Recuperação das Ações da Vale: O Caminho Para a Confiança do Mercado

As ações da Vale (VALE3) estão dando sinais promissores de recuperação, após uma queda expressiva de 23% que ocorreu em 2024, a mais acentuada desde 2016. Até agora, com uma valorização de quase 6% este ano, a empresa começa a se recuperar de um período turbulento marcado por eventos como as tragédias de Mariana e Brumadinho, bem como as mudanças na administração da mineradora. Analistas e gestores acreditam que os piores momentos podem ter ficado para trás.

Um Novo Horizonte: A Fala do CFO

Marcelo Bacci, atual vice-presidente financeiro e de relações com investidores da Vale, destacou em uma entrevista que muitos dos riscos que antes preocupavam os investidores já não estão mais presentes. Ele comentou sobre o recente programa de recompra de ações, afirmando que a decisão foi tomada após avaliar que o preço das ações, neste momento, representa um bom investimento.

“Não cabe a nós, como gestores da companhia, afirmar se o preço da ação é bom ou ruim. No entanto, acreditamos que a recompra das ações é uma alocação de capital interessante, considerando a situação atual”, afirmou Bacci durante sua participação no InfoMoney Entrevista.

Aperfeiçoando a Competitividade

Bacci, que assumiu o cargo de CFO da Vale em dezembro, traz ampla experiência da Suzano, onde atuou por mais de uma década. Um dos focos de sua gestão é garantir que a Vale recupere sua competitividade e melhore seus indicadores operacionais, como custos e volumes, que já mostraram avanços significativos em seu último balanço.

• Redução de custos em dois dígitos no quarto trimestre de 2024.
• Aumento da produção com a entrada de novas operações de menor custo.

“É crucial que a companhia mude sua forma de se relacionar com stakeholders e trabalhe incessantemente para melhorar sua reputação”, sublinhou o executivo, enfatizando que fortalecer a imagem da empresa é uma prioridade a ser perseguidos.

Compromissos Financeiros e Desafios Futuros

Ainda há questões financeiras a serem resolvidas, especialmente ligadas aos compromissos de reparação das tragédias de Mariana e Brumadinho, que devem continuar gerando saídas significativas de caixa nos próximos anos. Bacci destacou que, embora esses custos devam diminuição ao longo do tempo, eles ainda terão impacto no fluxo de caixa da Vale nos anos vindouros.

Recentemente, a Vale firmou um acordo envolvendo empresas como a Samarco e a BHP, além de órgãos públicos, para a realização de um pagamento de R$ 170 bilhões em reparações relacionadas ao rompimento da barragem do Fundão, em Mariana. Destes, 26 dos 49 municípios elegíveis para participar do acordo já concordaram com os termos;

Bacci comentou a respeito: “Embora isso possa causar incertezas, não esperamos grandes impactos nos desembolsos previstos. Cada um desses municípios assume seus riscos ao não aderirem ao acordo, que foi elaborado em conjunto com o governo federal e o STF”.

Relações com o Poder Público

Uma das novidades na gestão de Bacci é a aproximação com o governo. Ele afirmou que a Vale e os órgãos públicos já estão alinhados em cerca de 90% dos tópicos discutidos, reforçando que a comunicação e a colaboração são essenciais para o avanço da companhia e do setor no Brasil.

Ele relembrou que o licenciamento ambiental, embora técnico, também necessita de um entendimento comum. A recuperação da relação com o governo é vista como um benefício tanto para a Vale quanto para a economia do país.

Perguntas e Respostas com Marcelo Bacci

A Vale manteve a disciplina nos custos ao longo de 2024. É viável continuar essa tendência em 2025?

“Sim, a trajetória de redução de custos que já se intensificou ao longo de 2024 vai continuar. Isso ocorre devido ao aumento gradual dos volumes produzidos, o que ajuda a diluir os custos fixos. A estabilidade nas operações também contribui para que a Vale tenha um desempenho otimizado”, explicou Bacci.

Quais são as expectativas para a produção de minério de ferro em 2025?

“A meta para este ano é produzir até 335 milhões de toneladas. No entanto, temos essa meta com flexibilidade. Em vez de depender apenas da produção, baseamos nossas vendas na demanda do mercado e na precificação dos diferentes tipos de minério que oferecemos, priorizando sempre o retorno para a empresa”, esclareceu o CFO.

Como a Vale está se preparando para a demanda global por minério de ferro, especialmente diante das tarifas comerciais dos EUA?

“Embora o crescimento na China esteja reduzido, essa demanda permanece estável, e outras regiões, como Índia e Sudeste Asiático, estão crescendo. Isso ajuda a equilibrar o mercado. Portanto, apesar das preocupações com as tarifas, acreditamos que o mercado está em equilíbrio no que diz respeito ao consumo de minério”, respondeu Bacci.

O programa de recompra de ações está atrelado à dívida da companhia. Como isso funcionará na prática?

Bacci explicou que o programa de recompra está ativo e equivale a cerca de 3% do capital da Vale. No entanto, a recompra não será realizada diariamente; as decisões serão baseadas na observação do mercado e na liquidez das ações, sem comprometer outras obrigações financeiras da empresa.

Com a entrada de novos concorrentes no mercado brasileiro, como a Vale vê essa dinâmica?

“Estamos tranquilos. A Vale possui um conhecimento aprofundado da realidade brasileira, e estamos prontos para competir. Temos uma estratégia planejada para o longo prazo que não será afetada pelas ações de nossos concorrentes”, assegurou Bacci.

Reflexões Finais

A recuperação da Vale é um sinal otimista em um mercado que frequentemente promove incertezas. Com a liderança de Marcelo Bacci e seus planos de manter a disciplina em custos, aumentar a produção com flexibilidade e estabelecer boas relações com stakeholders e o governo, a empresa parece estar no caminho certo. À medida que as ações da Vale se firmam em um novo patamar, fica a expectativa: qual será o próximo passo dessa gigante mineradora diante das demandas do mercado e desafios futuros?

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