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A conexão entre ultraprocessados e saúde mental
Pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) fizeram uma descoberta preocupante: a relação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e o aumento de transtornos psicológicos, incluindo a depressão. Este estudo foi publicado no renomado Jornal da Academia de Nutrição e Dietética, destacando a importância do assunto.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão atinge mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo uma das principais causas de incapacidade. A Dra. Naomi Vidal Ferreira, pós-doutoranda da FMUSP e principal autora da pesquisa, ressalta que os ultraprocessados são pobres em nutrientes essenciais, como fibras, antioxidantes e vitaminas, que são fundamentais para a saúde cerebral. Isso aumenta significativamente o risco de desenvolver a doença.
Classificação dos Alimentos: Entendendo os Grupos
A Dra. Naomi explica que os alimentos podem ser classificados em quatro grupos principais:
- Não processados: Incluem frutas, vegetais frescos e grãos.
- Ingredientes culinários: Como sal, açúcar e óleos.
- Processados: Exemplos incluem figo em calda, carne seca e queijo.
- Ultraprocessados: Refrigerantes, salgadinhos, balas e produtos instantâneos.
A especialista destaca uma realidade preocupante: “Quanto mais ultraprocessados uma pessoa consome, menos nutrientes essenciais ela ingere. Além disso, a forma como esses alimentos são preparados contribui para o aumento de processos inflamatórios e alterações na microbiota intestinal.”
A conexão intestino-cérebro
O equilíbrio intestinal é vital para a saúde total do organismo, inclusive para o cérebro. A Dra. Ferreira alerta que disfunções intestinais podem levar a neuroinflamações e alterações na produção de neurotransmissores, aumentando o risco de reações de estresse e depressão.
O estudo, que foi baseado em dados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil), revelou que pessoas que consumiam mais ultraprocessados desde o início da pesquisa apresentaram um risco 30% maior de desenvolver episódios de depressão nos oito anos seguintes. Além disso, a comparação entre hábitos alimentares indicou que aqueles com alta ingestão de produtos ultraprocessados têm 58% mais chances de sofrer de depressão persistente.
Implicações para a saúde pública no Brasil
A problemática dos ultraprocessados não afeta apenas a saúde individual; gera um impacto econômico considerável. Pesquisa realizada pela Fiocruz, em parceria com a ACT Promoção da Saúde e a Vital Strategies, aponta que o consumo desses alimentos gera gastos anuais de R$ 933,5 milhões ao Sistema Único de Saúde (SUS). Incluindo custos indiretos e mortes prematuras, esse valor salta para R$ 10,4 bilhões, com uma estimativa de 57 mil mortes devido a problemas relacionados.
No Brasil, o consumo de ultraprocessados cresceu 5,5% entre 2013 e 2023, conforme um estudo do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde divulgado na Revista de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.
A Dra. Naomi ressalta que os ultraprocessados são frequentemente carregados de aditivos que os tornam mais palatáveis, o que resulta em um consumo excessivo. “É muito mais fácil exagerar em um hambúrguer do que em uma salada”, comenta a especialista.
Fatores socioeconômicos que influenciam o consumo
Diversos fatores socioeconômicos também têm contribuído para o aumento do consumo de produtos ultraprocessados:
- Urbanização: O aumento da vida urbana levou ao distanciamento da produção caseira de alimentos.
- Rotina agitada: A falta de tempo para preparar refeições saudáveis é uma realidade na vida moderna.
- Preços acessíveis: Muitas vezes, os salgadinhos e refrigerantes são mais baratos do que frutas e verduras.
A Dra. Ferreira enfatiza que a alimentação deve ir além do prazer imediato. “Deveríamos comer pensando no meio ambiente, na saúde a longo prazo e no impacto de nossas escolhas.”
Reduzindo ultraprocessados: um caminho para o bem-estar
Uma simulação computacional do estudo mostrou resultados positivos ao substituir ultraprocessados por alimentos minimamente processados. A pesquisa constatou que uma redução de apenas 5% na ingestão de ultraprocessados poderia diminuir o risco de depressão em 6%. Com uma redução de 10%, essa diminuição saltaria para 11%.
Esses dados não apenas destacam a importância de uma alimentação saudável, mas também servem como um chamado para que cada um de nós repense nossas escolhas alimentares. Lembre-se: cada pequeno passo conta. Que tal tentar incorporar mais alimentos frescos à sua dieta? Ou até mesmo começar a preparar suas próprias refeições?
O cenário é desafiador, mas estamos todos na jornada juntos. Quais são suas estratégias para uma alimentação mais saudável? Compartilhe suas experiências nos comentários e vamos trocar ideias sobre como podemos coletivamente melhorar nossa saúde mental e física!