domingo, agosto 3, 2025

Desvendando as Ilusões da Grande Potência da Índia: O Que Está em Jogo?


A Ascensão da Índia Como Potência Global: Desafios e Perspectivas

A partir do início deste século, os Estados Unidos têm buscado ajudar a Índia em sua jornada rumo ao status de potência global. Desde a presidência de George W. Bush, Washington firmou um acordo importante com Nova Délhi, apoiando o programa nuclear civil da Índia, apesar do histórico polêmico de desenvolvimento de armas nucleares do país. Durante o governo Obama, ambos os países iniciaram uma cooperação na área de defesa, objetiva de potencializar as capacidades militares indianas. Sob a administração de Donald Trump, foi iniciado um compartilhamento de inteligência sensível e o acesso a tecnologias avançadas. Já com Joe Biden, a Índia recebeu tecnologia sofisticada de motores de avião de combate. Cada uma dessas administrações contribuiu para uma cooperação diplomática, tecnológica e militar mais robusta, cumprindo a promessa de Bush de apoiar a ascensão da Índia como uma potência relevante no século XXI.

O Contexto Desta Aliança

A justificativa para essa parceria é clara: Washington busca superar o rancor da era da Guerra Fria, que havia separado essas duas grandes democracias. Com o fim da União Soviética, não havia mais motivos para que India e EUA estivessem em lados opostos. A imensa diáspora indiana nos Estados Unidos solidificou conexões humanas significativas, enquanto as reformas econômicas adotadas na Índia abriram as portas para investimentos americanos. Nesse cenário, oficiais de ambos os países perceberam interesses comuns, como o combate ao terrorismo islâmico e os perigos da ascensão da China, na missão de proteger a ordem internacional liberal. Assim, Washington confiou que uma Índia mais forte também tornaria os Estados Unidos mais fortes.

A Busca pela Multipolaridade

No entanto, nem sempre as visões da Índia e dos Estados Unidos coincidem. Nova Délhi rejeita a ideia de que Washington seja a única superpotência global. Em vez disso, busca um sistema internacional multipolar, onde a Índia possa se posicionar como uma verdadeira grande potência. Seu objetivo é limitar não apenas a China, como também qualquer país que aspire uma hegemonia unilateral, incluindo os próprios Estados Unidos.

A Índia argumenta que a multipolaridade é essencial para a paz global e seu próprio crescimento. Com isso, resguarda sua autonomia estratégica, evitando alianças formais e cultivando laços com adversários ocidentais, como Irã e Rússia. Contudo, essa estratégia pode se mostrar irrealista. Apesar do crescimento econômico nas últimas duas décadas, a Índia não consegue se equiparar à China, nem mesmo em longo prazo. Embora se projete que se torne uma grande potência econômica até a metade do século, ficará atrás não só da China, mas também dos Estados Unidos, especialmente em termos de capacidades militares.

Desafios Internos e a Democracia em Risco

A ascensão da Índia não é isenta de desafios. O país enfrenta o risco de perder uma de suas principais fontes de força: sua democracia liberal. O crescente nacionalismo hindu poderá agravar tensões internas e complicar as relações externas, desviando recursos que deveriam ser usados para o fortalecimento militar e a projeção de poder. Essa mudança política também pode enfraquecer a ordem internacional baseada em regras que beneficiou a Índia.

Embora a Índia esteja se preparando para se tornar uma grande potência, suas fraquezas internas e a traição de seus princípios democráticos poderão limitar sua influência global. Mesmo que a Índia se torne a terceira ou quarta maior economia do mundo, o fosso em indicadores de desenvolvimento pode fazer com que sua população não aproveite uma elevação significativa no padrão de vida, comprometendo sua produção de poder nacional.

Olhares para o Futuro da Índia

A trajetória de crescimento da Índia será um dos fatores mais cruciais para que se torne um verdadeiro contrapeso à China. Setores como manufatura, pesquisa e desenvolvimento, e uma integração econômica mais robusta serão fundamentais. Porém, o crescimento precisa ser mais intenso: a Índia deve crescer a uma taxa anual de 8% durante os próximos 25 anos para se equiparar à economia chinesa, que ainda é mais forte.

Se a Índia crescer cerca de 6% anualmente ao longo dos próximos 20 anos, mas a China mantiver taxas entre 4 e 5%, a desigualdade entre as potências poderá se acentuar. O desafio é equivalente aos obstáculos que a Índia enfrenta no seu ambiente interno e em relação às suas políticas externas, cuja eficácia dependerá da capacidade de unir suas forças e de promover colaborações sólidas, especialmente com os Estados Unidos.

Cooperação Estratégica com os EUA

Para contra-atacar a influência chinesa, a Índia precisará da ajuda dos Estados Unidos. Apesar dos avanços nas relações bilaterais, a hesitação da Índia em formar parcerias mais estreitas e relutância em se afastar de sua estratégia de multipolaridade pode complicar essa dinâmica. A dependência de apoio externo frente à China será um tema recorrente na política externa indiana.

A relação entre Índia e EUA não deve ser baseada apenas em valores compartilhados, mas também em interesses mútuos. No entanto, se ambos os países continuarem a seguir caminhos mais autoritários, isso poderá corroer a base dessa aliança, colocando em dúvida a eficácia dessa parceria na contenção da China. Resta saber como essa dinâmica se desenrolará nos próximos anos

O Futuro de Uma Índia Grande e Liberal

Se a Índia não recuperar seu histórico de liberalismo, isso terá consequências não somente para o país, mas para o mundo. Uma Índia iliberal poderá não se tornar um farol de democracia, e, ao atuar de forma autoritária, pode prejudicar a ordem internacional que, por anos, buscou construir. A polarização dentro do país, inspirada pelo nacionalismo hindu, pode também intensificar conflitos regionais, diminuindo a capacidade de Nova Délhi de influenciar de maneira positiva em sua vizinhança.

Por fim, enquanto a Índia se prepara para um futuro incerto como uma grande potência, os desafios que enfrenta são complexos e interconectados. O equilíbrio entre suas aspirações de poder global e os riscos internos que ameaçam seu tecido democrático será a chave para sua relevância no cenário internacional. O mundo observa como a Índia moldará seu futuro, e o impacto dessa jornada ecoará em todo o planeta.

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