Claudia Sheinbaum e a Direção do México: Desafios e Oportunidades na Nova Era Política
A eleição de Claudia Sheinbaum como presidente do México trouxe uma nova dinamicidade ao cenário político do país. Inaugurada em 1º de outubro, Sheinbaum assume o cargo com uma força política sem precedentes desde a transição do México para uma democracia multipartidária, ocorrida nos anos 90. Protagonista de uma vitória histórica com 35,9 milhões de votos — quase 60% do total — a nova presidenta tem o controle de uma supermaioria de dois terços no Congresso. Com seu partido, o Morena, governando 22 dos 31 estados mexicanos, ela está posicionado para implementar reformas que podem moldar o futuro do México.
O Desafio Econômico
Entretanto, a jornada de Sheinbaum não será fácil. As expectativas em relação à melhoria da economia e das condições de vida estão elevadas. Infelizmente, as dificuldades econômicas podem limitar a rapidez com que sua administração poderá atender a essas exigências. A promessa de que o México se tornaria um polo atrativo para a manufatura norte-americana enfrenta obstáculos como a falta de infraestrutura adequada, a escassez crescente de recursos naturais e o aumento da insegurança. Além disso, a instabilidade gerada pela recente reforma do sistema judiciário, que prevê a eleição de juízes ao invés da nomeação, gerou incertezas que também podem desestimular investidores.
Um aspecto adicional que pesa sobre Sheinbaum é a expectativa quanto à diretiva do presidente dos EUA. O desenrolar das eleições norte-americanas em janeiro de 2025 poderá redefinir as relações bilaterais entre México e Estados Unidos, especialmente em questões como segurança, imigração e comércio.
Rumores de Crescimento: Oportunidades em Meio a Incertezas
Nos últimos anos, a tendência de "near-shoring" — a realocação de operações empresariais dos EUA para países vizinhos — trouxe um alívio temporário à economia mexicana. A proximidade geográfica com os EUA, a isenção tarifária sob acordos comerciais e uma densa rede de fornecedores industriais tornam o México um destino atrativo para empresas em busca de alternativas à China. Em 2023, o país superou China e Canadá, se tornando o principal parceiro comercial dos EUA, com mais de 800 bilhões de dólares em transações. No entanto, à medida que as propostas de política econômica de Sheinbaum começam a se definir, há receios entre os investidores quanto à continuidade desse crescimento.
Apesar de se rodear de especialistas e de apresentar um plano robusto de infraestrutura que inclui estradas, ferrovias e portos, a herança do governo anterior ainda pesa. Sheinbaum mantém compromissos voltados para fortalecer estatais em detrimento do setor privado, o que pode criar um clima hostil para novos investimentos. Podem ocorrer mudanças significativas no ambiente de negócios, uma vez que a nova administração busca expandir a presença do governo na economia.
Segurança e a Luta Contra o Crime Organizado
A segurança pública continua sendo uma das grandes preocupações da nova gestão. A violência proveniente do tráfico de drogas e do crime organizado aumentou dramaticamente durante o governo anterior. Sheinbaum se comprometeu a adotar uma postura mais rigorosa em relação à segurança, designando Omar García Harfuch como ministro da segurança pública. Com um histórico significativo na redução da criminalidade em sua gestão anterior, Harfuch propôs uma abordagem que combina o fortalecimento das forças policiais e a inteligência.
No entanto, a proposta de militarização das forças de segurança, em vez de uma estratégia civil, levanta questões sobre a eficácia dessa abordagem em longo prazo. É um grande desafio reverter o crescente domínio do crime organizado na política mexicana.
Desafios Fiscais: Um Orçamento Restrito
A administração de Sheinbaum começa sob um pano de fundo de dificuldades financeiras. O governo anterior já havia comprometido consideravelmente os recursos públicos, deixando um déficit fiscal alarmante. Os gastos excessivos em programas sociais e grande infraestrutura tornaram o espaço fiscal extremamente restrito. Recentes relatórios indicam que cerca de 35 bilhões de dólares em capital estrangeiro permanecem fora do México, aguardando um ambiente mais seguro para investimentos.
Com o peso mexicano tendo perdido cerca de 15% de seu valor desde a eleição de Sheinbaum e a perspectiva de crescimento reduzida por instituições como o FMI e o Banco Mundial, as contas não fecham. O governo ainda enfrenta desafios adicionais, como os custos associados à estatal Pemex, que podem pressionar ainda mais as finanças públicas.
A Relação com os Estados Unidos
Independentemente de quem for eleito nos EUA, a administração de Sheinbaum terá que se preparar para negociações difíceis. A relação com a administração norte-americana é fundamental para a segurança, o comércio e a imigração. A revisão do USMCA, acordo comercial firmado entre os três países da América do Norte, está prevista para 2026, e a estabilidade das relações comerciais pode determinar o futuro das economias dos envolvidos.
Sheinbaum pode ser chamada a encontrar um equilíbrio entre atender às demandas do mercado norte-americano e manter sua base política, que frequentemente pode se opor a acordos que favoreçam o setor privado em detrimento de políticas sociais.
Migrantes: Navegando na Crise de Imigração
A imigração continua sendo um ponto sensível nas relações México-EUA. O volume de migrantes não autorizados nos EUA diminuiu em 2023, devido a políticas que tentam controlar o fluxo na fronteira. Contudo, a abordagem adotada para conter a imigração pode não ser sustentável a longo prazo. Tanto Trump quanto Harris, possíveis futuros presidentes, têm visões bastante diferentes sobre como abordar essa questão com o México.
Enquanto Trump pode optar por uma política rígida de deportações, Harris pode potencializar a cooperação, buscando soluções que fortaleçam os direitos dos migrantes, tratando a questão com um enfoque menos punitivo. A situação dos migrantes no México demanda atenção urgente, pois muitos deles representam uma parte significativa da população em busca de oportunidades que frequentemente são negadas.
Construindo um Futuro Compartilhado
Diante de todos esses desafios, o sucesso da presidência de Sheinbaum pode depender da habilidade de sua administração em construir uma nova relação com os EUA e propiciar um ambiente econômico estável que atraia investimentos. Para isso, ela pode considerar as seguintes estratégias:
Cooperação em Segurança: Fortalecer a colaboração com os EUA para a troca de inteligência e combate ao crime organizado ao invés de adotar uma postura unilateral.
Promoção da Migração Legal: Enfrentar o tema da imigração em parceria com os EUA, criando caminhos legais para migrantes.
- Reforço da Economia Local: Estabelecer políticas que incentivem pequenas e médias empresas, fortalecendo o setor privado e gerando empregos.
Por fim, a capacidade de Sheinbaum de implementar mudanças que favoreçam tanto o desenvolvimento econômico quanto o bem-estar social será essencial para definir seu legado. O México tem uma oportunidade de ouro para redefinir sua posição no cenário internacional, mas isso demandará um esforço conjunto para superar velhos desafios e construir um futuro mais próspero e seguro para todos os mexicanos.
A pergunta que fica é: conseguirão Claudia Sheinbaum e sua equipe unir forças para enfrentar essa série de desafios? O tempo dirá, mas o desempenho inicial da nova presidente será fundamental para moldar o que está por vir.