A Revolução da Agricultura Regenerativa no Agronegócio
Imagem: A agricultura regenerativa precisa estar no radar das tradings.
Getty Images
Nos últimos anos, a transformação no agronegócio global tem ganhado novos contornos, com a agricultura regenerativa ocupando posição central nessa mudança. À medida que as exigências de sustentabilidade se tornaram mais rigorosas, as tradings agrícolas, que tradicionalmente conectavam produtores a mercados, enfrentam um desafio inédito: integrar práticas regenerativas no campo.
Um Novo Paradigma no Agronegócio
Garantir a rastreabilidade dos grãos já não é um diferencial. Com a crescente pressão de grandes compradores internacionais, a exigência agora é clara: é preciso apresentar evidências tangíveis de práticas que regenerem o solo, promovam o sequestro de carbono e preservem a biodiversidade. Iniciativas como o Green Deal Europeu — que visa tornar a União Europeia neutra em carbono até 2050 — e regulamentações como a CSRD, que padroniza ações e relatórios de sustentabilidade, amplia a responsabilidade nas cadeias de fornecimento.
A Nova Responsabilidade das Tradings
As tradings devem, portanto, revisar suas operações e adotar novos modelos de originação e gestão de riscos. No atual contexto, a capacidade de comprovar a origem regenerativa dos produtos não é apenas uma vantagem competitiva; é o que definirá o acesso a mercados premium, a viabilidade de financiamentos sustentáveis e a resiliência em um ambiente regulatório cada vez mais exigente.
Historicamente, essas empresas se concentravam na compra, transporte e venda de commodities. Agora, elas precisam ir além; apoiar os produtores na adoção de práticas regenerativas e atestar resultados ambientais se torna parte essencial da estratégia de negócios. Isso proporciona uma série de benefícios:
- Valorização de produtos
- Novas fontes de receita através de Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA) relacionados a carbono e recursos hídricos
- Fortalecimento da reputação das tradings
- Maior segurança em um cenário de rápidas mudanças climáticas
O Papel do Produtor Rural
No centro dessa revolução está o produtor rural. A transição para práticas regenerativas exige adaptações significativas no manejo agrícola, além de investimentos em conhecimento técnico. Para que essa mudança ocorra em larga escala, é essencial que as tradings atuem como parceiras dos agricultores, oferecendo suporte técnico e acesso a tecnologias inovadoras.
Desafios e Oportunidades na Implementação
Reconhecer a importância do produtor é crucial para criar condições propícias para sua evolução. Contudo, a implementação ampla da agricultura regenerativa não vem sem desafios:
- Como monitorar práticas agrícolas em milhões de hectares?
- Como garantir transparência e auditabilidade para compradores internacionais e investidores?
- Como identificar áreas e produtores com as melhores oportunidades de regeneração?
A resposta pode ser encontrada na tecnologia. Ferramentas que integram dados climáticos, análises de solo e rastreamento de práticas agrícolas têm o potencial de transformar a forma como monitoramos e comprovamos a adoção de práticas regenerativas.
Soluções Tecnológicas na Prática
Aplicativos que oferecem monitoramento remoto, sensores e inteligência artificial já estão disponíveis e podem ajudar as tradings a construir programas de originação regenerativa que sejam confiáveis e escaláveis. Esse avanço tecnológico permite não apenas acompanhar a evolução das práticas agrícolas, mas também medir com precisão seus impactos.
Um Novo Marco na Agricultura
A capacidade de oferecer produtos regenerativos com comprovação científica e rastreabilidade eficaz será determinante. Não se trata apenas de atender regulações, mas de agregar valor em um mercado que cada vez mais valoriza práticas agrícolas sólidas e sustentáveis. A agricultura regenerativa representa uma nova lógica de criação de valor no agronegócio, configurando-se como uma oportunidade estratégica para fortalecer e diferenciar as tradings no mercado internacional.
Conclusão Reflexiva
Mais do que eficiência logística, o novo cenário do agronegócio exige adaptação e inovação. A integração de tecnologias, juntamente com um compromisso genuíno com práticas sustentáveis, será essencial para enfrentar os desafios que estão por vir.
A agricultura regenerativa não é apenas uma tendência; é uma necessidade emergente. Ao refletir sobre esses pontos, somos convidados a vislumbrar um futuro onde práticas regenerativas não apenas coexistem, mas prevalecem. Como você vê a agricultura evoluindo nos próximos anos? Deixe seus pensamentos nos comentários!
Mariana Vasconcelos é co-fundadora e CEO da Agrosmart, Young Global Leader pelo World Economic Forum, e membro da Comissão de Segurança Alimentar da Fundação Kofi Annan. Com formação executiva em negócios, ela oferece uma perspectiva valiosa sobre a conexão entre tecnologia e sustentabilidade no agronegócio.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.
Siga-nos e fique por dentro das principais novidades sobre empreendedorismo, carreira, tecnologia, agro e lifestyle.