Inteligência Artificial e a Vida Amorosa: Uma Revolução ou Um Pesadelo?

Por Eli Tan

Nos últimos anos, a Inteligência Artificial (IA) tem sido vista como uma força poderosa, capaz de transformar diversos aspectos da sociedade. Desde soluções para a crise climática até avanços na medicina, a expectativa em torno dessa tecnologia é imensa. Contudo, uma questão intrigante se levanta: a IA pode realmente ajudar na nossa vida amorosa? Com o crescente uso de chatbots como o ChatGPT, muitos acreditam que sim. Vamos explorar como a IA está se infiltrando no mundo dos relacionamentos e o que isso significa para os solteiros de hoje.

O Futuro dos Encontros com IA: Clones Digitais

Nosso cotidiano já está repleto de aplicativos de namoro, mas agora estamos entrando em um novo território: o desenvolvimento de clones de IA. Imagine poder criar uma versão digital de si mesmo, que interage em encontros em seu lugar e traz feedback sobre as interações. Isso mesmo, alguns especialistas da indústria acreditam que em breve poderemos ver versões de nós mesmos namorando outros clones de IA, oferecendo relatos próprios sobre o que está acontecendo.

Vocabulário em Evolução

As terminologias também estão se desenvolvendo. Whitney Wolfe Herd, fundadora do Bumble, se referiu a esses novos aplicativos como “concierge de encontros”. Já George Arison, CEO do Grindr, trouxe outra perspectiva ao chamá-los de “duplicatas”, e até mencionou um termo interno: “sintéticos”. Para algumas pessoas, essa ideia pode soar como um cenário distópico, similar a um episódio de “Black Mirror”. No entanto, como um solteiro de 26 anos em San Francisco, fiquei curioso e decidi explorar essa nova fase dos encontros com IA.

Mergulhando no Mundo dos Aplicativos de Namoro com IA

Minha experiência começou ao combinar vários aplicativos de IA que prometiam melhorar a experiência de namoro. Enquanto alguns deles funcionam como aplicativos tradicionais, outros oferecem serviços de coaching e interações mais dinâmicas. Aqui estão alguns dos que testei:

1. Ice: O Início do Clone de IA

O primeiro aplicativo que experimentei foi o Ice. Esse serviço permitiu que eu criasse um clone de IA que incorporava meus interesses e traços de personalidade. Para isso, gastei cerca de US$ 45 em um serviço chamado Aragon.ai, que gerou fotos de perfil baseadas em inteligência artificial, as quais adicionei ao meu perfil. O Ice então deixou pessoas reais interagirem com meu clone, enquanto o clone também conversava com outros usuários. Uma adição interessante foi a possibilidade de carregar gravações de voz, permitindo que meu clone imitasse minha entonação durante as conversas.

2. Volar: Primeiros Encontros entre Clones

O segundo aplicativo que testei foi o Volar, que adotou uma abordagem diferente. Aqui, os clones de IA conversavam entre si, simulando "primeiros encontros", que eu poderia acompanhar em tempo real. Embora isso me permitisse ver meu clone se aventurando em mensagens com diferentes perfis, notei que ele começou a desenvolver suas próprias particularidades, adquirindo gostos e manias que, a princípio, não eram meus.

Reflexões Sobre as Conversas

A maioria das conversas que meu clone teve foram bastante secas, semelhantes a interações com chatbots padrão. Fiquei desapontado ao perceber que muitos diálogos soavam mecânicos. Um exemplo foi a troca sobre comidas, onde meu clone não conseguiu brilhar como esperava.

Aqui vai um exemplo da interação:

Clone de Eli: Se você pudesse comer apenas um lanche pelo resto da sua vida, qual seria?

Rachel: Palitos de mussarela empanada

Clone de Eli: Crocância e queijo!!! O que há nos palitos de mussarela que faz seu coração acelerar?

Rachel: Rs… dá uma vibe de pizza, mas com muito mais queijo. Qual é o seu favorito?

