A Cimed, uma das principais farmacêuticas do Brasil, está foca na expectativa da queda da patente da semaglutida, o ingrediente ativo do famoso Ozempic, que deve deixar de ser exclusividade da dinamarquesa Novo Nordisk em 2024. O CEO da Cimed, João Adibe, expressou seu desejo de lançar uma versão nacional assim que for possível: “Queremos ter uma canetinha amarela o mais rápido possível”, referindo-se à identidade visual da empresa.
Destinada ao tratamento da obesidade, a semaglutida é considerada por Adibe como “a droga da humanidade”. Ele acredita que, ao ampliar o acesso a esse medicamento, a Cimed contribuirá para um aumento significativo na qualidade de vida da população. “Quanto mais acesso a gente der à população, mais benefícios de longevidade esse tipo de droga pode proporcionar”, afirma o executivo.
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A tão desejada “canetinha amarela” faz parte de um portfólio impressionante de 150 produtos que a Cimed planeja lançar nos próximos cinco anos. O desenvolvimento de genéricos, no entanto, depende da quebra de patentes, e a Cimed está de olho nas diversas oportunidades que surgirão, especialmente em 2026, quando várias patentes expirarão. “Temos grandes categorias que vão expirar patente em 2026 e a Cimed vai lançar todos os produtos que tem grande potencial de crescimento”, garante Adibe.

Enquanto a canetinha não chega…
Entretanto, a Cimed não pode esperar muito tempo para atingir suas ambições para o presente: o objetivo é alcançar um faturamento de R$ 5 bilhões já este ano, após ter chegado a R$ 3,6 bilhões em 2024.
Para atender a essa meta e também vislumbrar um faturamento de R$ 10 bilhões até 2030, a Cimed intensificará suas atividades na divisão de consumo, que já representa mais de 60% da receita da empresa e não está limitada pela espera pela queda de patentes. Adibe planeja o lançamento de 130 novos produtos apenas em 2025, com mais de 70 deles chegando ao mercado já no primeiro trimestre deste ano.
A marca Carmed, um dos nomes mais reconhecidos do grupo, está se expandindo além dos protetores labiais. Desde o ano passado, a marca tem explorado o setor de higiene bucal, oferecendo produtos como enxaguantes e cremes dentais. Agora, ela também entrará no mercado de maquiagens e perfumes.
Além disso, a famosa marca de vitaminas Lavitan irá diversificar seu portfólio, lançando isotônicos, bebidas proteicas prontas para o consumo e até uma nova linha de whey protein gaseificado. Com essas novidades, a Cimed busca entrar também no setor de alimentos, procurando aumentar sua presença em canais de venda fora das farmácias.
Novidades no portfólio da Cimed incluem a linha “João e Maria”, que se concentrará em cuidados para bebês. Essa nova linha será uma repaginação dos produtos da R2M, reconhecida pelos seus lenços umedecidos, adquirida pela empresa no final de 2023. A nova linha incluirá shampoo, condicionador, óleo corporal e perfume, prometendo um toque especial no cuidado infantil.
O Summit Farmacêutico e planos de investimento
No próximo fim de semana, a Cimed deve fazer anúncios detalhados sobre essas novidades durante o que eles estão chamando de “maior summit farmacêutico da América Latina”, conhecido como MSA (sigla para “Meu Sangue Amarelo”). O evento, inspirado em grandes encontros do setor, como a Expert XP e VTEX Day, é uma oportunidade para a companhia mostrar seus planos para a cadeia de fornecimento e captar um público estimado em 30 mil pessoas.
Para concretizar seu objetivo de dobrar o tamanho da empresa nos próximos cinco anos, a Cimed planeja investir nada menos que R$ 2 bilhões nesse período. Esses recursos serão direcionados para pesquisa e desenvolvimento, expansão das estruturas fabris e marketing. A fábrica em Pouso Alegre, inaugurada em 2022, está sendo ampliada, além da previsão de uma nova unidade voltada para a linha de higiene e beleza, com inauguração prevista para 2025.
Sobre essa nova fábrica, Adibe revelou: “A ideia é iniciar no Nordeste, começando em 2025 e inaugurando em 2026”.
Tentativas e inovações no mercado
No ano passado, a Cimed tentou adquirir a Jequiti, empresa do Grupo Silvio Santos. No entanto, após seis meses de negociações, o negócio não se concretizou. Adibe mencionou que a empresa tinha interesse em entrar no mercado de venda porta a porta com essa aquisição, visando uma marca já estabelecida em vez de começar do zero.
“Fazer o cara do catálogo vender o produto da farmácia” foi a ideia que o CEO explicou, destacando a facilidade de integrar uma marca que já possui reconhecimento. Além disso, a empresa lançou o Foguete Amarelo, uma plataforma inovadora que facilita o estoque para farmácias independentes. Essas farmácias pagam somente pelos produtos vendidos, ajudando a resolver problemas de capital de giro e assim aumentando a variedade de produtos disponíveis.
A Cimed pode ter perdido a chance de usar as inserções comerciais que tornaram a Jequiti um meme na internet, mas não deixará de ter seu espaço na televisão. A empresa irá reviver o nostálgico Caminhão do Domingão da TV Globo, onde a cada R$ 50 em produtos Cimed, o consumidor ganha uma chance de prêmios. Diferente da promoção anterior, os participantes poderão cadastrar seus cupons fiscais online ou via WhatsApp, com a entrega dos prêmios feita pelo próprio João Adibe, que possui uma forte presença nas redes sociais, com mais de quatro milhões de seguidores no Instagram.
Desafios e futuro promissor
Com tantas novidades no horizonte, João Adibe parece mais agitado do que nunca, mas não perde de vista os desafios da macroeconomia. “Viver em um país onde a taxa de juros está em 15% é inacreditável”, reflete. Nesse cenário complicado, a Cimed se mostra cautelosa: “Por isso que olhamos tanto para custos, para poder se dar ao luxo de crescer em um ambiente onde a maioria está tentando sobreviver”.
No último ano, a empresa realizou duas emissões de debêntures, levantando mais de R$ 1 bilhão. “Quitamos os vencimentos curtos [das dívidas] e alongamos para os próximos dois anos,” comenta Adibe, demonstrando confiança de que, apesar de um cenário econômico turbulento, seus planos de crescimento continuarão firmes.