sexta-feira, novembro 21, 2025

Como Bancos e CEOs Estão Valorizando Ecossistemas: O Caminho para os Novos Ativos Trilhão-Dólar


A Nova Classe de Ativos Trilhão-Dólar e Como Bancos e CEOs Correm para Precificar Ecossistemas

Hillary Kladke_Getty

Sistema financeiro coloca na sua pauta a metrificação da natureza

A ONU, junto com o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB) e seus aliados, divulgou um relatório que toca em um dos pontos cruciais do debate financeiro global: a transformação dos sistemas naturais em ativos financeiros viáveis e submetidos a um perfil de infraestrutura.

A proposta é simples e direta: Florestas, áreas úmidas e ecossistemas costeiros oferecem serviços fundamentais, como a proteção contra enchentes e a purificação da água. Porém, persiste a questão: por que o sistema financeiro ainda não os reconhece como ativos?

Erik Berglof, economista-chefe do AIIB, salienta a necessidade urgente de inovar. Sem a padronização de contratos e marcos regulatórios claros, os investimentos em soluções que se baseiam na natureza têm sido pontuais e desarticulados. Com regras definidas, esses investimentos podem se tornar uma nova classe de ativos.

As Finanças da Natureza em Destaque na COP

A pressão para a ação é evidente. “É a primeira vez em trinta anos de COP que a bioeconomia tem um dia dedicado”, aponta Luana Maia, líder global para o Brasil na NatureFinance. Ela ressalta a priorização da conservação florestal no Brasil.

Com o crescente espaço dado à natureza nas agendas financeiras, surge a pergunta: “quem arcará com os custos desse capital natural?”. O Banco Mundial reiterou essa necessidade ao revelar, em Belém, os novos Princípios Comuns para Rastreio de Finanças para a Natureza.

Erik Berglof, economista-chefe do AIIB

Forbes_Índia

Erik Berglof, economista-chefe do AIIB

É a primeira vez que bancos multilaterais tentam classificar e padronizar investimentos positivos para a natureza, movimentando essa questão de um elemento ambiental acessório para um componente econômico fundamental.

AIIB: Integrando Infraestrutura e Ecossistemas

Erik Berglof afirma que a questão não é apenas teórica, mas prática: “Precisamos investir, gerenciar e tornar a natureza mais resiliente”. Ele defende que a experiência no setor de infraestrutura pode ser utilizada para adaptar a lógica das finanças à natureza.

O relatório Unlocking Finance for Nature as Infrastructure sugere que ecossistemas de alta qualidade podem ser estruturados e avaliados de maneira a se tornarem investíveis, adotando uma abordagem pragmática.

Governos têm expertise em planejar projetos de infraestrutura, enquanto bancos conhecem a redução de risco em transações iniciais e investidores compreendem as parcerias público-privadas a longo prazo.

O relatório argumenta que a natureza pode ser tratada de forma similar quando medidas de desempenho ecológico são adotadas, permitindo garantias e créditos de biodiversidade que criam estruturas investíveis.

De Projetos de Conservação a Modelos Financeiros Sólidos

A mudança de perspectiva do AIIB decorre da prática. Berglof menciona um projeto de zona úmida na Mongólia que, após avaliação dos serviços ecossistêmicos, evoluiu de uma intervenção pequena para um projeto de grande escala que foi reconhecido como infraestrutura.

Na Colômbia, o banco de habitat Terrasos exemplifica como restauração pode ser financeiramente viável por meio de um modelo sequencial que imita parcerias público-privadas. Esses projetos ainda estão em fase inicial, mas mostram que é possível governar e financiar a natureza de maneira a incluir capital privado.

O AIIB também colabora com credores na China para valorizar ativos naturais, usando uma nova taxonomia que junta o sistema de ecocompensação com compradores de carbono. Avanços em tecnologia de monitoramento têm aumentado a precisão e a viabilidade financeira.

Iniciativas como a contabilidade de equity do Landbanking Group sugerem que o mercado pode tratar melhorias no capital natural como ativos tangíveis e monitoráveis. Embora não seja a norma ainda, aponta para uma direção futura promissora.

A Necessidade de Ação Agora

Em um relatório impactante, Henry Paulson reforça a urgência dessa agenda: “É essencial que os governos conduzam e definam regras que direcionem investimentos para a proteção da natureza”. Ele afirma que a natureza não é um luxo, mas o nosso suporte vital, e está em perigo.

Jin Liqun, presidente do AIIB, afirma que os bancos multilaterais devem integrar a natureza ao planejamento e governança em larga escala.

Para transformar esse conceito em mercado, é imprescindível resolver o problema da valoração, uma vez que a natureza foge dos modelos contábeis convencionais. A criação de um sistema de classificação ou taxonomia para investimentos que beneficiem a natureza é um passo crucial nessa jornada.

O AIIB oferece metodologias padronizadas para valoração, contratos e esclarecimento sobre métricas de desempenho, permitindo ampliar a financiabilidade e acelerar o fluxo de capital para a regeneração ambiental.

O que se delineia é que a combinação de políticas claras, contratos padronizados e sistemas confiáveis de monitoramento pode tornar os ecossistemas investíveis.

Impactos nas Empresas e na Economia

Para as empresas, a ascensão da natureza como infraestrutura impacta diretamente nos balanços financeiros. Os ecossistemas, essenciais para suas operações, estão se deteriorando, resultando em aumento de custos e riscos.

Com a COP30, as dependências ambientais estão se convertendo em dependências financeiras. Novas normativas exigem que as empresas divulguem os impactos relacionados à natureza, e seguradoras já estão incorporando a perda de ecossistemas em seus modelos de risco.

Como resultado, muitos bancos estão começando a testar empréstimos vinculados à natureza, que podem modificar o custo de capital. Para os produtores, a pressão por cadeias de suprimento que preservem a natureza está aumentando.

Rever e tratar a natureza como infraestrutura proporciona um entendimento prático: se os ecossistemas puderem oferecer serviços ou minimizar riscos a um custo inferior ao de alternativas construídas, esses benefícios podem ser avaliados e assegurados.

As empresas que se dedicarem a investir nos sistemas naturais dos quais dependem terão menos interrupções e custos mais baixos no longo prazo. Por outro lado, aquelas que ignorarem essa transformação podem ser severamente afetadas financeiramente.

Os Próximos Passos para a Sustentabilidade Financeira

Para os bancos multilaterais de desenvolvimento, o trabalho para o futuro será fundamental. Precisamos criar contratos padrão e métodos de valoração que assegurem a presença do capital natural nos orçamentos e planos governamentais.

Se a natureza se consolidar como uma classe de ativos, os ecossistemas e seus serviços não poderão ser mais tratados como meras externalidades, mas sim como componentes vitais que influenciam decisões financeiras e operacionais.

A COP30 pode ser um marco na transformação das finanças relacionadas à natureza, destacando uma nova era em que ela é reconhecida como um ativo público, investível e de longo prazo. O desafio agora é assegurar que as estruturas adequadas sejam desenhadas pelos bancos, criando um futuro onde a natureza e a economia se entrelaçam de forma sustentável.

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