A Era de Xi Jinping: Desafios, Reformas e a Nova China
Após treze anos de governo de Xi Jinping, analistas em Washington ainda se debatem sobre como interpretar seu regime. Para alguns, Xi representa um retorno ao passado, à figura de Mao Zedong, tendo acumulado poder quase absoluto e moldado o Estado a seu favor. Para outros, seu controle é frágil e sempre ameaçado por elites insatisfeitas que poderiam derrubá-lo. A China sob Xi pode ser vista como uma potência em ascensão, capaz de desafiar os Estados Unidos em diversos aspectos. Por outro lado, há quem acredite que o país enfrenta uma crise econômica prestes a ser devastadora. Essa dualidade torna a análise sobre o modelo de crescimento chinês complexa e cheia de contradições.
O Impacto da Pandemia e a Recuperação Econômica
A análise sobre a China tornou-se ainda mais complicada após a lenta recuperação do país da pandemia de COVID-19. A descontinuidade abrupta das rígidas medidas de controle sanitário em 2022 fez com que o mercado financeiro aguardasse uma recuperação rápida. No entanto, quando a economia começou a demonstrar sinais de fraqueza, muitos em Washington chegaram à conclusão de que a China teria alcançado seu ápice e sua estrutura de governança estaria falhando.
A confusão analítica que permeia estas avaliações tem influenciado as políticas dos EUA em relação à China. Durante o governo Trump, a administração considerou a China a principal ameaça ao país, ao mesmo tempo em que acreditava que suas dificuldades econômicas a tornariam vulnerável a uma guerra comercial. As tarifas impostas por Washington, no entanto, não surtiram o efeito desejado, e Beijing respondeu com medidas retaliatórias, fortalecendo sua posição no cenário global.
A Reversão das Reformas
Quando Xi assumiu o comando do Partido Comunista Chinês (PCC) em 2012, muitos viam nele um potencial reformador, capaz de revitalizar as reformas econômicas paralisadas de seu antecessor, Hu Jintao. Contudo, sua ascensão marcou o início do fim da era de reformas. Xi percebeu que o modelo de liderança coletiva que prevalecia no partido estava comprometido por ineficiências e corrupção, o que enfraquecia a capacidade do PCC de governar.
A corrupção se tornou endêmica, atingindo até mesmo instituições críticas, como a polícia e o exército. Para resolver essas fraquezas, Xi não apenas tentou remediar os problemas visíveis, mas reverteu liberalizações, instaurando um modelo de controle centralizado. Essa “contrarreforma”, como a classificam alguns estudiosos, busca fortalecer o núcleo leninista do partido e posicionar a China em uma marcha disciplinada em direção ao poder tecnológico e militar.
Desafios do Crescimento e o Setor Imobiliário
Um dos maiores desafios que a China enfrenta atualmente é a interconexão entre crescimento econômico e problemas internos, como a corrupção e a desigualdade. O setor imobiliário exemplifica a complexidade dessa relação. As reformas da década de 1990 geraram um boom imobiliário que endividou muitos cidadãos e provocou o surgimento de uma bolha imobiliária. Ao tentar desinflar essa bolha, Xi impôs restrições que afetaram drasticamente a venda de imóveis, levando o setor à beira do colapso e impactando a economia.
- Consequências da Bolha Imobiliária:
- Desvalorização de ativos e queda na confiança do consumidor.
- Redução do crescimento econômico e aumento do desemprego.
- Dificuldade das famílias em acumular riqueza devido à perda de valor dos imóveis.
Xi, ciente dos riscos associados a um setor imobiliário inflacionado, tem se mostrado relutante em intervir para salvar o mercado, priorizando uma reformulação estrutural ao invés de soluções de curto prazo.
A Busca pela Resiliência
A centralização do poder nas mãos de Xi é vista como uma solução para os problemas que o governo anterior não conseguiu resolver. Com um controle reforçado, o líder chinês tem focado na criação de uma economia mais resiliente, menos dependente de forças externas. A implementação da estratégia de “dupla circulação” busca fortalecer o mercado doméstico enquanto mantém a integração com o comércio internacional.
Além disso, Xi está direcionando os esforços do governo para o desenvolvimento de tecnologias e indústrias de ponta. Essa abordagem não só visa minimizar a dependência externa, mas também assegurar que a China se posicione como líder em inovações tecnológicas. De acordo com análises recentes, o país já lidera em várias áreas tecnológicas, o que reforça sua posição competitiva global.
O Futuro do Poder de Xi Jinping
Recentemente, a personalização do poder sob Xi trouxe uma série de novas questões, especialmente no que diz respeito à sucessão. Ele aboliu os limites de mandato que garantiam a transferência pacífica de poder, criando um ambiente de incertezas. Historicamente, regimes autocráticos enfrentam crises de sucessão, o que pode levar a instabilidade.
- Desafios de Sucessão:
- Dificuldade em encontrar um sucessor que não represente uma ameaça ao seu legado.
- Criação de um ambiente político onde a lealdade é prioritária, mas que pode gerar descontentamento interno.
Embora essas preocupações existam, a resistência do PCC a crises profundas sugere que o partido ainda é capaz de se recuperar de desafios significativos. A eficácia do partido em aprender com seus erros em épocas anteriores é um indicativo de sua capacidade de adaptação.
Reflexões Finais
Xi Jinping, ao centralizar o poder, tem buscado reforçar a resiliência da China frente aos desafios contemporâneos. Sua abordagem, que mistura controle rigoroso com uma visão de longo prazo, poderia levar a nação a uma nova fase de desenvolvimento e influência global. Entretanto, a personalização do poder pode também ser uma faca de dois gumes, criando obstáculos à inovação e adaptação.
Em um mundo onde a dinâmica de poder está em constante mudança, as decisões tomadas hoje não só moldarão a trajetória da China, mas também ressoarão em nível global. A capacidade de liderança de Xi e as políticas que ele implementar serão fundamentais para definir como a China enfrentará suas próprias fraquezas enquanto navega na complexa arena geopolítica do século XXI.
Convido você a compartilhar suas opiniões sobre o papel da China sob Xi Jinping e as implicações para o futuro global. O que você pensa sobre as reformas e a estratégia do governo chinês? Sua visão é importante para a construção de um diálogo sobre esses temas tão cruciais.