A Queda de Um Ditador: Um Marco na Luta pela Democracia
Em 5 de agosto, após semanas de intensos protestos estudantis, Bangladesh, o oitavo país mais populoso do mundo, viu a queda de sua primeira-ministra, Sheikh Hasina. Em meio a guerras em países como a Ucrânia e Gaza, a resignação repentina de Hasina, seguida de sua fuga para o exílio, passou despercebida por muitos, mas seu impacto pode ser profundo.
Um Panorama Político Complexo
Sheikh Hasina, filha do líder da independência e primeiro presidente do Bangladesh, ocupou o cargo de primeira-ministra de 1996 a 2001 e novamente a partir de 2008, governando com crescente autoritarismo e determinação. Durante seus mandatos, ela controlou o sistema judiciário, as agências governamentais e a polícia, criando um ambiente de opressão que silenciou a mídia, perseguiu opositores e corrompeu as tradições políticas que sustentavam eleições razoavelmente livres e justas. Nas eleições de 2014, devido às táticas de intimidação de Hasina, boa parte da oposição optou por boicotar a votação, acelerando a transição do país para a autocracia.
A Revolta da Sociedade Civil
Apesar da repressão crescente, a sociedade civil de Bangladesh não ficou calada diante das detenções e desaparecimentos. Em janeiro de 2024, com a perspectiva de um novo mandato de Hasina em uma eleição injusta (boicotada mais uma vez pela oposição), os protestos populares ganharam força. Em junho, a tensão explodiu. Um assunto que parecia trivial, a reinstauração de um sistema de cotas para empregos governamentais que favorecia a base política de Hasina, levou estudantes universitários às ruas, revoltando-se contra um sistema de “divisão de espólios.”
- A resposta de Hasina foi brutal: seu partido mobilizou suas tropas e a polícia e o exército foram acionados.
- Nos meses seguintes, a onda de protestos resultou em centenas de civis mortos e milhares de feridos e presos.
A brutalidade do governo transformou um movimento local em uma campanha nacional de desobediência civil contra a tirania e a corrupção. Percebendo que havia perdido o apoio militar, Hasina então fugiu para a Índia.
As Semelhanças com Outros Regimes
Embora a derrubada de um ditador como Hasina tenha parecido um trabalho mais simples no Bangladesh em comparação a outros países, é importante notar que muitos regimes autocráticos recentes se moldaram de forma semelhante. Assim como em países como El Salvador, Hungria, e Turquia, líderes corruptos têm erodido as instituições democráticas, estabelecendo regras autoritárias sob o pretexto de eleições multipartidárias. O controle sobre a narrativa e as opções eleitorais tem levado a uma nova onda de autoritarismo global.
Esses regimes “autoritários competitivos”, como os denomina Steven Levitsky e Lucan Way, desafiam a compreensão tradicional da democracia. O que premia a permanência desses governos é uma ironia: enquanto as elites dominantes se recusam a se comprometer com normas constitucionais, a população em geral resiste à completa eliminação das liberdades individuais.
O Estado Atual da Democracia no Mundo
O cenário global para a democracia é preocupante. Extremismos políticos, polarização social, e desconfiança estão em ascensão, mesmo em democracias consolidadas. Contudo, vislumbres de esperança surgem por meio de lutas populares em locais como Venzuela e Polônia, onde as vozes democráticas estão emergindo novamente, e de movimentos que desafiaram a tirania. Em diversos países, como na recente vitória da oposição em Mali e do movimento estudantil em Bangladesh, a resistência se fortalece. É possível mudar essa trajetória?
A Luta Contra o Populismo Autoritário
As lições do passado revelam que os atuais autocratas não são invencíveis. Muitas vezes, eles dependem de eleições, ainda que profundamente viciadas, para manter uma fachada de legitimidade. No entanto, essa dependência é uma fraqueza que pode ser explorada. O fortalecimento de frentes opositoras, apoiadas por democracias liberais, pode reverter a tendência de retrocesso democrático que se observa em várias partes do mundo.
A luta não é apenas externa, mas interna também. É fundamental que os líderes democráticos fortaleçam suas instituições e a confiança nas mesmas, promovendo um ambiente onde pluralidade e liberdade sejam valorizadas. O enfrentamento ao populismo não é apenas a rejeição de ideias, mas a construção de narrativas que unam a população em torno dos valores democráticos.
Como Retomar o Controle
Para reverter a maré da autocracia, é essencial envolver-se ativamente nesse processo. A comunidade internacional deve apoiar a oposição em regimes autocráticos, oferecendo recursos e treinamento, além de facilitar o diálogo durante momentos críticos. As eleições podem e devem ser vistas como oportunidades, não apenas para validar implantadores de regimes autoritários.
- Por exemplo, a mobilização pacífica em Bangladesh resultou na retirada de um líder opressor.
- As eleições, ainda que com desafios, podem oferecer novas oportunidades de reposição da democracia em países como a Índia e a Turquia.
Além disso, as democracias devem se unir para combater a desinformação, promovendo assistências para o desenvolvimento que incentivem um crescimento econômico saudável e um estado de direito. Esses esforços são cruciais para criar ambientes onde a democracia possa florescer novamente.
Um Novo Capítulo para a Democracia
A luta pela democracia é cada vez mais desafiadora, mas a possibilidade nunca pode ser descartada. Os eventos recentes em Bangladesh e Venezuela mostram que a mudança é possível e necessária. O relevante é que cada país deve aproveitar suas oportunidades eleitorais e favorecer a mobilização social.
Independentemente de sua complexidade, a demanda por liberdade e governança responsável é uma constante. O que devemos lembrar é que, após um longo período de retrocesso democrático, agora é o momento certo para revitalizar esses esforços. A tarefa não é apenas de um país, mas de um movimento global em direção à vitória da democracia. A pergunta que fica é: você está disposto a se engajar nessa luta pela liberdade?