O biochar é um material sólido altamente rico em carbono, gerado pela pirólise de biomassa, e reconhecido por seu potencial de fixação de carbono.
Em 2023, um estudo da Universidade de Massachusetts, financiado pela Fundação Nacional de Ciências dos EUA, revelou que a erosão do solo no meio-oeste americano é cerca de 10 mil vezes superior às taxas anteriores ao advento da agricultura. Contudo, a erosão do solo não é um problema exclusivo dos Estados Unidos; no Brasil, a situação é igualmente preocupante.
De acordo com investigações da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), estima-se que, apenas nas áreas de pastagens degradadas do país, existam 28 milhões de hectares que poderiam ser utilizados para a agricultura se tecnologias apropriadas fossem aplicadas.
Desafios Globais de Controle de Solo
Além dos dados nacionais, um relatório da Organização das Nações Unidas de 2022 sinalizou que até 40% do solo global está moderadamente ou severamente degradado. Se as práticas prejudiciais, como o desmatamento e a superexploração da terra, persistirem, essa cifra pode atingir impressionantes 90% até 2050.
“Devemos reconsiderar a agricultura moderna para garantir sua sustentabilidade a longo prazo”, disse Kathryn Radovan, que é cofundadora da Terra Vera, uma empresa localizada em Albuquerque, Novo México, focada em tecnologias que promovem uma agricultura mais sustentável.
Ela observa que estamos presos em um ciclo difícil: a demanda por alimentos supera a oferta, levando os agricultores a utilizar produtos químicos nocivos, o que resulta em resistência e redução da produtividade. Essa situação contribui para mudanças climáticas exacerbadas que afetam a saúde pública e a biodiversidade.
De acordo com Kathryn, as mudanças climáticas são acentuadas pelo uso excessivo de produtos químicos, resíduos plásticos e emissões provenientes da produção e uso de pesticidas e fertilizantes. A maioria dos produtos agrícolas comercializados contém ingredientes que visam prolongar sua durabilidade, mas prejudicam o solo.
Hoje, o biochar é popularmente reconhecido como um aditivo para jardinagem doméstica.
“Você pode se perguntar por que um agricultor optaria por produtos químicos sintéticos, logo os que são prejudiciais ao meio ambiente”, pondera Kathryn. “Existem abordagens biológicas mais sustentáveis, mas frequentemente são menos eficazes e mais caras, tornando a sua adoção financeiramente complicada para muitos agricultores”.
Entendendo o Biochar
Thor Kallestad, CEO da Myno Carbon, uma empresa no estado de Washington que produz biochar, explica que a degradação do solo ocorre porque removemos o carbono e saturamos o solo com fertilizantes químicos. O biochar se destaca como uma solução, sendo uma forma estabelecida de carbono que pode persistir por séculos.
“Há uma nova conscientização na agricultura sobre a interconexão entre a saúde do solo, das plantas e dos negócios, e o biochar está no centro dessa discussão”, afirma Kallestad. “Adicioná-lo ao solo promove a retenção de nutrientes e água, além de restabelecer o microbioma, o que é essencial para reverter a degradação do solo,” enfatiza.
Superando Desafios no Uso do Biochar
Para Kallestad, o maior entrave para a adoção do biochar reside nos incentivos econômicos e na escala de produção. “Produtos climáticos como o biochar são superiores, mas competem contra séculos de práticas estabelecidas em um setor dominado por fósseis”, acrescenta.
A ausência de um mercado eficiente de precificação de carbono limita o crescimento do biochar, mesmo quando os fornecedores estão na frente das soluções para remoção de carbono. “Se um preço justo fosse estabelecido para a poluição por carbono, o biochar teria um aumento significativo em sua participação de mercado”, argumenta.
O Potencial e Usos do Biochar
Nos dias de hoje, o biochar é melhor conhecido como um suplemento útil para jardinagem, mas suas aplicações vão muito além disso. “O biochar pode ser um aliado no setor agrícola, aumentando a eficiência do uso de nutrientes de diversos fertilizantes, tanto orgânicos quanto sintéticos, e ainda podendo diminuir o consumo de água na irrigação”, revela Kallestad.
A indústria da construção também oferece uma grande oportunidade para o biochar. Com a previsão de que a produção de cimento aumentará significativamente nas próximas décadas, utilizando o biochar podemos melhorar a durabilidade do cimento e sequestrar carbono de maneira eficaz.
Thor Kallestad acredita que a produção de biochar nos EUA tem o potencial de remover mais de um bilhão de toneladas de CO2.
Impacto na Restauração Ambiental
A restauração ambiental tornou-se uma necessidade urgente e frequentemente depende de carvão ativado à base de carvão. Entretanto, várias pesquisas demonstram que o biochar é mais eficiente e econômico na remoção de poluentes emergentes, como PFAS, tornando-se uma alternativa mais viável.
Estudos anteriores, como um publicado pela Escola de Meio Ambiente de Yale em 2014, demonstraram que o biochar, quando feito de plantas ou até mesmo de esterco, pode retirar mercúrio das emissões de usinas e limpar solos contaminados. O desafio, porém, continua sendo a produção em larga escala do biochar para enfrentar a crise climática.
O Que Esperar dos Próximos Anos
Estamos no processo de estabelecer uma nova infraestrutura com a criação de Instalações de Remoção de Carbono (CRFs), que trabalharão na produção de biochar em larga escala, com a expectativa de remover permanentemente cinco milhões de toneladas de CO2 anualmente. Essa iniciativa promete resolver a questão da escalabilidade que a indústria de biochar enfrenta atualmente.
“O mercado de biochar está em crescimento rápido, com previsão de aumento de cerca de 15% ao ano na próxima década”, destaca Kallestad, refletindo um otimismo genuíno sobre o futuro desse material.
Nos próximos anos, embora a adoção do biochar possa ser mais lenta em certos setores, como o farmacêutico, espera-se que novos regulamentos e a confirmação científica dos benefícios do biochar em áreas de restauração ambiental agucem o interesse e catalisem essa transformação.
Com uma elevada demanda de mercado, a produção de biochar nos EUA pode eliminar mais de um bilhão de toneladas de CO2 anualmente e ajudar a prevenir mais cinco bilhões, propiciando uma enorme contribuição para a remoção de carbono na agricultura e em outros setores.
“A solução que o biochar representa não é das mais complexas em termos tecnológicos, mas oferece benefícios adicionais que vão além do controle climático”, afirma Kallestad. “Para cada unidade de biochar produzida, conseguimos remover duas unidades de CO2 da atmosfera”. Isso demonstra claramente o impacto positivo que esta tecnologia pode ter sobre nosso ambiente e a necessidade urgente de considerar soluções como o biochar dentro de nossa estrutura agrícola e econômica.
Por Jennifer Kite-Powell, colaboradora sênior da Forbes dos EUA. Com foco em inovação, ciência e sustentabilidade, também apresenta o podcast Tiny Little Victories.