Clone de Eli: Queijo caros e pão, sempre! Há algo na riqueza que faz meu coração cantar. Qual é a sua pizza favorita, a propósito?

A Experiência Com Coaches de IA

Após os desafios enfrentados com os clones, decidi explorar outra vertente: coaches de IA. Essas ferramentas têm como objetivo ajudar os usuários a elaborarem mensagens e avaliarem seus perfis em aplicativos de namoro. Um dos primeiros que testei foi o Amori, que oferecia uma gama de coaches de inteligência artificial, cada um com sua personalidade específica.

Os Coaches do Amori

• Christie: A melhor amiga direta, que oferece conselhos sem rodeios.
• Ethan: O parceiro que torna tudo divertido, dando dicas leves e descontraídas.
• Tabitha: A tia sábia, que mistura sabedoria em forma de conselhos afetuosos.
• Sonya: A erudita do amor, com um “doutorado na ciência do namoro”.

Utilizando o Amori, fui capaz de enviar mensagens que haviam recebido atenção e obter feedback sobre como abordá-las. Em uma análise com Christie, perguntei se uma pessoa com quem conversava poderia estar interessada romanticamente. As respostas dela foram minhas aliadas, mas ainda assim, nada muito surpreendente ou inspirador.

Acordos e Abordagens Diferentes

Depois de um tempo, resolvi testar outro coach, o Ethan, que também forneceu feedback e sugestões. A qualidade dos conselhos variava, mas percebi que muitas vezes eu conseguia formular minhas próprias respostas de maneira tão eficaz quanto as sugeridas.

A Realidade dos Encontros com IA

Em minha jornada pelo mundo dos encontros com IA, fui surpreendido pela eficiência do Rizz, um aplicativo bastante popular entre os usuários de plataformas de namoro. Com mais de 1,5 milhão de usuários, o Rizz permite que você carregue capturas de tela de suas interações e solicite sugestões de resposta.

Exemplos de Interações com o Rizz

• Match #1: “Serei honesta, não sou muito fã de karaokê…”

  • Rizz: “Se karaokê não é a sua praia, que tal um dueto tomando um café em vez disso?”
• Match #2: “Minha música favorita é Material Girl da Madonna, e a sua?”
  • Rizz: “Escolha clássica! A minha tem que ser ‘Shallow’, mas só se você prometer ser a minha parceira de karaokê.”

Essas mensagens geradas não só melhoraram minhas conversas, como também resultaram em encontros reais. Contudo, confesso que me senti um pouco envergonhado ao revelar que utilizei IA para criar algumas dessas respostas.

Reflexões Finais sobre a Vida Amorosa e a IA

Depois de todas essas experiências, ficou claro para mim que, apesar dos avanços da IA, ela não trouxe grandes soluções para minha vida amorosa. Embora a tecnologia possa oferecer comodidades, ela falha ao tentar entender a complexidade das interações humanas. Relações, em última análise, requerem uma autenticidade que a IA, por mais avançada que seja, ainda não consegue replicar.

Em encontros reais, independentemente de quão competente meu clone de IA pudesse ser, a conexão real e a comunicação humana ainda prevalecem. Reflectindo sobre isso, me dei conta de que, enquanto saboreava uma fatia de pizza em um dos meus lugares favoritos, havia encontrado algo muito mais propício do que qualquer assistência tecnológica: a verdadeira essência do momento e a fragilidade e beleza do amor humano.

Essa jornada no universo da Inteligência Artificial me deixou com algumas questões e reflexões sobre como nós, humanos, interagimos uns com os outros. O que você pensa sobre a utilização de IA em relacionamentos? Já teve alguma experiência semelhante? As interações digitais são o futuro ou um caminho para a alienação emocional?

Se você se interessou e tem histórias para compartilhar ou pensamentos sobre essa nova era dos relacionamentos, eu adoraria ouvi-los!