Deslocamentos e Mudanças Climáticas: Uma Realidade Emergente
As mudanças climáticas estão alterando radicalmente a forma como as pessoas vivem, forçando milhões a abandonar suas casas devido a eventos como enchentes, secas severas e tempestades devastadoras. Todo ano, um grande número de indivíduos se torna deslocado, muitas vezes permanecendo em seus próprios países, conhecidos como deslocados internos.
No entanto, a preocupação se estende além desse fenômeno imediato. Nações inteiras podem se tornar inabitáveis, vítimas do aumento do nível do mar e da desertificação. Esse cenário alarmante é apenas uma das muitas implicações da crise climática que estamos vivendo.
Um dos eventos mais relevantes neste contexto é a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP30, realizada recentemente em Belém. Este evento aborda temas cruciais como os impactos das mudanças climáticas e suas consequências para a mobilidade humana.

Um participante da COP30 em Belém compartilha sua visão sobre a relevância da ciência nas discussões climáticas.
Mobilidade e Negociações Climáticas: Uma Urgência
A Organização Internacional para Migrações (OIM) destaca que a mobilidade climática precisa ser uma prioridade nas negociações climáticas. A vice-diretora-geral da OIM, Ugochi Daniels, enfatiza que as ações de adaptação devem se concentrar em minimizar riscos de deslocamentos forçados, além de proteger aqueles que se deslocam, garantindo opções seguras e regulares.
Ela afirma que, diante de desastres naturais, tanto aqueles que optam por ficar quanto os que decidem se deslocar devem ter suas opções respeitadas e tratadas com dignidade. A OIM desenvolve projetos em 80 países, priorizando soluções locais criadas por pessoas afetadas.
Daniels espera que a COP30 represente um marco para integrar a mobilidade humana nas ações climáticas, especialmente em planos de adaptação nacionais e na obtenção de financiamento para ajudar aqueles que enfrentam perdas devido a desastres.

Marina Silva, ministra do Meio Ambiente do Brasil, durante a COP30, interagindo com refugiados.
Histórias de Vida: O Impacto Pessoal das Mudanças Climáticas
Robert Montinard, refugiado haitiano, trouxe uma perspectiva pessoal ao evento. Ele compartilhou como um terremoto devastador no Haiti, que durou apenas 10 segundos, transformou sua vida para sempre. Com tudo perdido, ele migrou para o Brasil e fundou a Associação Mawon, dedicada a apoiar outros refugiados.
“Queremos ser parte da solução”, disse Robert. “As pessoas que enfrentaram as mudanças climáticas têm as respostas. Comunidades indígenas, refugiados e mulheres possuem propostas que podem transformar suas experiências dolorosas em soluções práticas.”
Nesta semana, ele entregou uma carta de propostas à primeira-dama e à ministra do Meio Ambiente do Brasil. Essas propostas incluem:
- Criação de conselhos municipais de clima
- Combate ao racismo ambiental
- Formação de brigadas comunitárias para gerenciamento de desastres
Robert também fez um apelo pela justiça climática, comparando a assistência na reconstrução após desastres em seu país com a agilidade do processo nos Estados Unidos. “Enquanto na Flórida a recuperação é rápida, no Haiti, muitos prédios ainda estão em ruínas do terremoto de 2010”, ressaltou.
Conflitos Aumentados pela Crise Climática
Makebib Tadesse, da Etiópia, levou essa conversa a outro nível, apresentando uma realidade onde a crise climática está intensificando conflitos armados. As disputas por terras e recursos estão se acirrando, criando um “ciclo contínuo de violência e deslocamento.” Tadesse, que vem da região norte da Etiópia, mencionou que os impactos da mudança climática são mais devastadores do que aqueles causados pela guerra civil de 1974-1991.
“Muitas pessoas estão sendo forçadas a deixar sua terra natal devido à escassez diária de alimentos e água”, explicou. Juntamente com Robert e outros representantes do Alto Comissariado da ONU para Refugiados, Tadesse busca destacar as vozes de refugiados na COP30.
Celebração da Abertura Brasileira para Refugiados
A luta dos refugiados na COP30 conta com o apoio de figuras conhecidas, como o ator mexicano Alfonso Herrera, embaixador da Boa Vontade do Acnur. Em entrevista, ele comentou: “As vozes dos refugiados muitas vezes são silenciadas e precisam ser ouvidas.”
Herrera também compartilhou suas experiências ao visitar refugiados e deslocados internos em vários países da América Latina. Ele constatou como a assistência oferecida pelo Acnur, que vai desde educação até suporte jurídico, pode proporcionar um futuro mais esperançoso.
O ator destaca a importância da política brasileira de acolhimento aos refugiados como um exemplo positivo, em contraste com a postura de muitos outros países, que têm adotado posturas mais restritivas.
Felipe de Carvalho é correspondente especial da ONU News na COP30, no Brasil.
No panorama atual, a questão dos deslocados climáticos e suas histórias pessoais torna-se ainda mais relevante. É fundamental que continuemos essa conversa e exploremos soluções que possam atender às necessidades daqueles que enfrentam as consequências da crise climática. A voz dos afetados deve ser ouvida, não apenas nas conferências, mas também em nossas comunidades. O que você acha? Que ações podemos tomar juntos para apoiar a mobilidade climática e os direitos dos refugiados?




