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O que Trump pretende com as novas tarifas?
Uma pergunta que paira no ar é: qual a real intenção de Donald Trump ao implementar um aumento nas tarifas sobre as importações? Os agricultores dos Estados Unidos, historicamente, foram fervorosos apoiadores do presidente, mas essas novas taxações fecharam a porta para um dos maiores mercados consumidores, a China, algo que gera perplexidade. O que está por trás dessa decisão?
A engrenagem da dívida americana
Antes de chegarmos a uma resposta, é vital considerar que a dívida nacional dos EUA alcançou impressionantes US$ 36 trilhões (equivalente a R$ 210,7 trilhões). Além disso, o dólar, como moeda de reserva mundial, promove uma influência significativa nas importações, tornando desafiador o crescimento da indústria local. Isso resulta em empregos perdidos e em um crescimento estagnado do PIB.
Adicionalmente, a dívida crescente dos EUA tem gerado um déficit comercial alarmante. No último ano, o país se destacou como o maior importador global, totalizando cerca de US$ 4,1 trilhões (R$ 24 trilhões) em importações. Esse cenário eleva consideravelmente os gastos com juros da dívida, uma questão que precisa ser urgentemente abordada.
A luta contra a espiral de gastos
A estratégia do presidente parece ser, antes de tudo, quebrar esse ciclo de crescimento descontrolado de gastos. A Lei de Ferguson sugere que, quando um país gasta mais em juros da dívida do que em sua defesa, há um risco real de um declínio econômico e cultural. Portanto, Trump está, sem dúvida, tentando reverter o déficit, aumentando a arrecadação através desses novos impostos sobre importações.
Há também a possibilidade de que o presidente esteja buscando provocar uma leve crise econômica, com a intenção de facilitar cortes nas taxas de juros pelo Sistema de Reserva Federal (Fed), permitindo assim a renegociação da dívida existente. O juros médio atual da dívida está em 3,3%, enquanto a taxa básica gira em torno de 4%. Impressionantes 75% dessa dívida necessitarão de renegociação neste mandato.
Reindustrialização: sonho ou realidade?
A questão que não quer calar é: Trump está de fato promovendo uma reindustrialização? Embora o presidente tenha mencionado esse tema, a realidade é que a reindustrialização é um processo demorado, que pode levar décadas para se consolidar. A criação de novas instalações industriais ocorre, em média, em um horizonte de 10 anos. Isso significa que, se Trump permanecer no cargo, as consequências de suas políticas talvez se façam sentir apenas a longo prazo. Contudo, sua inelegibilidade torna essa perspectiva incerta.
Reflexões finais
Portanto, as movimentações de Trump com o tarifaço parecem ser impulsionadas por uma necessidade urgente de controlar a dívida e aumentar a arrecadação, mesmo que isso interfira em mercados-chave como o da China. A busca por soluções a curto e longo prazo destaca a complexidade do atual cenário econômico dos EUA. Isso levanta uma importante reflexão: quais serão as consequências dessas decisões sob o ponto de vista da política interna e externa americana?
As escolhas de Trump vão além de simples medidas fiscais; estão entrelaçadas com visões de longo prazo sobre a economia americana e seu papel no mundo. E assim, a história continua a ser escrita, enquanto economistas e cidadãos aguardam as próximas jogadas desse tabuleiro global.
* Lygia Pimentel é médica veterinária, economista e consultora para o mercado de commodities. Atualmente é CEO da AgriFatto. Desde 2007, atua no setor do agronegócio, ocupando posições como analista de mercado na Scot Consultoria, gerente de operações de commodities da XP Investimentos, e chefe de análise de mercado de gado de corte na INTL FCStone.
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