Uma parcela dos agentes do mercado financeiro está otimista com o crescimento econômico brasileiro em 2023, estimando uma alta de 1,5% no PIB. Grande parte desse otimismo se deve à expectativa de uma forte contribuição do setor agropecuário, que pode crescer cerca de 8% este ano.
Dois fatores explicam essa projeção positiva. Primeiro, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima um aumento de 3% na área plantada e um expressivo crescimento de 14% na produção de grãos, com destaque para soja, milho e trigo. Segundo, os modelos climáticos indicam que o fenômeno La Niña deve perder força e possivelmente atingir neutralidade no segundo trimestre, favorecendo as condições de cultivo.
Por outro lado, a economia brasileira enfrenta desafios internos. A taxa de juros elevada tem impactado a atividade econômica e alimentado discussões sobre a meta de inflação. Em meio a tensões entre o governo e o Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, presidente do BC, foi ao programa Roda Viva para defender a autonomia do órgão e reforçar que a taxa de juros, apesar de alta, responde ao movimento descendente da inflação em direção às metas estabelecidas.
No final de 2022, o mercado esperava que os juros começassem a cair em meados de 2023. No entanto, incertezas surgiram com a retórica do presidente Lula, que questionou a relação entre responsabilidade fiscal e programas sociais, além de expressar dúvidas sobre a meta de inflação e a autonomia do Banco Central. Esses fatores vêm reduzindo a confiança de investidores em setores como indústria, serviços e construção civil, enquanto as expectativas de inflação seguem em trajetória de alta.
O caminho para um crescimento sustentável e juros mais baixos passa por “back to basics”: é preciso reduzir as incertezas, definir um arcabouço fiscal que estabilize a dívida pública e manter o Banco Central operando em um ambiente mais previsível. Com um cenário mais estável e um compromisso técnico com a responsabilidade fiscal e a meta de inflação, o Brasil poderá sustentar uma trajetória de queda nos juros, pavimentando o caminho para um crescimento econômico mais equilibrado.