A Transformação da Cooperativa Vinícola Aurora: Novos Rumos e Práticas Sustentáveis

A Cooperativa Vinícola Aurora, que conta com 1.100 associados que cultivam 56 variedades de uvas em uma área de 3 mil hectares localizada em 11 municípios da Serra Gaúcha, viveu um desafio significativo em fevereiro de 2023. Seu nome foi relacionado a uma grave acusação de trabalho análogo à escravidão, um episódio que abalou sua reputação e exigiu mudanças profundas nas suas práticas de gestão e governança.

O Impacto do Escândalo e as Medidas Adotadas

Os efeitos do escândalo foram imediatos. Os diretores reconheceram que a marca precisaria de tempo para recuperar a credibilidade. Porém, essa situação também serviu como catalisador para uma reformulação nas diretrizes de governança da cooperativa. Após a revelação da denúncia, que culminou na libertação de mais de 200 trabalhadores que operavam sob condições desumanas, a Aurora tomou a iniciativa de se reestruturar, estabelecendo compromissos claros para evitar que situações semelhantes acontecessem no futuro.

Um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) foi firmado, impondo mais de 20 obrigações que asseguram a regulamentação dos serviços contratados, garantindo o respeito aos direitos dos trabalhadores e uma ação responsável no setor.

Rodrigo Arpini, diretor de marketing e vendas da cooperativa, destaca que “o TAC é apenas o começo”. A Aurora se comprometeu a implementar uma agenda relacionada à sustentabilidade e às boas práticas de governança social e ambiental (ESG), algo que vai além da responsabilidade apenas local ou nacional.

Mudanças nas Práticas de Trabalho

Durante a colheita da última safra, que se estendeu de dezembro de 2023 a março de 2024, a cooperativa fez questão de garantir que todos os trabalhadores fossem contratados sob o regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Essa mudança é um reflexo das novas diretrizes e do compromisso com a dignidade do trabalhador.

Maurício Bonafé, gerente agrícola da Aurora, explicou que mesmo a terceirização dos serviços pode acontecer, mas com supervisão rigorosa. “Se optarmos pela terceirização, o trabalhador deve permanecer na propriedade do produtor, garantindo que este tenha um controle direto sobre os alojamentos e as condições de alimentação”, afirmou Bonafé.

Inspeções Rigorosas e Programas de Capacitação

A cooperativa exige que seus associados sigam um rigoroso programa de boas práticas agrícolas (BPA). Isso inclui:

• Orientações sobre trabalho adequado: Capacitação voltada para práticas que respeitem as normas da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
• Inspeções regulares: Avaliações periódicas nas propriedades para assegurar o cumprimento das diretrizes estabelecidas.

Um exemplo preocupante foi o investimento que alguns associados fizeram para adequar suas propriedades. Enquanto alguns chegaram a gastar R$ 50 mil em reformas, outros, como a propriedade de Vinicios Dall’Oglio, conseguiram realizar as adequações necessárias com um investimento menor, em torno de R$ 8 mil.

Mecanização e Inovação: O Futuro da Colheita

Como parte do esforço para modernizar suas operações e garantir a segurança dos trabalhadores, a Aurora planeja mecanizar a colheita das uvas utilizando “caixas bins” inovadoras. Essa medida não apenas melhora a eficiência operacional, mas também reduz a carga física sobre os trabalhadores. Neste sentido, estima-se que 87% do volume colhido pelos cooperados já utilize essas novas caixas, uma mudança significativa que contribui para a segurança e bem-estar dos trabalhadores.

Além disso, a cooperativa oferece condições facilitadas para a aquisição desses equipamentos, com taxas de juros atrativas entre 5% e 6% ao ano e um prazo de pagamento de 36 meses.

Um Futuro Promissor

Apesar dos desafios enfrentados, os resultados da Cooperativa Vinícola Aurora mostram que a recuperação é viável. Em 2023, a cooperativa registrou um faturamento de R$ 786,2 milhões, um aumento de 4% em relação ao ano anterior, o que demonstra que o escândalo não afetou negativamente as vendas. Para 2024, a expectativa é de crescimento de 10% nas receitas, com a meta ambiciosa de alcançar R$ 1 bilhão até 2026.

Reflexão sobre a Sustentabilidade no Setor Vinícola

A história da Cooperativa Vinícola Aurora serve como um estudo de caso sobre a importância da responsabilidade social e ambiental no setor agrícola. A adaptabilidade frente a crises, a implementação de práticas éticas e sustentáveis, e o investimento contínuo em inovação são fundamentais para assegurar um futuro próspero.

Diante dessa realidade, cabe aos consumidores também fazerem suas escolhas de forma consciente, optando por produtos que respeitem a dignidade do trabalhador e a sustentabilidade do meio ambiente.

Uma Nova Era para a Aurora

O caminho para a recuperação da imagem da Cooperativa Vinícola Aurora passa por um compromisso inabalável com a ética e a qualidade nas relações de trabalho. A transformação que se inicia após o escândalo pode gerar um legado positivo, incentivando outras cooperativas e empresas a adotar práticas responsáveis e transparentes.

Tem sido um diário de aprendizado e evolução para a vinícola, mostrando que, mesmo em tempos difíceis, é possível renascer e prosperar. Agora, a Aurora se vê não apenas como uma cooperativa de vinhos, mas como um modelo a ser seguido em termos de responsabilidade social, inovação e sustentabilidade.

Se você possui alguma experiência ou opinião sobre questões de trabalho na agricultura, sinta-se à vontade para compartilhar nos comentários! Juntos, podemos promover uma viticultura mais ética e sustentável, para um futuro melhor para todos.