segunda-feira, abril 28, 2025

Desvendando os Preconceitos: A Luta das Migrantes Brasileiras em Portugal Sob o Olhar da ONU


O Imigrante Invisível: Como os Estereótipos Afetam Mulheres Brasileiras em Portugal

A Organização Internacional para as Migrações (OIM) emitiu um alerta sobre o persistente estereótipo sexual que envolve as mulheres brasileiras que buscam uma nova vida em Portugal. Essa questão foi abordada no "Relatório sobre Migrações Mundiais 2024", que traz à tona os desafios enfrentados por essas imigrantes.

O Estigma da Hipersexualidade

Segundo o relatório da OIM, as brasileiras em Portugal enfrentam estigmas que as rotulam como trabalhadoras do sexo, um preconceito que “acaba expondo essas mulheres a riscos elevados de assédio sexual e violência de gênero”. Esse cenário não é apenas um relato isolado, mas uma realidade contínua que influencia diretamente a vida dessas mulheres.

Vasco Malta, chefe da missão da OIM em Portugal, destaca que essa cultura de preconceito cria barreiras significativas na busca por habitação adequada, prejudicando a integiração dessas mulheres na sociedade. Isso as torna vulneráveis à xenofobia e ao racismo, dificultando ainda mais sua estadia no país.

O Projeto "Brasileiras Não Se Calam"

Mariana Braz, uma psicóloga que vive em Portugal há sete anos, é uma das vozes que se levantam contra esse estigma. Em 2020, ela lançou o projeto "Brasileiras Não Se Calam", ao lado de outras mulheres. A iniciativa utiliza uma página no Instagram para coletar relatos de assédio e discriminação, criando uma rede de apoio para aquelas que enfrentam essas situações.

Mariana relata que o projeto já recebeu centenas de histórias de brasileiras em vários países, incluindo Portugal, Espanha e até mesmo Japão. “Esse problema não é apenas pessoal; ele é estrutural. Compartilhar essas experiências ajuda a aumentar a conscientização sobre as violências que muitas mulheres enfrentam”, comenta.

Principais Fatos Sobre o Projeto:

  • Coleta de relatos de assédio e discriminação.
  • Criação de uma comunidade apoiadora.
  • Abrangência internacional, com relatos de diversos países.

Desafios Cotidianos e Vulnerabilidades

A realidade das brasileiras imigrantes vai além do estigma. Segundo Mariana, a discriminação pode ser vista em diferentes contextos, como transporte público, universidades e, principalmente, nas dificuldades de acessar moradia. Um exemplo preocupante é a prática de proprietários que evitam alugar para brasileiros, muitas vezes declarando isso abertamente.

“Apesar de ser ilegal, é comum recebedores de ligações se recusarem a alugar para brasileiros. Isso resulta em uma situação de extrema vulnerabilidade”, explica. Muitas mulheres enfrentam a exigência de cauções altíssimas ou precisam se deslocar para áreas mais afastadas do trabalho, aumentando suas dificuldades de integração.

Um relato marcante que Mariana compartilha é o de uma adolescente que sofreu assédio sexual na escola. Quando se dirigiu à direção da escola para relatar o ocorrido, foi responsabilizada por ser brasileira e por usar calças jeans. Este caso ilustra como o preconceito pode perverter a lógica e silenciar as vítimas.

Um Legado de Preconceito

Os estereótipos que afligem as brasileiras têm raízes profundas na história. Segundo Mariana, eles foram moldados ao longo dos séculos, desde a colonização do Brasil. Esse legado se reflete em uma visão distorcida do corpo feminino, que é muitas vezes visto como "exótico" e disponível para exploração.

Vasco Malta ressalta que a imigração brasileira nos anos 1990 também exacerboul essa percepção negativa. A crise financeira no Brasil levou muitos jovens a buscarem oportunidades em Portugal, e a associação de brasileiros à pobreza e à marginalidade contribuiu ainda mais para esses estigmas.

O Caso das "Mães de Bragança"

Um episódio que ficou marcado na memória coletiva foi o movimento das "Mães de Bragança", em 2003. Mulheres portuguesas organizaram-se para exigir a expulsão de brasileiras envolvidas em atividades sexuais em bordéis. A repercussão foi tamanha que a história fez capa de jornais de renome internacional, perpetuando a associação entre mulheres brasileiras e prostituição.

Vasco Malta lembra que esse episódio evidencia que o preconceito está entranhado na cultura portuguesa desde aquela época e se mantém vivo mesmo nos dias de hoje.

Demais Iniciativas e Apoios

Com uma base de mais de 54 mil seguidores, a iniciativa "Brasileiras Não Se Calam" tomou proporções significativas, evoluindo para uma rede de apoio onde oferecem assistência jurídica e psicológica, além de cursos e treinamentos. O grupo também planeja lançar um podcast que dará voz a mulheres cujas experiências ainda são marcadas por estigmas por conta de sua nacionalidade.

Embora a OIM encaminhe os relatos recebidos às autoridades competentes, ainda existe uma barreira significativa na hora de denunciar. “Muitas mulheres acreditam que não vão ser ouvidas, que o processo será muito burocrático e, por isso, acabam aceitando a discriminação”, observa Mariana.

Desafios Exclusivos das Mulheres Imigrantes

As mulheres enfrentam uma série de desafios além dos homens migrantes, resultando em uma integração social mais difícil. Vasco Malta menciona que, muitas vezes, as mulheres se encontram em situações de violência de gênero e, sem fluência no idioma local, têm dificuldade de buscar ajuda.

Além disso, o acesso ao mercado de trabalho qualificado e a serviços de saúde são apontados como obstáculos cruciais que intensificam a vulnerabilidade dessa população.

O "Relatório sobre Migrações Mundiais 2024" também analisou o impacto da pandemia de COVID-19 sobre os fluxos migratórios. Portugal se destacou por sua abordagem, regularizando temporariamente o status de todos os migrantes para amenizar o impacto da crise.

Um Olhar Futuro

Diante de um quadro tão complexo, é essencial que continuemos a dialogar sobre essas realidades com empatia e consciência. As histórias de imigrantes, em especial das mulheres, merecem ser ouvidas e respeitadas. Elas não são apenas números em estatísticas; são seres humanos com sonhos, desafios e uma rica bagagem cultural.

Estamos em um mundo em constante transformação, e é possível construir um espaço mais justo e igualitário para todos. Que as experiências de vida de brasileiros e brasileiras imigrantes sejam reconhecidas e que possamos, como sociedade, trabalhar para derrubar estigmas e preconceitos, promovendo um futuro onde todos tenham a chance de serem tratados com dignidade e respeito.

Agora, convidamos você a refletir sobre essas questões. Como você achou as histórias de mulheres brasileiras imigrantes? O que pode ser feito, em sua opinião, para ajudar a combater esses preconceitos? Compartilhe seus pensamentos e ajude a dar voz a essas narrativas.

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