A Revolução Digital na Medicina: Como a OpenEvidence Está Transformando a Prática Médica
Por Mauricio Candela para Forbes
Os médicos enfrentam um desafio monumental: a sobrecarga de informações na área da saúde. Para cada especialista tentando se manter atualizado, a realidade é a publicação de um novo artigo científico a cada 30 segundos. Com uma rotina que inclui atender a 20 pacientes por dia, como é possível filtrar tantas informações importantes? Essa é a pergunta que Daniel Nadler, cofundador e CEO da OpenEvidence, se dedicou a responder.
A Era de Ouro da Biotecnologia e o Desespero dos Médicos
Daniel Nadler, que há alguns anos vendeu sua empresa por US$ 550 milhões, reflete sobre as duas faces do avanço na biotecnologia. Enquanto novos tratamentos são desenvolvidos continuamente, os médicos estão cada vez mais sobrecarregados e se sentindo como se vivessem numa “Idade das Trevas”. “O cérebro humano é limitado”, diz Nadler, “e a informação se multiplica de forma desenfreada.”
Diante desse cenário, nasceu a OpenEvidence, uma startup de inteligência artificial que busca simplificar o acesso à literatura médica. Seus algoritmos analisam milhões de artigos revisados por pares, permitindo que os médicos encontrem rapidamente informações valiosas para a tomada de decisões clínicas.
A Tecnologia a Favor dos Profissionais de Saúde
O diferencial da OpenEvidence é seu acesso gratuito aos médicos verificados. O modelo de negócios baseia-se em publicidades, similar ao que faz o Google, ressaltando que o verdadeiro valor está na facilitação do acesso ao conhecimento médico. “Acredito que a OpenEvidence será para a saúde o que o Google foi para a internet”, afirma John Doerr, bilionário e investidor da firma Kleiner Perkins.
Desde sua fundação em 2022, a OpenEvidence atraiu mais de 430 mil médicos nos EUA, o que representa cerca de 40% dos profissionais. Com um crescimento mensal de 65 mil novos usuários, suas receitas publicitárias já somam cerca de US$ 50 milhões anuais. Recentemente, a empresa fez uma rodada de investimento que a avaliou em aproximadamente US$ 3,5 bilhões, um salto impressionante comparado ao bilhão anterior.
O Crescimento Pessoal dos Fundadores
Daniel Nadler se tornou bilionário com uma participação de 60% na OpenEvidence, enquanto seu cofundador, Zack Ziegler, detém 10%. Ambos trouxeram experiências singulares para a mesa, desde a formação acadêmica até desafios pessoais enfrentados ao longo da vida.
Um Empreendedor de Sucesso
“Uma das grandes vantagens de ser um empreendedor mais experiente é que eu não sou um idiota”, brinca Nadler. Ele não hesitou em investir US$ 10 milhões de seus próprios recursos para garantir sua participação significativa na empresa antes de buscar financiamentos externos.
Nadler, que cresceu em um contexto familiar de imigrantes, sempre teve uma veia competitiva. Desde a infância em Toronto até o Ph.D. em Harvard, sua trajetória foi marcada por um constante desejo de superar limites, o que agora se traduz em inovações na área médica.
Desafios em um Setor em Expansão
A literatura médica continua a crescer a um ritmo alarmante, dobrando em volume a cada cinco anos. Isso impacta diretamente o trabalho dos médicos, que, cada vez mais, se veem lutando contra a escassez de profissional de saúde, criando uma oportunidade para tecnologias que aliviem essa pressão.
Embora a OpenEvidence não seja a primeira a atuar nesse espaço — empresas como UpToDate já utilizam inteligência artificial —, sua abordagem centrada na IA desde o início e o foco em gerar relevantes respostas clínicas destacam-se como um diferencial importante.
A Experiência do Usuário e o Impacto Real
Atualmente, a OpenEvidence recebe cerca de 8,5 milhões de consultas mensais. E, por ser considerada uma ferramenta de busca, não enfrenta os mesmos requisitos regulatórios da FDA que softwares de diagnóstico. Médicos como a Dra. Susan Wolver já são fãs do aplicativo, utilizando-o frequentemente para decisões rápidas em emergências.
“Não passa um dia sem que eu use”, compartilha Wolver, que inclusive utilizou a plataforma durante um voo para resolver uma situação crítica com um paciente.
Uma Abordagem Inovadora na Busca por Conhecimento
Os desafios que a OpenEvidence enfrenta são substanciais, e a empresa continua inovando com novos recursos como o DeepConsult, que permite pesquisas mais profundas utilizando a tecnologia de raciocínio em múltiplas etapas. Isso representa um avanço significativo, oferecendo aos médicos a capacidade de ter um “time de Ph.D.s e M.D.s” auxiliando em suas pesquisas enquanto gerenciam outras responsabilidades.
Daniel Byrne, professor na Universidade Johns Hopkins, alerta, no entanto, que a literatura médica é complexa, e um artigo pode se tornar irrelevante rapidamente. “Ter uma referência é um passo na direção certa, mas não é suficiente.” Contudo, o Dr. Travis Zack, diretor médico da OpenEvidence, assegura que a plataforma oferece vantagens significativas sobre a prática médica comum, onde decisões são tomadas muitas vezes sem as informações adequadas.
O Futuro da OpenEvidence
O modelo de negócios baseado em publicidade que a OpenEvidence adota pode apresentar desafios, uma vez que o setor de saúde costuma ser relutante em mudar sua forma de consumo de informação. No entanto, Nadler acredita que sua abordagem experimental irá solidificar a posição da empresa no mercado.
“Todo mundo odeia publicidade”, diz Nadler, “mas acredite, posso transformar isso em uma vantagem.”
O Dr. Aneesh Singhal, de Massachusetts, já observa um crescente uso da OpenEvidence entre seus colegas. “Parece que todo mundo está usando”, afirma, ressaltando a eficiência da ferramenta no acesso a estudos relevantes de maneira rápida.
Considerações Finais
A OpenEvidence se destaca não apenas pela inovação técnica, mas também pela capacidade de transformar a prática médica em um ambiente onde informações estão sempre em movimento. Ao ajudar os médicos a gerenciar essa avalanche de conhecimento, a startup reduz o risco de erros e melhora o atendimento aos pacientes.
À medida que essa revolução digital se expande, o futuro da medicina pode muito bem ser moldado por tecnologias como essa, que buscam equilibrar eficiência e precisão. O desafio agora é garantir que mais profissionais de saúde tenham acesso a essas ferramentas e que as startups continuem evoluindo para atender a demanda crescente por inovação no setor.
E você, o que pensa sobre o uso de inteligência artificial na medicina? Tem alguma experiência para compartilhar? Sinta-se à vontade para deixar seu comentário!