A Revolução do Setor de Cannabis nos EUA: Desafios e Oportunidades

As regulamentações sobre o setor de cannabis continuam indefinidas
FONTE: FORBES US – GETTY IMAGES

O setor de cannabis nos Estados Unidos está passando por um momento turbulento. Depois de ter atingido um valor estimado em US$ 37 bilhões em 2021, o panorama atual é bem mais desafiador, com grandes empresas, como Curaleaf, Green Thumb, Tilray e Trulieve, enfrentando uma queda brusca, avaliadas em menos de US$ 11 bilhões. O que aconteceu?

Uma Tempestade Perfeita

A crise enfrentada por essas gigantes é atribuída a uma combinação de fatores críticos. Entre eles:

• Excesso de oferta: O mercado foi inundado, levando a uma queda significativa nos preços.
• Queda dos preços no atacado: A saturação fez com que os preços despencassem.
• Alto endividamento: Muitas empresas estão lutando para evitar falências devido a dívidas elevadas.
• Impasses legais: As reformas federais estão estagnadas, dificultando a evolução do setor.
• Tributação onerosa: O código 280E do IRS representa um verdadeiro fardo, impedindo que as empresas deduzam despesas comuns na hora de pagar o imposto de renda.

O resultado? Muitas empresas enfrentam problemas de liquidez e um total de US$ 3,8 bilhões em pagamentos atrasados, o que piora ainda mais a situação.

Leis em Curva de Aprendizado

Para piorar, a incerteza nas regulamentações é palpável. Mais de 30 estados já impuseram restrições às substâncias canabinoides derivadas do cânhamo, como o delta-8 THC. O Congresso dos EUA está debatendo uma possível “brecha” no Farm Bill de 2025, que pode impactar a agricultura americana, incluindo a cannabis. Isso cria um ambiente difícil para investimentos e inovações.

Apesar desse cenário desolador, há uma luz no fim do túnel. Algumas empresas, tanto públicas quanto privadas, continuam a se expandir, adotando disciplina de capital e diversificação de estratégias.

Contexto de Consolidação: Uma Nova Era

O cenário atual tem forçado investidores e especialistas a repensarem o que constitui um crescimento sustentável no mercado de cannabis. O veterano Seth Yakatan alerta que fusões, por si só, não resolverão os problemas das empresas. “O foco deve ser na redução de dívidas e no alcance de um crescimento lucrativo”, afirma.

Barreira do Mercado

A concorrência do comércio ilegal e a baixa penetração nos lares limitam o crescimento das empresas legais. Por exemplo, o mercado legal da Califórnia é avaliado em US$ 4 bilhões, enquanto o comércio ilegal atinge números similares. Se a Califórnia alcançasse a média de US$ 800 por lar em gastos com cannabis, o mercado poderia crescer para US$ 12 bilhões.

Sandy Li, da Viridian Capital Brand Advisory, ressalta que o sucesso de marcas fiéis aos consumidores resulta de investimentos em diferenciação. “As marcas que estão prosperando são aquelas que se destacam pela qualidade, inovação e experiências autênticas para os clientes”, diz.

Inovações em Ascensão

Nesse contexto, as categorias de produtos também estão passando por mudanças significativas. Por exemplo:

• Pré-rolados: As vendas desses produtos superaram, pela primeira vez, as de vaporizadores nos EUA.
• Comestíveis: O mercado global deve crescer de US$ 14,8 bilhões em 2024 para US$ 48,7 bilhões até 2030.

Essas inovações estão atraindo consumidores não apenas para o uso recreativo, mas também para categorias voltadas ao bem-estar, com um crescimento projetado de 22% ao ano até 2030.

Os Ventos da Política

A política federal permanece uma variável crítica e imprevisível para o setor. A reclassificação da cannabis poderia aliviar os impactos do código 280E, facilitando pesquisas científicas e, potencialmente, aumentando os lucros das empresas em 20%.

Donald Trump já manifestou apoio à cobertura do CBD pelo sistema Medicare, indicando uma possível mudança na abordagem federal sobre o tema. As reações do mercado mostram que essa ideia gerou otimismo, refletindo uma perspectiva mais centrada na saúde do que na considerações culturais.

Desafios Persistentes

Apesar da esperança, analistas advertem que mudanças de política não resolverão os problemas estruturais da indústria. Yakatan acredita que, embora a reclassificação ajude, não é uma “bala de prata” para a crise do setor.

Expansão Sustentada em Meio à Crise

Enquanto algumas empresas lutam, outras conseguem encontrar seu caminho. Por exemplo, a Sun Theory, uma operadora com sede em Austin, expandiu de um único estado para múltiplos nos últimos anos, com receita projetada para alcançar US$ 70 milhões em 2025.

Connor Oman, CEO da Sun Theory, explica que priorizam o lucro em vez da escala: “Entramos em jurisdições com regras claras e margens atraentes, evitando grandes plantações, que são arriscadas”.

Empresas em Ascensão

• Bud & Mary’s: Focando na pesquisa e sustentabilidade, a receita cresceu consideravelmente nos últimos anos.
• True Terpenes: Esta empresa se diversificou, atuando como fornecedora, focando em inovação e resiliência.

Outras empresas também têm se destacado, mostrando que ainda há espaço para crescimento mesmo em tempos difíceis.

Conclusões em Perspectiva

O campo da cannabis ainda está se ajustando a uma nova realidade. A transição de uma fase de expansão desenfreada para uma era de racionalidade e foco no consumidor está em andamento. As empresas que se destacam são aquelas que não apenas buscam crescer, mas também mantêm disciplina operacional e foco na experiência do consumidor.

Seth Yakatan e Sandy Li alertam os investidores para a importância de uma estratégia sólida e de um crescimento sustentável. “O foco deve ser em fundamentos sólidos, evitando a tentação de um crescimento rápido sem planejamento”, conclui Li.

Esse panorama nos convida a refletir: estamos prontos para abraçar as oportunidades que surgem mesmo em tempos de incerteza?