A Crise Demográfica na China: Desafios e Reflexões
A China está enfrentando uma crise demográfica alarmante, com taxas de natalidade em queda acentuada. Em 2024, alguns estados experimentaram uma redução de mais de 50% nos nascimentos em comparação aos picos de 2016 e 2017. Essa diminuição drástica lançou uma sombra sobre a educação infantil, resultando em um número crescente de pré-escolas fechadas e matrículas em queda.
O Declínio da Natalidade: Um Retrato Desolador
Estudos recentes, como o da empresa de dados MyCOS, revelam que áreas tradicionalmente férteis, como a província de Shandong, enfrentam quedas significativas na taxa de natalidade — uma impressionante redução de 63%. Hunan, Hubei, Anhui e Jiangxi também mostram tendências semelhantes, todas entre as 15 províncias mais habitadas do país.
O Testemunho da Nova Geração
Em Jinan, Shandong, a jovem Jin Yan, que faz parte da geração dos anos 90, traz um olhar sobre essa realidade. Ela compartilha que muitos de seus colegas de classe continuam solteiros, enfrentando a pressão financeira que torna o casamento e a criação de filhos eventos distantes:
"Entre meus amigos, todos reclamam da pressão financeira. Aqueles que têm filhos alegam que os custos são exorbitantes. Muitos têm medo de ser pais", relata Jin, que, junto ao marido, luta para pagar a hipoteca de sua casa.
Esse sentimento de insegurança financeira ressoa em muitas vozes. Wang Li, nascida na década de 1980, observa que a perspectiva social está mudando. Anteriormente, as escolhas individuais de não se casar ou ter filhos eram vistas com desaprovação, mas agora se tornam cada vez mais comuns. Ela reflete sobre a importância de proporcionar um bom ambiente para as crianças, colocando em dúvida a responsabilidade de ser pai ou mãe diante das dificuldades econômicas.
O Alto Custo de Criar Filhos
Os números não mentem. Um estudo do Instituto de Pesquisa Populacional Yuwa estima que criar um filho na China, do nascimento até os 17 anos, custa cerca de 538.000 yuans (aproximadamente US$ 74.900). Se considerarmos a educação universitária, esse valor salta para cerca de 680.000 yuans (US$ 94.700). Para se ter uma ideia, esses custos estão entre os mais altos do mundo, representando 6,3 vezes a renda média per capita da China. Essa comparação torna evidente como criar filhos pode ser um desafio insustentável em termos financeiros.
Estatísticas Alarmantes
Em 2024, as estatísticas do Ministério da Educação da China mostraram que o número de pré-escolas caiu pelo terceiro ano consecutivo:
- 5.600 fechamentos em 2022
- 14.000 em 2023
- Mais de 20.000 em 2024
Essas mudanças refletem diretamente a matrícula em pré-escolas, que desceu para 35,84 milhões, uma redução de 5 milhões em relação ao ano anterior.
Com essa diminuição na demanda, muitos educadores foram obrigados a procurar novas oportunidades em outros setores. Além disso, alguns prédios de pré-escolas desativadas estão agora sendo adaptados para lares de idosos ou mistos, formando “centros de cuidados intergeracionais”.
O Legado da Política do Filho Único
Um olhar mais profundo sobre essa crise demográfica revela suas raízes na política do filho único, implementada em 1979 por Deng Xiaoping. Essa política, que limitava o número de filhos por casal, reduziu a taxa de fertilidade da média de 2,9 filhos por mulher para apenas 1,1 em 2015. Apesar da flexibilização das regras, permitindo dois filhos em 2016 e três em 2021, as mudanças não surtiram o efeito desejado.
A China experimentou seu primeiro declínio populacional em décadas em 2022, seguido por uma nova queda em 2023, o que demonstra que o passado ainda impacta o presente.
Desafiando as Expectativas
Zhao Jun, um empresário que vive na China, expressa ceticismo sobre a ideia de que simplesmente permitir nascimentos resultaria em um “boom populacional”. Ele menciona:
“Não é que os jovens de hoje não queiram se casar ou ter filhos; é que ninguém tem condições financeiras para isso. Ganho 5.000 yuans (cerca de US$ 697) por mês — como posso sustentar uma família com isso?”
Essa declaração ilustra a luta contínua e as preocupações geracionais sobre casamento e parentalidade em um cenário econômico incerto.
O Envelhecimento Populacional
Simultaneamente, a população da China está envelhecendo rapidamente. Em 2024, cerca de 310 milhões de cidadãos tinham 60 anos ou mais, representando 22% da população. Destes, 220 milhões possuem 65 anos ou mais, percentualmente, 15,6%.
Esse aumento da população idosa, em paralelo com a queda de nascimentos, levanta perguntas preocupantes sobre o futuro social e econômico do país.
O tema da crise demográfica é mais do que uma mera questão de números; é uma reflexão sobre as prioridades, valores e desafios enfrentados por gerações inteiras. À medida que a realidade econômica se torna cada vez mais complexa, a sociedade precisa encontrar soluções inovadoras que equilibrem as necessidades da população jovem e as do envelhecimento, criando um ambiente onde todos possam prosperar.
A você, leitor, o que pensa sobre essa crise? Como a sua realidade se relaciona com essa questão? Sinta-se à vontade para compartilhar seus pensamentos e experiências. O diálogo é essencial para evoluirmos juntos em busca de soluções.