sexta-feira, novembro 21, 2025

Desvendando o Fracasso: Por que 75% das Fusões e Aquisições Não Deu Certo em 40 Anos?


Baruch Lev, Feng Gu

Fusões e Aquisições: Um Olhar Crítico Sobre o Cenário Atual

Recentemente, testemunhamos movimentações significativas no mercado global de fusões e aquisições. A Canadian Natural Resources adquiriu os ativos de xisto da Chevron por impressionantes US$ 6,5 bilhões, enquanto a Adnoc, dos Emirados Árabes Unidos, fechou a compra da Convestro por US$ 16,4 bilhões. Além disso, a PepsiCo absorveu a Siete Family Foods por US$ 1,2 bilhões e a Marsh McLennan arrematou a McGriff Insurance por US$ 7,8 bilhões. Outra grande movimentação foi a compra da Arcadium Lithium pela Rio Tinto pelo valor de US$ 6,7 bilhões. Esses exemplos refletem apenas uma fração das fusões e aquisições que marcaram outubro de 2024.

Anualmente, nos Estados Unidos, o número de aquisições varia entre 1.200 e 1.500, alcançando até 5.000 transações em escala global, somando um impressionante total de cerca de US$ 2 trilhões em valor transacionado. As fusões corporativas têm um impacto direto em diversos stakeholders: acionistas, funcionários, clientes, fornecedores e a economia em geral, influenciando desde a concorrência até a produtividade.

O Paradoxo da Aquisição: Um Alto Índice de Fracasso

Surpreendentemente, cerca de 70-75% das aquisições não atingem os resultados esperados, conforme revelam nossas análises rigorosas de mais de 40.000 transações ao longo dos últimos 40 anos. Muitas vezes, essas aquisições não conseguem cumprir com seus objetivos, como o aumento do crescimento das vendas, redução de custos ou a manutenção do valor das ações da empresa compradora.

Esta realidade não é exclusividade de nossa análise. O renomado especialista em avaliação da NYU, Aswath Damodaran, ressaltou que as aquisições corporativas podem ser vistas como “a mais destrutiva ação de valor que uma empresa pode adotar.” Um estudo que analisou adquirentes em rivalidade constata que, nos três anos seguintes à tentativa de aquisição, as ações das empresas que não conseguiram comprar superaram aquelas que realizaram a compra entre 20% e 25%.

Ademais, nossos dados sugerem uma tendência preocupante: uma “curva de aprendizado reversa”, onde a taxa de falhas em fusões e aquisições parece aumentar ao longo do tempo. Essa dinâmica levanta questões sobre a eficácia dos processos de aquisição que as empresas estão utilizando.

Desvendando os Fatores Críticos do Fracasso em Aquisições

Com base em um modelo estatístico que abrange 43 variáveis distintas, identificamos diversos fatores que prejudicam o sucesso das aquisições. Compreender esses pontos críticos é essencial para que as empresas possam contorná-los e melhorar os resultados de suas M&A.

A Pressão pela Aquisição

As aquisições, que envolvem a incorporação de uma empresa externa, assemelham-se a transplantes de órgãos humanos dado o seu alto nível de risco e complexidade. Médicos geralmente buscam alternativas antes de optar por um transplante, entretanto, muitos CEOs parecem ignorar essa abordagem cautelosa. Ao enfrentarem a pressão de investidores e a necessidade de intervir em momentos de crise, eles podem na verdade se precipitar em decisões que não são estratégicas.

Alternativas viáveis incluem o desenvolvimento interno de capacidades, como inovações em produtos e parcerias, que muitas vezes oferecem retornos sobre investimentos melhores que as aquisições. Contudo, na ânsia de realizar uma fusão, executivos podem acabar escolhendo alvos inadequados, inflacionando custos e falhando na integração.

Alvos Problemáticos que Degradam Valor

Uma parte crucial da nossa análise envolveu a identificação de atributos dos alvos de aquisição que impactam negativamente os resultados. Aqui estão alguns exemplos:

  • Alvos grandes: A integração de empresas de grande porte é complexa, envolvendo a realocação de funcionários e a modificação de processos operacionais, o que aumenta substancialmente a probabilidade de insucesso.
  • Aquisições conglomeradas: Estas representam quase 40% de todas as aquisições e, geralmente, carecem de justificação econômica, pois operam em setores diversos, sem sinergia relevante.
  • Alvos operacionalmente fracos: A crença de que é possível revitalizar empresas à beira da falência raramente se concretiza, levando a resultados desastrosos.

Incentivos Execultivos Desalinhados: Um Contexto Prejudicial

Uma grande parte das falhas em aquisições está diretamente relacionada à estrutura de incentivos dos executivos. Muitas empresas oferecem bônus significativos a seus CEOs apenas pela conclusão de uma aquisição, independentemente de seu sucesso. Isso cria um ambiente em que o завершamento do negócio é priorizado em detrimento da eficiência real que a aquisição poderá trazer.

Adicionalmente, observamos que executivos que realizam múltiplas aquisições tendem a permanecer no cargo por mais tempo, como se isso pudesse ser visto como uma espécie de “seguro de mandato”. Essa dinâmica pode ser perigosa, especialmente quando consideramos que a taxa de falhas em aquisições é alarmantemente alta. É crucial que as empresas mudem seu foco, passando de um modelo que recompensa a finalização para um que prioriza o sucesso das integridades adquirentes.

A Importância da Diligência e Pesquisa

As repercussões das fusões e aquisições não se limitam ao aluguel corporativo; elas impactam a vida de pessoas, o estado da economia e a riqueza dos investidores. Dado o escandaloso índice de falhas, os executivos precisam aumentar sua diligência e pesquisa prévia antes de fechar uma compra, estimulando assim melhores resultados e uma reversão nas altas taxas de falha que permeiam o setor.

São tempos de reflexão e adaptação. Quiz acima de tudo, é importante que as organizações compreendam que a solução para suas dificuldades não deve vir de decisões apressadas, mas de iniciativas que busquem sustentabilidade e crescimento real e contínuo.

Este artigo foi publicado originalmente no Fortune.com.

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