sexta-feira, junho 27, 2025

China Compra Trigo da Argentina: O Que Isso Significa para o Preço do Pão no Brasil?


Jair Ferreira Belafacce_Getty

Trigo do pãozinho brasileiro é quase todo da Argentina

Um Alívio para a Colheita Argentina

Após um período turbulento com safras frustrantes, a colheita de trigo na Argentina, uma das principais fontes dessa commodity para o Brasil, promete trazer bons ventos. Com uma produção projetada em torno de 18,6 milhões de toneladas, a safra de inverno tem mostrado um desempenho que supera as expectativas, mesmo que ainda permaneça abaixo do recorde histórico de 23 milhões de toneladas alcançado na safra 2021/22. Este crescimento de 28% em relação ao ano anterior oferece uma dose de otimismo em um cenário agrícola que requer boas notícias.

Queda dos Preços e Oportunidades de Exportação

Recentemente, os preços dos grãos têm apresentado queda no Mercado de Chicago, um termômetro internacional para commodities agrícolas. No entanto, o trigo se destacou ao sofrer uma desvalorização menos intensa do que o milho e a soja, mantendo valores em torno de US$ 200 por tonelada. Com um saldo de exportação estimado em até 11 milhões de toneladas, tanto produtores quanto exportadores estão motivados quanto às suas perspectivas de comercialização.

Abertura de Novos Mercados: Um Marco na Exportação de Trigo

No cenário de novidades, uma das mais promissoras é o primeiro embarque de trigo argentino para a China, que pode ser uma virada estratégica. Gustavo Idígoras, presidente da Câmara da Indústria de Óleos e do Centro de Exportadores de Cereais da Argentina (Ciara-CEC), destacou que após oito anos de negociações, a China finalmente concedeu autorização para a importação de trigo argentino.

  • Os primeiros envios sairão do porto de Bahía Blanca, o maior terminal portuário para grãos da Argentina.
  • A China é um mercado crucial, com importações que somam cerca de 10 milhões de toneladas anualmente.
  • Atualmente, a Argentina exporta aproximadamente 5 milhões de toneladas de trigo para o Brasil, com perspectivas de crescimento.

A abertura da China para o trigo argentino não só representa uma conquista diplomática, mas também sinaliza oportunidades na diversificação de mercados. A Argentina busca estabelecer uma presença significativa não apenas na China, mas também em países do Magrebe e no Sudeste Asiático, reforçando sua competitividade no cenário global.

Influências Geopolíticas no Mercado Global

As recentes decisões da China foram pautadas por fatores externos, incluindo condições climáticas adversas na Austrália, o fornecedor habitual de trigo. Além disso, tensões comerciais com a Austrália, especialmente no que diz respeito à soja, resultaram na diminuição das importações chinesas deste país, acelerando a busca por novas fontes de suprimento.

Além do mais, há a perspectiva de uma guerra comercial crescente entre os Estados Unidos e a China. Segundo Eugenio Irazuegui, analista de mercados agrícolas, a movimentação da China em direção ao trigo argentino pode ser entendida como uma estratégia para diversificar suas fontes diante de incertezas políticas.

Estabelecendo Parcerias Estratégicas

Idígoras também destaca que a China está engajada em conversas com diversos fornecedores, incluindo o Brasil, o Uruguai e o Paraguai, para fortalecer as relações comerciais e expandir suas opções de suprimento.

Expectativas para a Colheita de Trigo na Argentina

A expectativa em torno da colheita de trigo é crescente. A Bolsa de Cereais de Buenos Aires reportou que até o momento, 48,1% da área plantada foi colhida, com um avanço significativo na Zona Núcleo, tradicionalmente um dos principais polos agrícolas do país.

Condições Favoráveis de Cultivo

A chegada de chuvas no momento certo criou um ambiente propício para o desenvolvimento das lavouras de trigo, com 80,7% dos lotes avaliados sendo classificados como normais a excelentes. A colheita está em pleno andamento, e os produtores estão otimistas com os rendimentos.

  • Na Zona Núcleo, os resultados têm superado as expectativas, com rendimentos variando de 3 a 6 quintais por hectare acima das previsões iniciais.
  • Se essas expectativas se concretizarem, pode haver um ajuste positivo na projeção de produção global, que atualmente está fixada em 18,6 milhões de toneladas.

Vislumbres do Futuro: O Papel da Exportação

A Bolsa de Comércio de Rosário (BCR) sugere que a safra de trigo pode chegar a até 18,8 milhões de toneladas, dependendo do desempenho das colheitas na Zona Núcleo. A busca por sempre melhores exportações, sem barreiras comerciais, é uma resposta à necessidade atual do mercado.

O incentivo às exportações se intensifica, e com a China agora na rota comercial, o céu parece ser o limite para o trigo argentino. O ano promete trazer novas oportunidades e desafios, mas com uma colheita promissora, a Argentina se posiciona como um ator ainda mais relevante no mercado global.

Desse modo, o fortalecimento da produção e a exploração de novos mercados podem não só beneficiar a Argentina, mas também impactar o Brasil, que depende significativamente do trigo argentino para sua indústria alimentícia. Assim, o cenário que se apresenta é de um horizonte de novas oportunidades e desafios a serem abraçados.



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