Revoltas na Ásia do Sul: O Efeito do Apoio Indiano e a Ascensão da China
Na vibrante Kathmandu, em setembro de 2025, uma maré de jovens queimando de indignação tomou as ruas. Eles marcharam até o Parlamento do Nepal, clamando contra a corrupção arraigada e o cerceamento da liberdade de expressão, resultado de um bloqueio nas redes sociais. Mesmo com várias vidas perdidas durante os confrontos, a pressão popular levou à renúncia do primeiro-ministro K. P. Sharma Oli e à formação de um governo provisório. O que aconteceu no Nepal, porém, é apenas uma parte de um panorama mais amplo que se desenha por toda a Ásia do Sul.
O Eco das Revoltas
Em 2024, um movimento liderado pela juventude pôs fim ao governo de 15 anos da primeira-ministra Sheikh Hasina em Bangladesh. Repetidas manifestações em Sri Lanka, especialmente em 2022, culminaram na queda de um governo corrupto. Nas Maldivas, a insatisfação com corrupção, retrocessos democráticos e ligações estrangeiras polarizadoras incitaram protestos similares que clamavam por mudança política.
Essas revoltas estão enraizadas em queixas locais, mas um fator externo não pode ser ignorado: a influência da Índia. Por anos, a Índia se apresentou como a maior democracia do mundo, promovendo valores liberais e se posicionando como o baluarte democrático do Indo-Pacífico, conforme os Estados Unidos a consagraram. Contudo, em sua vizinhança, as ações da Índia muitas vezes contradizem esses princípios, sustentando regimes autoritários e interferindo nos assuntos soberanos de outros países.
A Ambivalência dos Estados Unidos
Os Estados Unidos, relutantes em desagradar seu importante parceiro no Indo-Pacífico, frequentemente hesitam em criticar a gestão indiana sobre sua vizinhança. Desde 1979, quando o presidente Jimmy Carter decretou que a política americana deveria respeitar a prioridade indiana na região, sucessivas administrações têm adotado um caminho de deferência.
Como resultado dessa dinâmica, países menores na Ásia do Sul veem a Índia como uma potência regional capaz de intervir na política interna com a conivência dos EUA. Isso alimenta ressentimentos que, por sua vez, podem levar a violências populares, como demonstrado nas recente convulsões políticas. No Nepal, manifestantes confrontaram equipes de TV indiana, assinalando a associação da mídia ao colapso político.
Empreendendo uma abordagem mais ampla, a crescente influência da China em resposta ao descontentamento popular se torna evidente. À medida que os povos sul-asiáticos se levantam contra governos ligados a Nova Délhi, Pequim tem buscado conquistar novos braços políticos, oferecendo empréstimos e suporte militar, além de enfatizar o respeito à soberania nacional.
A Trilha da Desilusão em Bangladesh
Um dos aspectos mais evidentes da contradição entre os princípios democráticos da Índia e seu apoio a regimes autoritários se manifestou em Bangladesh. Índia tem apoiado Sheikh Hasina e seu partido, o Awami League, ao longo de uma década, mesmo diante do endurecimento do regime e de eleições controversas.
A aliança indiana acabou facilitando a erosão das instituições democráticas em Bangladesh, onde a repressão se intensificou, culminando na promulgação de leis que cerceavam a liberdade de expressão. A resistência popular trouxe à tona o movimento “India Out”, levando a protestos e boicotes contra produtos indianos. A brutal repressão de um levante estudantil em 2024, que resultou em milhares de mortos, aumentou o clamor pela mudança, culminando na queda do governo de Hasina.
O Papel Silencioso dos EUA
Antes da derrubada de Hasina, a resposta dos EUA à deterioração da democracia em Bangladesh foi tímida. Embora houvesse preocupações sobre as irregularidades nas eleições, a administração Biden tomou medidas graduais, como sanções a forças de segurança bangladeshi. Mesmo assim, permitiu um silêncio constrangedor sobre abusos graves por parte do regime.
A desilusão do povo bangladeshi com o ocidente se intensificou, especialmente quando a China rapidamente se posicionou após a queda do governo Hasina. Ofertas de investimento em infraestrutura, tecnologia de defesa e acordos de livre comércio foram bem recebidos pelo novo governo, sinalizando uma clara mudança de direção da política externa do país.
A Tragédia Maldiviana: Uma Corrida pela Soberania
Nas Maldivas, o descontentamento pela presença indiana gerou mudanças políticas significativas. Em 2013, durante o governo pacífico de Abdulla Yameen, a Índia priorizou relações militares e de vigilância, mesmo frente ao aumento autoritário do regime. No entanto, sua queda em 2018 propiciou um ambiente fértil para o crescimento de um movimento nacionalista anti-índio.
O novo governo, sob Mohamed Muizzu, partidário de uma política menos alinhada com Delhi, expulsou tropas indianas e cancelou acordos de defesa. Embora uma visita recente do primeiro-ministro indiano tenha buscado apaziguar as tensões, a confiança entre as nações permanece abalada.
Sri Lanka: A Trapaceada da Ajuda
Sri Lanka, por sua vez, viveu uma traição similar, onde a Índia atuou como um aliado crucial após a guerra civil, mas priorizou suas próprias táticas de segurança em detrimento dos direitos humanos. Este apoio facilitou o avanço de regimes autoritários, culminando em uma crise econômica que resultou na queda do presidente Gotabaya Rajapaksa em 2022.
As multidões que invadiram o palácio presidenciais exclamavam “India Out”, em um claro sinal de descontentamento. O desespero da população, soma-se à falta de uma política clara dos EUA que se opusesse a esses abusos, resultando em uma percepção de que tanto Nova Délhi quanto Washington compõem um jogo de poder que perpetua a corrupção.
Um Caminho a Seguir
Através dessa análise, podemos ver um padrão claro: a Índia frequentemente prioriza seus interesses estratégicos enquanto Washington, receoso de afetar suas relações, ignora as vozes locais. Essa dinâmica não é meramente um acidente; é uma estrutura que permite o avanço da influência chinesa na região.
O Que Fazer?
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Reavaliar Parcerias: É hora dos EUA reconsiderarem a forma como abordam a Ásia do Sul e a relação com a Índia. Em vez de ver a região apenas como um espaço de influência indiana, é essencial tratar os países vizinhos como parceiros independentes.
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Fomentar Valores Democráticos: As potências ocidentais precisam assegurar que suas estratégias geopolíticas estejam alinhadas com os valores democráticos que proclamam, garantindo que esses valores não sejam apenas palavras jogadas ao vento.
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Ouvir as vozes locais: É vital escutar e entender as demandas das populações nacionais. Interesse genuíno em promover transparência e direitos humanos pode ajudar a mitigar os ressentimentos que alimentam a ascensão da China.
Reflexões Finais
A situação em cada um desses países, marcada por revoltas e descontentamento, oferece um retrato da fragilidade da democracia na Ásia do Sul. Para que a influência da China não se expanda ainda mais, os EUA devem agir de maneira proativa, alavancando seu poder de maneira que beneficie as aspirações democráticas da região.
E você, o que pensa sobre essa complexa teia de influências e interesses? Como a dinâmica entre Índia, China e os EUA afeta o futuro da democracia na Ásia do Sul? Compartilhe suas reflexões e vamos juntos explorar os caminhos possíveis para um futuro mais saudável e justo nessa parte do mundo.
