O resultado é um impasse em que nenhuma solução parece viável. Após o brutal ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, tensões aumentaram e os níveis de desconfiança entre os dois povos se aprofundaram.

Liderança Local e Iniciativas de Direitos

Seria natural pensar que o mundo árabe não está pronto para liderar um novo processo de paz. Não há uma figura com o prestígio do ex-príncipe herdeiro saudita Abdullah, que conseguiu unir os estados árabes em torno da Iniciativa de Paz Árabe de 2002. O movimento da Primavera Árabe (2010-2011) e as prioridades divergentes nas potências regionais fizeram com que muitos governos se afastassem do conflito.

Entretanto, mesmo em sua fragilidade, os estados árabes podem ser os mais bem posicionados para apresentar um novo caminho. Há um consenso de que não existe uma solução militar e que a paz duradoura só pode ser alcançada por meio do reconhecimento e afirmação dos direitos de israelenses e palestinos.

Proposta de Uma Abordagem Baseada em Direitos

A busca por uma abordagem que priorize os direitos humanos se destaca por várias razões. Uma delas é que é difícil, se não impossível, para qualquer um justificar a sua rejeição, desde que se baseie em valores universais. A liderança ocidental deve priorizar direitos em vez de se apegar a soluções temporais que não atendem às demandas de igualdade de todos.

Uma proposta inovadora poderia incluir:

  • Reconhecimento de Direitos: Reconhecer que mais de sete milhões de palestinos e sete milhões de israelenses vivem sob controle israelense e que a desigualdade entre eles perpetua a violência.
  • Negociações sob a ONU: Compromisso mútuo com negociações supervisionadas pela ONU, respeitando normas de direitos humanos e legislativas internacionais.
  • Mecanismo de Responsabilidade: Estabelecimento de um comitê internacional com poder real para garantir que ambas as partes cumpram os prazos acordados e respeitem os princípios estabelecidos.

De acordo com a proposta, ao final de um período pré-estabelecido de negociações, os israelenses e palestinos deveriam definir a forma de resolução, seja um estado, dois estados ou uma nova configuração mais inclusiva.

O Caminho a Seguir

Para implementar essa visão, o surgimento de novas lideranças é essencial. Entre os palestinos, figuras como Marwan Barghouti, que, apesar de estar preso, goza de enorme popularidade e é defensor de uma solução pacífica, representam uma oportunidade. Para os israelenses, no entanto, a situação é mais desafiadora, já que a atual liderança não demonstra inclinação para promover um diálogo produtivo baseado em direitos.

A pressão internacional será crucial. O silêncio diante da expansão da ocupação e da repressão sistemática deve ser contestado. Aceitar o apartheid em qualquer forma é inaceitável e os aliados de Israel devem reconhecer isso, agindo de maneira mais assertiva.

A necessidade é clara: o modelo atual não pode continuar. O futuro de Israel não pode ser definido exclusivamente pelo Projeto Sionista, que já mostra sinais de colapso. Uma nova abordagem, centrada na igualdade de direitos, deve emergir.

Focar nos direitos de israelenses e palestinos, em vez de nas reivindicações de soberania, é o primeiro passo para um futuro onde ambos possam viver em paz e dignidade. Essa é a única alternativa viável e necessária para a estabilidade de uma região marcada por conflitos.

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